29.12.08

god bless you j. nossiter for having changed my life!

chama-se "controverso branco" (cb), é de 2007 e produzido pela adega cooperativa de lagos. no rótulo verde da sua garrafa apresenta-se assim:
port. cb é marcante, corajoso e com uma atitude muito particular. produzido nas vinhas mais a sudoeste, o seu carácter revela a influência do clima marítimo e toda a frescura das castas malvasia fina e moscatel. cb revela-se amarelo cristalino, com notas de ananás fresco e coco que dominam no aroma, na prova é fresco, frutado e com a acidez certa. de origens distintas, é na cooperação que cb marca a diferença e assume o futuro. é um ponto de partida de uma realidade em mudança.
ingl. cb is fresh and fruity. originating from the most westerly vineyards in europe, its character is derived from the cold marine climate and the variety malvasia fina. pinespple and coconut aromas dominate, on the palate is fresh and with the right acidity. from the most westerly point of europe cb makes a bold statement that embraces the future while remaining true to its origins.

(post from a new me, o me nascido na e com a degustação do seu Mondovino)

the two dear old ladies

singapore mail

para os mais distraídos há um novo laço a enfeitar este blog

hoje o mundo acordou assim

24.12.08

natal de 2008

cheguei a pensar em trazer-te uma flor (afinal foi no campo que ficaste a morar...) mas acabei por te deixar apenas as migalhas do pão com queijo fresco que comi durante o nosso semi-clandestino* tête à tête.


* já no final do piquenique não é que aparece o zé da maria amélia?

homem com chapéu em cemitério




mar

terra

23.12.08

boas melhoras!

nada se pode fazer para fugir ao natal já que o micro-organismo responsável pela doença se transmite sobretudo pela memória. de nada serve, portanto, fugir das cidades ou fechar-se em casa com portas e janelas fechadas, telefonias e televisões desligadas, sem jornais, amigos ou parentes. todos os humanos na plena posse das suas faculdades psíquicas, brights ou supers, são infectados nesta altura do ano.
a doença, que afecta sobretudo as pessoas com menos defesas ou mais anos, aumenta-lhes a ausência dos que já partiram e a presença do seu próximo lugar vazio. não sendo uma infecção bacteriana, os antibióticos não servem para nada. o mais que se pode fazer, enquanto se espera pelo final do ciclo do virus, é ajudar o corpo a reajir naturalmente reforçando-o através de muito descanso, vinho de boa qualidade e algumas leituras, prosa de preferência. a música é desaconselhada.

my blues (to a tune by PQz)

bab septa: o secular como sagrado


sob todos os aspectos por que o "olhe", foi este o filme que mais profundamente me impressionou durante o ano de 2008, um ano que para mim foi cheio de bom cinema. isto é, de cinema que (im)pressiona.

acho até que os professores, além de deverem ser obrigados a cumprir a avaliação, deviam também passar a ser obrigados a cumprir a exibição, nas suas aulas, de uma obra cuja natureza tem tanto de filme como de evangelho.

21.12.08

jardim da estrela: a ilusão da redenção

depois de me deitar na relva, bem virada para o sol, a cabeça confortavelmente encostada à única árvore do jardim da estrela cujo tronco tem a mesma forma (ergonómica) da rocha da d.ana a que me encosto para ler o jornal nas manhãs de verão, o camião dos cachorros passou para segundo plano.
mas só depois de ter entrado bem dentro do mondovino - que trazia na carteira exactamente para ler na esplanada do café, é que a esplanada do camião saiu de cena.
fiquei sozinha com os filmes que nunca vi e com os vinhos que nunca provei deste jonathan nossiter que mais do que o sol no corpo tiveram o condão de me aquecer a alma.

jardim da estrela: de mal a pior

o velho café do jardim da estrela - onde eu sei que não se comia bem, se tinha de beber café em copos de plástico, e não se era particularmente bem tratado pelos empregados - fechou.
os frequentadores, entre os quais me incluo, tiveram esperança que o estaminé "abrisse com nova gerência", melhor serviço e pessoal mais friendly. mas passados alguns meses, a deterioração e vandalização do barracão cor de rosa já nos tinha desiludido. o que ninguém imaginava é que ele viesse a ser "substituido" por um camião de venda de cachorros e farturas (como os da 24 de julho) acopulado a um automóvel através de um fio ligado a um motor barulhento (a forma vermelha na imagem). para cúmulo do absurdo, a nova "instalação" dos dois veículos inclui uma "esplanada" virada para o lago, tal como acontecia na anterior.

AFAF 6: nozes e vozes

descanso dos diferentes festejos privados encarrapitada no balcão da pastelaria suiça, a saborear, devagar e pensativamente, uma noz da minha infância. ou melhor, a saborear a infância na minha noz. ao meu lado, uma senhora mendiga muito velhota que comia (salvo seja) um garoto e meia torrada, sorria frequentemente para mim.

