na “glória do vulgar” estou, definitivamente, do lado dos coleccionadores (e não do dos caçadores). não colecciono factos da realidade, cuja sucessão me interessa pouco, mas as notas que tomo sobre eles.
esta colecção não se destina a contar (a vida) nem a confessar (a alma ou o coração), mas a procurar aquilo de que ando à procura. um trabalho que, sendo da ordem da construção (não da exploração nem da criação), me permite apenas escolher entre materiais e técnicas apanhadas aqui e ali.
tudo o que guardo para mim é sempre respigado de entre o que outros caçaram e deixaram como por exemplo a ideia de que a realidade é sempre determinada por um estado de alma, ou melhor, por um estado de coisas – isto é, os factos e a consciência que alguém tem deles. e a outra, ainda mais indiscutível, de que se acede a ser não sendo o que se é mas sendo o que se quer ser (por gosto ou necessidade).