entre todos os meus amigos só um tem o atrevimento de me contar "coisas más" que outros amigos comuns lhe dizem a meu respeito. contra todas as suas expectativas, creio, fico absolutamente furiosa com ele e não com os amigos em questão. na verdade, desde que eu não saiba, é-me completamente indiferente que alguém diga-mal-de-mim-nas-minhas-costas (para isso é que nós temos dois lados creio, um para ver outro para não ver).
de resto parece-me a coisa mais natural do mundo os amigos dizerem mal uns dos outros uns aos outros - a quem de resto haveriam eles de o dizer? para mim a máxima deve ser a de que "amigos amigos defeitos à parte". se não fossem os nossos verdadeiros amigos quem teria pachorra e obrigação de aturar os nossos defeitos? os conhecidos não teriam de certeza e os inimigos muito menos... quem senão um amigo tem a amizade suficiente para aturar o amigo chato, o amigos crava, o amigo infeliz, o amigo malcriado, o amigo pouco inteligente, o amigo vaidoso, o amigo embirrento, o amigo de direita (quando não mesmo o de esquerda, festiva ou ortodoxa)?
não me custa nada a acreditar que os meus amigos digam "mal de mim" nem que o digam aos nossos amigos comuns pois só esses, que se conhecem e me conhecem, entendem, se interessam e são afectados pelas minhas malfeitorias. pela minha experiência própria, sei que o mal que se diz (digo) dos amigos tem um prazo de validade muito curto - é para comer na altura, e é de natureza mais projectiva do que representativa - o que me aborrece neles costuma ser aquilo de que menos gosto em mim.
do que não tenho experiência própria (e talvez por isso não perceba o amigo em causa) é da prática de ir contar ao mal-dito o mal que alguém me disse dele. e julgo que não quero vir a ter pois me parece que se, em qualquer grupo de amigos, vários fizessem o que este amigo (me) faz (não o que disse mal mas o que me contou o mal dito), em menos tempo do que o diabo esfrega um olho termo-nos-íamos todos perdido uns aos outros. como amigos.