AFAF 5: largo de são domingos

a minha intolerância à "tolerância", palavra e ideia central neste cartaz, afixado no largo de são domingos, não me impediu de lá festejar um dos momentos mais festivos da festa: um improvisado bailinho de rua dançado ao som da música tocada por uma "tuna" académica.
digo "tuna" porque os jovenzinhos da banda usavam todos capa e batina (traje com a qual não seria tolerante se não fosse a mistura das ginginhas com a diversidade cultural dos dançarinos e dançarinas).

AFAF 4: ginginhas com

AFAF 3: a receita de "giotto"

anotada no iphone (where else?), entre garfadas ao ar livre, na "taberna do chiado", onde aportei a carteira grande cheia de livros: atum, anchovas, tomate, azeitonas verdes, talvez salsa (era uma coisa verde sem muito sabor) tudo partido aos quadradinhos e colocado em cima de bocados de pão (que parecia torrado mas se apresentava molhado e que julgo ser o ingrediente, que tem o nome do pintor e dá o nome ao snack).

AFAF 2: o gozo dos livros

prazer de deambular, prolongadamente, de livraria em livraria (às vezes acho divertido não ir à FNAC). depois de muito folhear e ler-a-saltar, acabei por trazer:
os conselhos do califa, do antónio sérgio (!) para a júlia.
o livro dos rapazes (?!) para o francisco.
os desastres de sofia com ilustrações da vieira da silva (!) para a emília.
já sou uma adolescente (?) para a clara (!)
mondovino, do jonathan nossiter (sim o do filme doc com o mesmo nome), que nunca tinha lido e o orlando, da virginia wolf, lido e relido mas não "possuido".

a festa antes das festas (AFAF) 1: começo pouco promissor

a ideia era romântica: ir de eléctrico à baixa ver livros, muitos livros, e aproveitar para comprar alguns. o objectivo generoso: reforçar as auto-defesas de modo a tornar a minha pessoa mais resistente ao desgate físico e psíquico acarretados pelo natal.
mas o frio sofrido durante os 65 minutos de espera pelo eléctrico, seguido do perigoso desconforto da viagem, sem lugar sentado (mesmo em pé "lugar" era coisa que não havia naquele eléctrico) fizeram-me cair na realidade da estação do ano e do governo da cidade.

20.12.08

frase da noite

"não podemos nunca chegar à verdade toda porque somos parte dela"
(joão caraça na rádio 2)

16.12.08

"sou aquele rapaz madeirense"

trabalhou a maior parte da vida no continente. sempre com a pedra. mármore.
esteve um ano nos estados unidos e quando voltou a lisboa tudo tinha mudado. a mulher, a quem tinha passado uma procuração, tinha-lhe roubado tudo. uma vida inteira de de trabalho, doze horas por dia, com a pedra. tinha-lhe levado os filhos e começado a viver com outro homem. era o seu dinheiro, ganho durante anos e ano, sempre com a pedra, mármores, que agora os sustentava a todos. a ele tinha mandado para a rua, como um cão. viveu na rua e debaixo de uma ponte. mas o pior foi a decisão de os matar aos dois, ele cujo irmão tinha sido morto pela cunhada e pelo amante.
durante meses não teve dúvidas de que os ia matar. uma vez, no seguimento de uma coisa que lhe passou pelos olhos quando ela lhe chamou "cão" e o pôs na rua da sua própria casa, com uma mão agarrou-a pelos cabelos e com a outra agarrou na porta pronto a fechá-la com força de modo a separar a cabeça do corpo.
de regresso à madeira, e com ajuda dos pais, conseguiu recomeçar a vida. desta vez como pintor. a seu tempo, novamente em lisboa, arranjou outra mulher com a qual já vive há mais de um ano. é com ela que vai agora regularmente a fátima buscar a água benta que ela lhe prepara e dá a beber como terapia para os males que lhe ficaram do que foi "uma vida atribulada".

entendimento

falaste no medo de perder o sentido mantendo no entanto a consciência da sua evacuação. creio que percebi.

15.12.08

ensaio sobre a visão

é na e pela água que chega a redenção neste romance "português" transformado em filme "inglês" pelo cinema "brasileiro".

divertida a constante convivência entre o japonês e o inglês.

belíssimo o assomo, tão breve e distante, do cântico brasileiro.

espelho mágico

bastante no espírito do charme discreto da burguesia

muito (demasiado?) na letra aforístico- sentenciosa da agustina

no conjunto completa, absoluta e fantasticamente manoel de oliveira

concerto de natal com netos, violinos e violinhos

"domain field" by antony gormley (2004)



"the domain series
is an attempt to
separate the subtle
from the material body,
to abstract an attitude
and expose it
to light and space"

12.12.08

desaparecimento de blog

umas botas altas muito cavaleiras e todas cobertas de pregos reluzentes, avistadas nas pernas de uma jovem desconhecida, projectaram-me (ainda que ajudada por inspiração alheia) do foyer da gulbenkian para o circo de seurat.

depois foi só deixar o rodopio galopeante
das cores e geometrias misturarem-se ora com o ritmo da valsa esquecida ora com o movimento das danças de galante.

estava feita a noite. e, naturalmente, o caminho para o dia se refazer.

