24.12.08

natal de 2008

cheguei a pensar em trazer-te uma flor (afinal foi no campo que ficaste a morar...) mas acabei por te deixar apenas as migalhas do pão com queijo fresco que comi durante o nosso semi-clandestino* tête à tête.


* já no final do piquenique não é que aparece o zé da maria amélia?

homem com chapéu em cemitério




mar

terra

23.12.08

boas melhoras!

nada se pode fazer para fugir ao natal já que o micro-organismo responsável pela doença se transmite sobretudo pela memória. de nada serve, portanto, fugir das cidades ou fechar-se em casa com portas e janelas fechadas, telefonias e televisões desligadas, sem jornais, amigos ou parentes. todos os humanos na plena posse das suas faculdades psíquicas, brights ou supers, são infectados nesta altura do ano.
a doença, que afecta sobretudo as pessoas com menos defesas ou mais anos, aumenta-lhes a ausência dos que já partiram e a presença do seu próximo lugar vazio. não sendo uma infecção bacteriana, os antibióticos não servem para nada. o mais que se pode fazer, enquanto se espera pelo final do ciclo do virus, é ajudar o corpo a reajir naturalmente reforçando-o através de muito descanso, vinho de boa qualidade e algumas leituras, prosa de preferência. a música é desaconselhada.

my blues (to a tune by PQz)

bab septa: o secular como sagrado


sob todos os aspectos por que o "olhe", foi este o filme que mais profundamente me impressionou durante o ano de 2008, um ano que para mim foi cheio de bom cinema. isto é, de cinema que (im)pressiona.

acho até que os professores, além de deverem ser obrigados a cumprir a avaliação, deviam também passar a ser obrigados a cumprir a exibição, nas suas aulas, de uma obra cuja natureza tem tanto de filme como de evangelho.

21.12.08

jardim da estrela: a ilusão da redenção

depois de me deitar na relva, bem virada para o sol, a cabeça confortavelmente encostada à única árvore do jardim da estrela cujo tronco tem a mesma forma (ergonómica) da rocha da d.ana a que me encosto para ler o jornal nas manhãs de verão, o camião dos cachorros passou para segundo plano.
mas só depois de ter entrado bem dentro do mondovino - que trazia na carteira exactamente para ler na esplanada do café, é que a esplanada do camião saiu de cena.
fiquei sozinha com os filmes que nunca vi e com os vinhos que nunca provei deste jonathan nossiter que mais do que o sol no corpo tiveram o condão de me aquecer a alma.

jardim da estrela: de mal a pior

o velho café do jardim da estrela - onde eu sei que não se comia bem, se tinha de beber café em copos de plástico, e não se era particularmente bem tratado pelos empregados - fechou.
os frequentadores, entre os quais me incluo, tiveram esperança que o estaminé "abrisse com nova gerência", melhor serviço e pessoal mais friendly. mas passados alguns meses, a deterioração e vandalização do barracão cor de rosa já nos tinha desiludido. o que ninguém imaginava é que ele viesse a ser "substituido" por um camião de venda de cachorros e farturas (como os da 24 de julho) acopulado a um automóvel através de um fio ligado a um motor barulhento (a forma vermelha na imagem). para cúmulo do absurdo, a nova "instalação" dos dois veículos inclui uma "esplanada" virada para o lago, tal como acontecia na anterior.

AFAF 6: nozes e vozes

descanso dos diferentes festejos privados encarrapitada no balcão da pastelaria suiça, a saborear, devagar e pensativamente, uma noz da minha infância. ou melhor, a saborear a infância na minha noz. ao meu lado, uma senhora mendiga muito velhota que comia (salvo seja) um garoto e meia torrada, sorria frequentemente para mim.

AFAF 5: largo de são domingos

a minha intolerância à "tolerância", palavra e ideia central neste cartaz, afixado no largo de são domingos, não me impediu de lá festejar um dos momentos mais festivos da festa: um improvisado bailinho de rua dançado ao som da música tocada por uma "tuna" académica.
digo "tuna" porque os jovenzinhos da banda usavam todos capa e batina (traje com a qual não seria tolerante se não fosse a mistura das ginginhas com a diversidade cultural dos dançarinos e dançarinas).

AFAF 4: ginginhas com

AFAF 3: a receita de "giotto"

anotada no iphone (where else?), entre garfadas ao ar livre, na "taberna do chiado", onde aportei a carteira grande cheia de livros: atum, anchovas, tomate, azeitonas verdes, talvez salsa (era uma coisa verde sem muito sabor) tudo partido aos quadradinhos e colocado em cima de bocados de pão (que parecia torrado mas se apresentava molhado e que julgo ser o ingrediente, que tem o nome do pintor e dá o nome ao snack).

AFAF 2: o gozo dos livros

prazer de deambular, prolongadamente, de livraria em livraria (às vezes acho divertido não ir à FNAC). depois de muito folhear e ler-a-saltar, acabei por trazer:
os conselhos do califa, do antónio sérgio (!) para a júlia.
o livro dos rapazes (?!) para o francisco.
os desastres de sofia com ilustrações da vieira da silva (!) para a emília.
já sou uma adolescente (?) para a clara (!)
mondovino, do jonathan nossiter (sim o do filme doc com o mesmo nome), que nunca tinha lido e o orlando, da virginia wolf, lido e relido mas não "possuido".

a festa antes das festas (AFAF) 1: começo pouco promissor

a ideia era romântica: ir de eléctrico à baixa ver livros, muitos livros, e aproveitar para comprar alguns. o objectivo generoso: reforçar as auto-defesas de modo a tornar a minha pessoa mais resistente ao desgate físico e psíquico acarretados pelo natal.
mas o frio sofrido durante os 65 minutos de espera pelo eléctrico, seguido do perigoso desconforto da viagem, sem lugar sentado (mesmo em pé "lugar" era coisa que não havia naquele eléctrico) fizeram-me cair na realidade da estação do ano e do governo da cidade.