17.5.08

a escrita das palavras novas

descansem os falantes e escreventes do português do brasil, dos países africanos e de algumas comunidades da ásia: aqui na metrópole, os lusitanos adversários do acordo ortográfico, vão bater-se por que a "transcrição" de palavras de outras línguas (as existentes nos vossos países, não com certeza as ingleses, que agora entram, nem as francesas que dantes entravam) assim como a "a sua eventual adaptação ao português" seja feita "segundo normas científicas internacionais". como, acrescentam, algo inesperadamente, o "caso do árabe". embora nada tenha contra o árabe, não percebo porque é que não poderia ser o hangul, por exemplo, o código fonémico do coreano e que é uma das escritas mais eficazes do mundo?

16.5.08

elogio ortográfico

nos meus tempos de faculdade, tive um conhecido e respeitado professor de história da língua que costumava acentuar a necessidade de as futuras gramáticas da língua portuguesa substituirem a lista dos pronomes pessoais de modo a darem efectivamente conta da realidade da língua. assim, em vez dos tradicionais “eu, tu ele, nós, vós eles”, ele propunha a seguite lista “eu, pá, o tipo, a gente, vocês e os gajos”.
nada me ocorre que vá mais ao arrepio do pensamento (talvez mais sentimento, ou melhor ainda, sentimentalismo) dos signatários da petição anti-acordo ortográfico, para quem, uma língua (ou será apenas a "deles"?) não é vista como um processo histórico e particular, caracterizado por uma identidade híbrida e plural, mas como uma "essência" (como dizem no seu manifesto) que lhes competeria defender, contra o tempo e contra o espaço. contra o século.
numa visão transcendente da língua como é esta, não espanta que os falantes apareçam como os seus principais inimigos: o "ponto de aviltamento" a que o uso do portugês, falado e escrito, teria chegado, é, diz-se sem ambiguidade, culpa "dos que a falam e escrevem".
no grupo dos carrascos da língua, não se incluam os signatários nem todos os que contribuir "com o progresso da língua dentro dos padrões da lógica, da instrumentalidade e do bom gosto" (sublinhado é meu)

elegia ortográfica

como lágrimas silenciosas, vêem-se já a cair, pela velha face sagrada da língua portuguesa, as consoantes mudas, principal marca identitária da sua elegimilenar ortografia. discretamente presentes na escrita desde os tempos remotos da própria fundação nacional (na verdade, sendo oriundas da oralidade, elas são mesmo anteriores à própria ortografia), têm sido estas discretas mas essenciais consoantes surdas-mudas a conferir à ortografia portuguesa a sua sonoridade musical própria. própria e sem qualquer paralelo nas ortografias das línguas humanas conhecidas.

mirada ao espelho



- importam-se que eu vos tire umas fotografias?
- não... porquê?
- estou a gostar muito desta vossa casa de jantar.
- e vai usar as fotografias?
- sim, se vocês me autorizarem. gostava de as guardar num blog.
- e qual é o nome do blog? para nós nos podermos ir lá ver...

15.5.08

da euforia à disforia

comecei bem a tarde ouvindo a adriana calcanhoto a cantar "vamos comer caetano" (a quem não apetecerá comer caetano?), e relendo o "manifesto antropófago" do poeta brasileiro oswaldo de andrade, no qual se proclama, logo no início: "só a antropofagia nos une. socialmente. economicamente. filosoficamente".
(ver a versão original e uma boa traduçao inglesa).
mas acabei-a bastante mal frustrada por não ter conseguido, mais uma vez, uploadar música para aqui (no caso, a cantiga de adriana calcanhoto) HELP!

breakfastando à hora do lunch

falou-se neste poema de EA
É um lugar ao sul, um lugar onde
a cal amotinada desafia o olhar
que eu não soube traduzir.

14.5.08

ir de cajado

"um cajado, se a coisa for bem compreendida, é quase um meio de transporte... porque se eu for a andar, e não levar um cajado, custa-me mais a andar..."
jacinto josé pereira *

* outro poeta do sul de que recordo os dois primeiros versos de uma poesia
eu faço pinturas que não sei apagar,
pinto a lua cor da terra e o sol da cor do mar...

pensamento da noite

sou maior mas nao vacinada.

no lugar do sul

esteve esta semana adelino pacheco norte.
com 83 anos, este tocador e construtor de acordeaos vive consigo
proprio, num serro da serra do espinhaco de cao. de onde se avista a
baia de lagos.
seja no interior ou no litoral, no barlavento como no sotavento, no
alentejo como no algarve, e sempre a mesma pessoa que procuro neste
lugar ao sul.