7.12.08

a alma do cravo



pois é joaninha bagulho ontem provaste aos "srs. couperains" deste mundo (e do outro claro está...) que não é tarefa impossível "dar alma a um cravo".

nós fomos testemunhas da força e da delicadeza com que dás "corpo-e-alma" ao teu cravo e, por acréscimo, ao nosso paredes.

testemunhas comovidas e agradecidas.

5.12.08

(des)promoção


- ... isso é porque o avô é imperador não é?

- qual "imperador" rapariga!? ele é é "embaixador".

- ou isso...




(imagem de uma foto de rosava)

miss daisy recomenda


a joana bagulho no sábado na ZdB

http://www.zedosbois.org/zdbmuzique/index.htm

3.12.08

hidroterapia para seniores

- oh professor hugo!
- sim Lisa...
- ... aquele senhor ali do fundo está a assoar-se para a água!

1.12.08

almalaika

fosse eu cristã e pensaria que eras um anjo; se budista acreditaria que eras uma bodhisatva; e como muçulmana sentiria que eras uma malak.
mas, sem uma visão sobrenatural do mundo que me levaria a colocar-te (e adorar-te) fora do reino do humano, limito-me a olhar-te - e a amar-te - com a certeza de que muito mais do que uma criança tu és, literal e absolutamente, a criança.

parabéns

muitos.

23.11.08

"free" will

depois do encontro, bastante fulgurante, que tive com a susan blackmore passei a dizer 'ocorre-me' em vez de 'eu penso'.

17.11.08

contas

"A Bright is a bright who wishes to be counted as such" is the official definition.
having been an enthusiastic bright for most of my life, why not be counted counted as such?
today, out of my own "free" will, I've officially become a Bright.
a propósito, e também para que não se perca, conto uma história passada com um amigo particularmente bright (mas que não sei se quer ser contado como tal) : no brilho da sua juventude, escreveu ao bispo da diocese onde em criança tinha sido baptizado (à revelia da sua vontade naturalmente) pedindo-lhe para retirar o seu nome da lista dos católicos pois não queria ser contado as such...

8.11.08

5.11.08

outra carta (desta vez pessoal) mas também recebida por via electrónica

As Kathy is in deep with the Democratic Party, we were in the inner
perimeter at the Obama rally last night (but very far from the stage). As
many of you know, I am sceptical about Obama/Biden and see all this through
the light of the Kennedy-era charisma- what with its let downs. For a
start, there is the big debt to be paid by 'Team Obama' to some big boys who
financed this show. See the article by the great Bill Moyers on that very
big stumbling block to real change which I sent to many of you. Still, the
experience was amazing. Obama has raised a lot of hope in a lot of people
and given a lot of people more dignity as well as made a lot of Chicagoans
very, very proud.

Scenes of people of all races and all national origins brought close to
tears was amazing. I know Il Duce, Hitler, Stalin, Mao and many other 'less
than desirable' leaders have been able to do the same thing, but the energy
and honest hope was very real. People talking as strangers to one another
was wonderful- something Americans have been notoriously bad at doing since
the emergence of the automobile society in the Truman-Eisenhower days and
the media/legalistic scare culture beginning from the Reagan era. One
incident last night struck home for me more than others. While walking down
Michigan Avenue (something you can't do every night in Chicago) a Black
couple just opened up four or five huge aluminium trays of barbeque chicken
wings they had cooked for this event. They just started handing them out to
everybody saying 'have an Obama wing'.

All around the world, food is used as a gift of friendship, pride,
sustenance and other deep cultural feelings of good will. While America has
no more solved its racial problems with the election of Obama than it
stopped its religious wars with the election of John F. Kennedy, the signal
to me is that many people really want to try. People's belief in themselves
has been renewed by this symbolic change.

Whether people came to this election to regain freedoms legally taken away
over the last 8 years, end racial prejudice, restore America's dignity in
the world, end religious bigotry, or restore some sense of a fairer income
balance in the country- hope for all of these things has been raised.

Thus the expectations are huge and Obama is doomed to fail at some of them
if not all of them. Even if this administration fails or even if it
succeeds and then (as is very likely) America goes off track (pun very much
intended) again, this has been a moment of rejuvenation. We also are having
an 'evolutionary' if not 'revolutionary' change for the better in the White
House. Enjoy it while it lasts!

R

a letter

Wednesday, November 5th, 2008

Friends,

Who among us is not at a loss for words? Tears pour out. Tears of joy. Tears of relief. A stunning, whopping landslide of hope in a time of deep despair.

In a nation that was founded on genocide and then built on the backs of slaves, it was an unexpected moment, shocking in its simplicity: Barack Obama, a good man, a black man, said he would bring change to Washington, and the majority of the country liked that idea. The racists were present throughout the campaign and in the voting booth. But they are no longer the majority, and we will see their flame of hate fizzle out in our lifetime.

