embora de modo muito mais esporádico ainda me pergunto 
porquê e 
paraquê é que escrevo esta coisa: qual é o sentido de uma pratica que, e no meu caso pelo menos, sendo simultaneamente muito privada e muito pública parece contra-natura?
a esta pergunta inicial tenho vindo a dar respostas diferentes ainda que  assentes sempre no gozo de brincar com palavras (como se de legos se tratasse) a fazer e desfazer construções (de palavras de que mais havia de ser?) em diferentes tamanhos e formas.
ultimamente tenho percebido como a qualidade pública da coisa me desvia da escrita confessional e me afasta sistematicamente da auto-compaixão. por outras palavras: 
ter todos os dias de arranjar a cara com que  vou enfrentar  outras caras (desde logo aquela com que vou ler o post depois de o ter publicado) é  factor  de auto-disciplina e produtor de auto-estima.  manter esta coisa  obriga-me a prestar muito mais atenção e cuidado à construção da minha própria personagem.
é um processo  que em parte me lembra a recusa do meu pai em aparecer de roupão fora do quarto, por se tratar, como ele tinha o cuidado de acentuar,  de um traje literalmente "de chambre"; assim como a teoria da minha avó (mãe dele) sobre a indelicadeza que consiste em instalar uma visita num quarto sem espelho.
é cada vez mais esta coisa  que me ajuda a não andar  de roupão pela casa. a coisa que se vem transformando no espelho que (não) tenho no meu quarto,  e no qual mais vezes me vejo e no qual mais gosto de me ver. isto porque, naturalmente, sou eu - e não ele  (o espelho, o blog, the thing) que está na origem da imagem devolvida.   em suma, ela  é o instrumento que me permite (ilusão das ilusões) ver como sou vista, algo que  o antigo testamento nos diz ser privilégio dos que já estão fora do mundo.