26.4.08

um filme, três retratos

jia zhangke, que muitas vezes parece fazer documentário quando está a fazer ficção, parece agora, neste documentário, estar a fazer ficção.
o filme é um tríptico sobre roupa: dos dois lados estão pessoas que a produzem e usam, no meio, uma pessoa que a desenha.
o carácter colectivo e anónimo dos operários contrasta com e salienta a individualidade-nome de ma ke, a desenhadora de moda. a falta de desenho da roupa produzida industrialmene em série acentua a falta de uso da roupa desenhada e produzida à mão. à ausência do produto final do trabalho dos operários textêis corresponde à ausência do trabalho anterior ao produto final da designer de moda.
o facto de o filme ter por título o nome de uma marca de roupa (wu yong), assim como a colocação do retrato da sua criadora no centro do tríptico, valoriza decerto o seu trabalho que aparece como uma forma de resistência sócio-cultural e de expressão individual. mas não se pode esquecer que o significado literal do título, ‘sem utilidade’, também descreve a vida das pessoas que enquadram a vida da designer; e que, ao contrário desta, não conseguem fugir ao trabalho alienante com que são forçadas a ganhar a vida. jia zhangke não usa o trabalho fabril dos operários têxteis como pano de fundo para fazer brilhar a actividade artística de ma ke na produção dos seus modelos. ele usa esses modelos e o discurso sobre eles, por parte da sua criadora, para mostrar com maior nitidez os contornos do trabalho e da vida dos que, no mesmo momento da história mundial, estão a produzir grande parte da roupa que todos nós, chineses ou não, usamos no nosso dia a dia.

wuyong

o filme useless, de jia zhangke, visto no indie deste ano, deu-me a conhecer o trabalho e a pessoa da designer chinesa ma ke.

da sua marca wuyong (nome que significa 'inútil' e é, de resto, o nome do filme) estão aqui algumas fantásticas fotografias.

20.4.08

Lux aeterna

assim (como) assim muitos parabéns!