There was another important "first" last night. Never before in our history has an avowed anti-war candidate been elected president during a time of war. I hope President-elect Obama remembers that as he considers expanding the war in Afghanistan. The faith we now have will be lost if he forgets the main issue on which he beat his fellow Dems in the primaries and then a great war hero in the general election: The people of America are tired of war. Sick and tired. And their voice was loud and clear yesterday.

It's been an inexcusable 44 years since a Democrat running for president has received even just 51% of the vote. That's because most Americans haven't really liked the Democrats. They see them as rarely having the guts to get the job done or stand up for the working people they say they support. Well, here's their chance. It has been handed to them, via the voting public, in the form of a man who is not a party hack, not a set-for-life Beltway bureaucrat. Will he now become one of them, or will he force them to be more like him? We pray for the latter.

But today we celebrate this triumph of decency over personal attack, of peace over war, of intelligence over a belief that Adam and Eve rode around on dinosaurs just 6,000 years ago. What will it be like to have a smart president? Science, banished for eight years, will return. Imagine supporting our country's greatest minds as they seek to cure illness, discover new forms of energy, and work to save the planet. I know, pinch me.

We may, just possibly, also see a time of refreshing openness, enlightenment and creativity. The arts and the artists will not be seen as the enemy. Perhaps art will be explored in order to discover the greater truths. When FDR was ushered in with his landslide in 1932, what followed was Frank Capra and Preston Sturgis, Woody Guthrie and John Steinbeck, Dorothea Lange and Orson Welles. All week long I have been inundated with media asking me, "gee, Mike, what will you do now that Bush is gone?" Are they kidding? What will it be like to work and create in an environment that nurtures and supports film and the arts, science and invention, and the freedom to be whatever you want to be? Watch a thousand flowers bloom! We've entered a new era, and if I could sum up our collective first thought of this new era, it is this: Anything Is Possible.

An African American has been elected President of the United States! Anything is possible! We can wrestle our economy out of the hands of the reckless rich and return it to the people. Anything is possible! Every citizen can be guaranteed health care. Anything is possible! We can stop melting the polar ice caps. Anything is possible! Those who have committed war crimes will be brought to justice. Anything is possible.

We really don't have much time. There is big work to do. But this is the week for all of us to revel in this great moment. Be humble about it. Do not treat the Republicans in your life the way they have treated you the past eight years. Show them the grace and goodness that Barack Obama exuded throughout the campaign. Though called every name in the book, he refused to lower himself to the gutter and sling the mud back. Can we follow his example? I know, it will be hard.

I want to thank everyone who gave of their time and resources to make this victory happen. It's been a long road, and huge damage has been done to this great country, not to mention to many of you who have lost your jobs, gone bankrupt from medical bills, or suffered through a loved one being shipped off to Iraq. We will now work to repair this damage, and it won't be easy.

But what a way to start! Barack Hussein Obama, the 44th President of the United States. Wow. Seriously, wow.

Yours,
Michael Moore
MichaelMoore.com
MMFlint@aol.com

3.11.08

o perigo do contágio

num dos momentos de entusiasmo interior (que felizmente se vêm multiciplicando nos últimos dias) mandei este sms a uma amiga (de quem sou muito amiga):
pressinto que se o obama ganhar vou chorar perdidamente. não me interessará, nesse momento, se ele é mais do centro que de esquerda ou se em política externa não faz muita diferença do mccain (eu até penso que sim mas admito as dúvidas). só vou pensar no imenso significado simbólico de, na presidência do império - onde há 40 anos ainda a segregação racial era oficial -estar um homem muito inteligente e muito informado que é meio preto meio branco, meio americano-meio imigrante, filho de mãe solteira e intelectual, neto de avó muçulmana e rural, casado com uma (super) mulher afro-americana, o que é dizer descendente de escravos. se isto não é uma esperança para a humanidade não sei o que é a esperança. nem a humanidade.
eis o que ela me respondeu:
ele ainda não ganhou e eu já estou a chorar só de te ler.

27.10.08

bem ancoradA


numa imitação barata da técnica da "reflexologia" do E. Yang, tentei reflectir um momento da apresentação do livro do meu estimado primo zé veloso, lagos e outras terras, memórias soltas e alguns pensamentos acerca de gentes da borda d'água, mar, rios e barcos.

como
era de esperar a coisa aconteceu em lagos e num dia azul e amarelo, os céus parados reflectidos nas águas absolutamente imóveis.

cada um dos meus filhos teve a sua própria dedicatória e a minha, sendo de síntese, vai exigir-me prolongada reflexão.

