9.5.08

pastelaria sagres (3)



lá dentro, do belo castanho das madeiras, ao arranjo impecável da luz, passando pelo rigor das linhas dos móveis e pelo arranjo das garrafas nas prateleiras, até aos espelhos, tudo parece estar exactamente no sítio onde devia estar.

permanecer algum tempo rodeada por esta espécie de ordem formal perfeita e austera, tem o condão de nos gazer descansar os olhos, que, como se sabe é uma importante 'parte' do nosso cérebro.

pastelaria sagres (2)


durante a tarde estive sentada a beber um sumo, feito no momento, com as larajas que o próprio sr. josé cultiva em azeitão, e a comer uma bela torrada feita de pão integral (que nunca consigo encontrar noutros locais) e com a reduzida dose de manteiga, como sempre peço e nunca recebo.

pastelaria sagres (1)









ainda há em lisboa antigas pastelarias (apesar de o vitorino insistir que são 'leitarias', ou não fosse ele a celebrizar a
leitaria garret) como a pastelaria sagres, meia escondida na curva da rua que desce do campo santana para a av. da liberdade.

8.5.08

antroponímia: recolha de dados

Hoje a entrevista decorreu na loja da família Ye. O filho, de 11 meses, tem como nome chinês 欧青 Ouqing (europa/ clara, sem-nuvens) e Gonçalo, como nome português. A filha, de três anos, chama-se, em chinês, 佳乐 Jiale (excelente/alegre), e Helena, em português.
Apesar de ambos terem nascido em Portugal (entenda-se na Europa, pois, como alguém já antes fez notar, os chineses são, sob vários aspectos, os primeiros, senão mesmo até agora os únicos cidadãos da UE), só o nome do rapaz comemora essa circunstância (tida pela família como muito relevante): o primeiro nome, 欧 Ou significa 'Europa'.
Interrogada sobre a razão por que o nome da filha, não contendo qualquer alusão à Europa, não funciona como voto familiar para que a portadora adopte e seja adoptada pelo espaço onde nasceu (e que a família classifica euforicamente como 'limpo, desanuviado'), a mãe responde que, tratando-se de uma rapariga, "lhe basta ser 'boa' e 'alegre'.
Despedi-me da família Ye a perguntar-me se de facto bastaria. E a desejar que a Helena Ye, além de, individualmente se tornar numa pessoa boa e alegre, apoiada pelo significado do nome chinês que usa, queira ir além dele, reivindicando a plena cidadania europeia e exigindo à Europa o seu reconhecimento, tanto de facto como de direito.

6.5.08

o retrato

"morda os lábios que isso está muito branco..."

foi a ordem que me deu antes mesmo de destapar a máquina


n. adopta escrita fonética nos sms

liguei a uma amiga de 72 anos (neste caso a idade conta). o tm tocou tocou e ela não atendeu. pouco tempo depois recebo um sms (o que não estranhei pois a tinha ouvido dizer antes que até já sabia mandar sms).
no entanto, o facto de ela escrever (sic) "kem ex?" não deixou de me surpreender. mas respondi, como se nada fosse, com um "sou" seguido do meu nominho. não mais me deu troco.
à noite insisti pois precisava mesmo de falar com ela. dessa vez desligou-me o telefone. ainda sem saber por onde começar a pensar no que fazer a seguir, recebo um sms idêntico ao da manhã, ao qual voltei a responder, assim dando origem a este brilhante diálogo:
kem ex?
sou a (seguia o meu nominho)
dkpl, nao kunhexu...podx dizer u nome todo?
aqui começo a debater-me entre a preocupação com a saúde mental da minha amiga e uma imensa vontade de lhe responder à letra com um enormíssimo "rax t parta" no que sou interrompida por novo e imperativo sms:
rexpod...
foi a gota de água - ou melhor, de luz - na minha cabeça às escuras. isto não pode ser a minha amiga: ou ela perdeu o telemóvel ou eu tenho o número errado. depois de um telefonema a um amigo comum confirmar que o engano era meu, não me rextava outra koisa a fazer senão pedir dkpl. o que, contrariada, achei que devia fazer em "bom" português:
desculpe. enganei-me no número.

5.5.08

bandeiras negras



voltaram os jacarandás













que nesta cidade, todos os anos por esta altura, me fazem lembrar-esquecer
as acácias que, noutras alturas do ano, enchiam de vermelho as outras cidades.

cineastas, arquitectos, comunistas e tradutores

quem viu o night train, do diao yi'nan (filme chinês que infelizmente apenas recebeu uma menção honrosa no indie 2008) tem aqui uma bela revisão do filme. assim como a transcriçãoo de algumas palavras ditas em putonghua pelo seu realizador e traduzidas para português por esta fotógrafa-tradutora. ou tradutora-fotógrafa?*

* dúvida que não pode deixar de me remeter para a tese até hoje defendida à outrance por um velho amigo, arquitecto e militante do partido comunista português: ele seria um arquitecto comunista ao arrepio da maioria dos seus colegas de profissão e camaradas de partido que se considerariam comunistas arquitectos.