25.10.08

doc lisboa 2008: the red race


de gan chao (干超)

não sei se é diferente o modo como são treinados os atletas olímpicos nos outros países. sei que me impressionou mais a chantagem emocional das famílias "puxando" pelos seus jovens futuros atletas, do que a dureza dos treinadores.
apesar de ser impossível ver este documentário sem pensar logo no treino dos futuros actores, representado no filme de chen kaige"adeus minha concubina", não há, naturalmente, qualquer paralelo entre as duas situações. as famílias dos alunos não são "obrigadas" a colocar os seus filhos na escola dos jovens atletas de xangai, elas é que os obrigam a lá permanecerem.

doc lisboa 2008: floating dust


é o nome inglês de xuanhua chéntǔ (喧哗的尘土), o filme de huang wenhai (黃文海) no qual se relata como durante algum tempo os habitantes de uma pequena localidade, no hunan, acreditaram encontrar nos filmes dos "teletubbies" toda a espécie de sinais e indícios ocultos dos números capazes de lhes mudar a sorte. "nobody ever seems to win at anything. the era of ideology is over, the household has no gods and these people are caught in limbo, between promises of prosperity and the SARS epidemic, a plague that dashes all hope. (Joan Dupont, International Herald Tribune)

23.10.08

doc lisboa 2008: year by year (年)

também de liu wei (刘伟)

na imagem um "peticionário"

doc lisboa 2008: um dia esquecido (忘卻的一天)

segunda parte

doc lisboa 2008: um dia esquecido (忘卻的一天)

primeira parte do filme de liu wei (刘伟), realizador que gostei de descobrir

20.10.08

em psicanálise

um nevrótico não é senão alguém que está doente de amor recalcado e um sintoma não é senão o regresso de uma verdade

"on doit se mettre à aimer pour ne pas tomber malade"

diz também freud tornado "avocat de la cause qu’il attaque"
monique schneider, la cause amoureuse, freud, spinoza, racine

"l’amour n’est rien d’autre que..."

telle est l’opération de « rabaissement » par laquelle freud, empruntant la formule à spinoza, introduit la définition de l’amour.
monique schneider, la cause amoureuse, freud, spinoza, racine


(Spinoza Ethique III Definition des affects, 6. 11,98p.56: l’amour n’est rien d’autre que la joie accompagnée de l’idée d’une cause extérieure)

19.10.08

doc lisboa 2008: nós (我们)


de huang wenhai (黄文海)

"no que toca às questões de estado, não podemos ficar parados a olhar"

doc lisboa 2008: crazy english (疯狂英语)

de zhang yuan (张元)
é um "documento" assustador pelo que nele é documentado - o professor de inglês criador do método de ensino a que chama "inglês louco" e a aparentemente generalizada receptividade dos seus "ensinamentos" teóricos e práticos.
só espero que não tenha sido apenas para me tranquilizar que um privilegiado china watcher, presente na sessão, me disse estar o fenómeno agora praticamente esgotado.

entrevista do "professor" ao NYT

doc lisboa 2008: espaço público (公共场所)

de jia zhangke (贾樟柯):
"At first it was the bleak and lonely buildings that attracted me. When I saw the streets filled with lonely, directionless people, I became interested in them."
“... I wanted to put on record the everyday life of Datong people who gathered into places of consumption, or public spaces.”

simpático o modo como ao olhar de quem filma/vê quase sempre (cor)responde o olhar de quem é filmado/visto-

doc lisboa 2008: crime e castigo (罪与罚)



de zhao liang (赵亮 )

doc lisboa 2008: as mulheres de pés pequenos (小脚人家)


de bai budan (白补旦) que sobre elas diz:

看着一双双蹒跚的脚步迈向生命尽头
缠足之痛也随着她们的离去日渐消逝
她们 以双足残入历史
我们 用影像记录足迹

doc lisboa 2008: mãe (妈妈)



de zhang yuan (张元)

18.10.08

frase do dia

"não há nada mais difícil do que uma vida normal" escreve pedro mexia, na sua crónica "a minha audrey" publicada hoje, no público.

17.10.08

Yi Yi

por mais vezes que veja este filme não saberei nunca se foi a neta que sonhou com a avó se foi a avó que sonhou com a neta.
nem interessa, pois aqui o importante é a borboleta...
ao indiferenciar a vida da morte, a borboleta de edward yang garante a continuidade no seio da transformação: desde logo de uma linhagem familiar; mas também, e talvez sobretudo, de uma linhagem cultural cujo pensamento é mais do processo do que do tempo e no seio da qual está uma consciência muito enraizada de que só o relativismo nos permite algum optimismo.

it's a wonderful world

enquanto "família" individada, recebo regularmente apetecíveis ofertas de dinheiro rápido e cómodo: nada tenho de fazer para além de escolher o montante, os benfeitores se encarregando de o depositar na minha conta, na hora ou no dia. o empréstimo é geralmente sem juros e amortizável a tão longo prazo que as prestações são, na opinião dos benfeitores, irrelevantes.

há uns bons anos, num ano mau, aceitei um empréstimo destes (300 euros do cartão jumbo) que ainda estou a pagar, de facto em prestações tão suaves que não dá bem para perceber que já devo ter pago 600 ou 700 euros por ele.

outro dia estava eu no sapateiro a comprar palmilhas quando toca o telemóvel. era um senhor do cartão jumbo a anunciar a boa nova de que me tinha sido alargado o plafond pelo que eu podia renegociar a minha dívida (sic) desde que pedisse mais outra maquia. inicialmente respondi desabridamente que não queria nada mas depois, lembrei-me da falta de liquidez com que a minha família se debate para pagar o irs e não desliguei o telefone.

no dia seguinte tinha os mil euros na conta. ou melhor tinha tido pois o banco se tinha pago do saldo negativo da conta deixando-a reduzida 2 euros e 60 cêntimos positivos.

uns dias depois recebo uma carta da ikea na qual, além do cartão da loja, vem uma carta a anunciar que, para além de todas as vantagens do dito cartão, eu poderia agora dispor imediatamente, na minha conta, de todo o valor do seu plafond. para isso bastava telefonar para determinado número. entre o incrédula e divertida, a família telefonou logto para o dito número. foi atendida por um gravador que lhe disse que se quisesse isto marcasse aquilo e se quisesse aquilo marcasse isto. a família marcou o que queria a mesma voz humana virtual pediu-lhe para "digitar" o número do cartão e o montante pretendido. o que ela fez assim provocando o aparecimento, na sua conta, de mais 600 euros.

não lhe chega ainda para pagar o irs cujo prazo acaba hoje mas ela tem a certeza que entre o momento em que escreve isto e a hora do fecho da repartição das finanças ainda vai receber muitas outras ofertas de dinheiro. entre as quais, no conforto do lar, vai poder escolher livremente a opção que melhor lhe convier para não ficar individada. junto do fisco naturalmente.

isto não é publicidade

16.10.08

obrigada octávio teixeira

abomino o modo como "eles" nos últimos anos me têm vindo progressivamente a transformar numa "família". é claro que a minha perene situação de endividamento também não ajuda...

foi neste contexto de prolongada resistência individual que hoje regozijei ao ouvir o octávio teixeira a falar em "bancos, pequenas e médias empresas, e cidadãos".

irónico serem os partidários do "colectivismo" a devolver-me a qualidade de "indivíduo" que me tem vindo a ser roubada pelos partidarios do "individualismo".

a luta continua.

13.10.08

toysare (not what they used to be)

não me lembro se já em criança detestava brinquedos. a verdade é que não os tinha - o império do brinquedo (ou da criança) ainda estava longe - para além de umas três ou quatro bonecas que os meus pais me tinham trazido de sevilha. livros também eram poucos e jogos nenhuns. em contrapartida, a grande gaveta da cómodoa urbana, na sala da casa de são joão, estava cheia de recortes de revistas da minha mãe: homens, mulheres, crianças com os quais tinha recreado famílias, escolas, hospitais, tudo o que a imaginação me permitia.
lembro-me de dar alguns brinquedos aos meus filhos: um combóio comprado em ayamonte a um, uma boneca com sardas a outra, e nada à terceira por lhe ter comprado muita coisa. a grande maioria eram brinquedos comprados em "ferros velhos" (feira da ladra e saraiva de carvalho sobretudo). no entanto e apenas no caso dos mais velhos, tendo em atenção os presentes recebidos de amigos e parentes, a gaveta de uma cómoda já não chegava. daí que eu já tivesse alguma experiência do que é o monte de sucata em que se transformam os brinquedos quando colocados à toa, muitos desmontados, partidos ou mutilados, nos quartos das crianças. mas em minha casa houve sempre um quintal, onde havia uma nespereira - da qual todos cairam pelo menos uma vez - um cão, um gato, muitas rãs, cadáveres de pássaros que caiam dos ninhos, além, naturalmente dos paus e pedras de todos os tamanhos e feitios.
com os meus netos a situação tornou-se, aos meus olhos, verdadeiramente obscena: o quintal desapareceu, ou não é usado como tal, e às crianças foram impingidos brinquedos coloridos, higiénicos, seguros e apropriados às idades (!). na categoria dos brinquedos passou a entrar o livro infantil (não é por acaso que eles são arrumados nos quartos delas). os brinquedos já não se amontoam num um monte de tralha, agora são agora usados para "decorar" os quartos das crianças onde invadem todo o espaço útil (e indispensável para se respirar/pensar): enchem as prateleiras que cobrem as paredes e os sacos verticais que pendem tecto; atravancam o chão e as mesas; e tudo destila o ar tóxico do dinheiro e do consumo e das marcas - toysareus, imaginarium, etc., nomes das lojas onde mais detesto entrar.
hoje é o dia de anos de um dos meus netos, por acaso o único que facilmente se confunde com o meu filho (o pai dele) na mesma idade. filho a quem comprei, no dia em que ele fez os 3 anos que este faz, no mercado de faro, um boneco de madeira destes com rodas que mexem à medida que a criança o puxa ou empurra; e que o entusiasmou de tal maneira que ele foi do mercado até casa a pedir-me para olhar o que se passava atrás de nós repetindo "olhi! olhi!", palavra que até hoje ficou a designar esse tipo de brinquedos.
há semanas que busco em vão um brinquedo que eu gostasse de lhe dar e que ele gostasse de receber. teria adorado dar-lhe um olhi-olhi mas os únicos que conheço são dos brinquedos de madeira a imitar antigos que também me irritam. nos poucos ferros velhos que resistem, de novo a rua do salitre e ainda a saraiva de carvalho, nada encontrei.
assim, vou agora partir em demanda de um brinquedo (!) no toysareus (!!!) que acabo de saber fica situado no colombo (!!!!!).

chat

eu comentei: "hoje estás virada para a conversa." ao que eu respondi: "não tenho a telefonia aberta..."
então eu confessei: "que bom! estava mesmo com saudades de falar contigo." o que me obrigou a desculpar-me dizendo: "também eu... mas sabes é a corrida em que tenho vivido." eu não disse mais nada sobre o assunto mas a conversa continuou animada.

9.10.08

JORNADA DE ACÇÃO

Pela regularização dos(as) indocumentados(as),
contra a onda xenófoba e contra o Pacto Sarkozy
domingo, 12 de Outubro, às 15h, no Martim Moniz

Cientes de que está criado um ambiente de perseguição aos imigrantes na Europa, e rejeitando as pressões racistas e xenófobas dos Governos de Sarkozy e Berlusconi, dezenas de organizações de imigrantes, de direitos humanos, anti-racistas, culturais, religiosas e sindicatos, convocaram para o próximo dia 12 de Outubro, domingo, pelas 15h, uma jornada de acção. A concentração está marcada para as 15h no Martim Moniz estando prevista uma Marcha até ao Terreiro do Paço, com a expressão da pluralidade de reivindicações deste vasto grupo de organizações, unidas por três lemas comuns: pela regularização de todos os indocumentados(as), contra a onda de xenofobia e contra o Pacto Sarkozy.

Nos dias 15 e 16 de Outubro, o Conselho Europeu reunirá os chefes de Estado e de governo dos 27 para ratificar o "PACTO EUROPEU sobre IMIGRAÇÃO e ASILO", aprovado no conselho de ministros realizado a 25 de Setembro. O Pacto proposto por Nicolas Sarkozy, no contexto da presidência francesa da União Europeia, visa definir as linhas gerais da UE nesta matéria e assenta em cinco pontos fundamentais: organizar a imigração legal, priorizando a adopção do "cartão azul", para recrutamento de mão-de-obra qualificada; facilitar os mecanismos e procedimentos de expulsão e estabelecer nesse sentido parcerias com países terceiros e de trânsito; concretizar uma política europeia de asilo; reforçar o controlo das fronteiras; proibir os processos de regularização colectiva.

Depois da aprovação da Directiva de Retorno, com o voto favorável do Governo português, estas medidas representam mais uma vergonha para a Europa. O tratamento securitário das migrações, a definição de critérios discriminatórios para acesso ao trabalho, o aprofundamento da criminalização da migração, da militarização e externalização das fronteiras através do FRONTEX e a perseguição dos(as) cerca de 8 milhões de indocumentados(as) que vivem e trabalham na Europa - a quem é oferecida a expulsão como única saída -, são medidas que visam consolidar uma Europa Fortaleza, da qual não podemos senão nos envergonhar.

Em Portugal, a recente onda de mediatização da criminalidade e as recentes declarações de responsáveis governamentais que trataram os(as) imigrantes como bodes expiatórios para o aumento da criminalidade, abrem espaço para as pressões xenófobas e racistas, e criam um ambiente propício para a desresponsabilização do Governo. Em causa está a necessidade de regularização de dezenas de milhares de imigrantes que defrontam sérias dificuldades em regularizar a sua situação.

São homens e mulheres que procuraram fugir à miséria, fome, insegurança, obrigados a abandonar os seus países como consequência do aquecimento global e outras mudanças climáticas, ou que muito simplesmente tentaram mudar de vida, mas a quem não foi reconhecido o direito a procurar melhores condições de vida. Tratam-se de pessoas que não encontraram outra opção senão o recurso à clandestinidade, muitas vezes vítimas de redes sem escrúpulos, e que se confrontam com uma lei que diz cinicamente que "cada caso é uma caso", fazendo da regra a excepção e recusando à generalidade dos(as) imigrantes o reconhecimento da sua dignidade humana. Destaque-se a situação dos imigrantes sem visto de entrada, a quem a lei recusa qualquer oportunidade de legalização.

Solidários(as) com a luta que se desenvolve na Europa e no mundo contra as politicas racistas e xenófobas, também por cá vamos lutar pela regularização de todos imigrantes, sem excepção, cada homem/mulher - um documento. É uma luta emergente contra as pretensões de expulsão dos(as) imigrantes, contra a vergonha de uma Itália que estabelece testes ADN como instrumento de perseguição dos ciganos(as), contra as rusgas selectivas, arbitrárias e estigmatizantes, contra a criminalização dos(as) imigrantes, contra a ofensiva das políticas securitárias e racistas, alimentadas pelo tratamento jornalístico distorcido feito por alguns meios de comunicação social. Cientes de que está criado um ambiente de perseguição aos imigrantes na Europa, e rejeitando as pressões racistas e xenófobas dos Governos de Sarkozy e Berlusconi, organizações de imigrantes, de direitos humanos, anti-racistas, culturais, religiosas e sindicatos, decidiram marcar para o próximo dia 12 de Outubro, domingo pelas 15h, no Martim Moniz, uma jornada de acção pela regularização dos indocumentados(as), contra a onda de xenofobia e contra o Pacto Sarkozy.

ORGANIZAÇÕES SIGNATÁRIAS: Acção Humanista Coop. e Des.; ACRP; ADECKO; AIPA – Ass. Imig. nos Açores; APODEC; Ass. Caboverdeana de Lisboa; Ass. Cubanos R.P.; Ass, Apoio ao Est.. Africano; Ass. Imigrantes Ucranianos – SOBOR; Ass. Juv. Laços de Rua; Ass. Lusofonia, Cult. e Cidadania; Ass. Moçambique Sempre; Ass. dos Naturais do Pelundo; Ass. dos Nepaleses; Ass. orginários Togoleses; Ass. R. da Guiné-Conacri; Ass. Olho Vivo; Ass. Recr. Melhoramentos de Talude; Ballet Pungu Andongo; CGTP-Intersindical; Casa do Brasil; Casa Grande do Brasil; Centro P. Arabe-Puular e Cultura Islâmica; Colect. Mumia Abu-Jamal; Comissão de Moradores do Bairro do Fim do Mundo; GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental; Khapaz – Ass. de Jovens Afro-descendentes; Luta social; Núcleo do PT-Lisboa; Obra Católica Portuguesa de Migrações; Sindicato dos Professores da G.L.; Solidariedade Imigrante; SOS Racismo; UMAR.

8.10.08

"até negrejam" (memória de uma lacobringense de espiche)

- então não vês, é a diferença entre lagos e portimão...
- hmmm...
- olha que quando foi a inauguração do museu, no meio daquele imenso poder de gente que lá estava, tu não vias uma única cabeça loura!
eu bem queria explicar a "diferença" em termos nacionais - e ainda insisti na origem espanhola da família feo - mas o meu primo, que sobre o assunto percebe muito mais do que eu, manteve-se irredutível e nunca a deixou desviar do plano municipal.

lisboa

como havia de te ter encontrado se não fui à tua procura?

lagos: nicho

homenagem ao blog gaveta dos fundos

lagos: yin-yang

different perspectives

para lá, um abençoado ruído suspeito vindo dos dessous da viatura, tinha obrigado a condutora a "moderar" a velocidade - o que para ela significa qualquer coisa entre os 120 e os 140 quilómetros à hora.

para cá, o diagnóstico negativo do exame médico do márinho, o assistente do sr brito (cujo consultório fica paredes meias com o agora restaurado convento das freiras) permitiu à minha companheira de viagem e dona do carro (re)tomar o freio nos dentes e vir, à desfilada, do algarve até lisboa.

a certa altura, vá lá saber-se porquê, reduziu a velocidade e virou-se para mim sorrridente, sem reparar nos meus cabelos em pé nem na imensa palidez da minha cara: "olha-me bem para este carro, a 120 parece que vai a 60, até dá sono, não é?"

3.10.08

PERIGO


afastem-se deste filme,
de seu nome "sorvedouro",
que é das mais compridas
e pretenciosas chatices
que vi nos últimos anos.

a descoberta do dia


foi a existência de uma biblioteca pública,
onde se podem tirar fotocópias,
na cinemateca.

até encontrei um livro de que andava
à procura há bastante tempo.

nada mal.

fazer chichi

foi difícil entrar dada a altura descomunal da "camineta", novinha em folha, parada na praça de táxis do final da infante santo.
- mas isto é um táxi como os outros?
- tal e qual. só que leva mais bagagem lá atrás.
descansada com a resposta, mal o motorista arrancou, encolhi-me a um canto e fechei-me em mim própria não sem reparar que ele, apesar de serem oito da noite, trazia na cabeça um boné encarnado vivo.
já quase a chegarmos à estrela, oiço uns múrmurios lá frente.
- desculpe, está a falar comigo?
- foi um colega meu que esta manhã foi fazer chichi e o polícia multou-o em 25o euros.
- oh diacho... mas então...
- é assim, a lei não nos permite largar a viatura, pode-se sair mas tem de se ficar ao lado dela. o homem coitado estava parado ali na praça e precisou de fazer as suas necessidades. olhe que ele não levou mais do que cinco minutos, foi ir ao café em frente, fazer chichi e voltar para a viatura. pronto já estava multado.
- mas que lei essa. e então mas como é que os senhores resolvem essa questão?
- há ali uma curva em algés, que é muito fechada, e a gente costuma ir lá fazer chichi. eu até tenho uma história engraçada nesse sítio. uma vez estava lá a fazer chichi quando passou um carro da polícia. e agente que ia lá dentro gritou para mim "não se esqueça de puxar o autoclismo". lá está, tudo vai das pessoas, este era compreensivo.

viagem pelo corpo humano

começou no polegar, lentamente se insinuou pelo braço, e depois de se demorar no cotovelo, chegou ao ombro e instalou-se na nuca; onde permaneceu ora subindo para a cabeça toda, sem esquecer os ouvidos, ora descendo mesmo até à cintura.