25.9.10

ave!

prenúncio de arvoredo.

(texto, cortado em dois, do poema Ilha, de Rui Cinatti, in Uma Sequência Timorense, Lisboa: Ed. Pax, 1970

soon

23.9.10

indeed

“YOU CANNOT MAKE YOURSELF THE WAY YOU ARE”
(tem algo do "pintar portas em paredes inexistentes")

blush, fita para o cabelo e frutos de plástico

encontrei hoje pela primeira vez um nome próprio chinês dissilábico que é uma palavra do léxico (corrente é os dois constituintes formarem algo de parecido com uma curta frase). poética, se o nome é bom, como acrescenta a vivienne alleton.
a palavra 淹博 (yanbo), um verbo de estado que significa "vasto", "largo", foi dado pelo avô paterno (como é costume) a um bebé rapaz nascido em lisboa, em 2010. 
como também é costume, os pais afirmaram não haver qualquer relação entre os dois nomes do filho: o nome chinês Yanbo e o nome português  André. mas, também como é costume, saí da entrevista a repetir de mim para mim yanbo/andré, andré/yanbo, julgando descobrir,  nessa ponderação sonora, alguma proximidade fonética entre as duas palavras.

22.9.10

the morrow

Take therefore no thought for the morrow: for the morrow shall take thought for the things of itself. Sufficient unto the day is the evil thereof. Mateus 6: 34

21.9.10

o princípio de Lund *

a vitória obtida pela extrema direita sueca, ao que se lê, obtida pela exploração eleitoral que fez da paranóia popular com a emigração e com o islão, leva-me a pensar no Princípio de Lund, acordado entre as igrejas cristãs, e assinado nesta cidade, em 1952, na Conferência da Fé e da Ordem, do Conselho Mundial das Igreja.
Segundo este importante princípio ecuménico, as igrejas cristãs devem actuar em conjunto em todas as circunstâncias excepto naquelas em que a profundidade das suas diferenças as obrigue a actuar em separado.
Nem um presidente da república ou uma ministra da educação diriam mais e melhor!

* pequena cidade universitária, no sul da Suécia, com mais de mil anos de história em cuja catedral funciona um fantástico relógio astrológico.

for that matter(s)

não sei se se aprende a ser pessoa antes, depois, ou ao mesmo tempo que se aprende a ser mulher. ou homem, for that matter.
não sei sequer se "pessoa" é uma noção relevante. como também não sei o que é que dela releva no ser "mulher". ou no "homem", for that matter. nem se releva: será "pessoa" uma abstracção, algo de natureza virtual condenada a realizar-se, sempre, ou como do género "mulher" ou como do género "homem"? a ser assim ainda menos saberia como pensar no terceiro género reconhecido na índia.
mas sei que há pessoas que rejeitam o conceito de "pessoa" pelo que seria a sua estreita ligação ao cristianismo; como sei que nas ciências sociais se prefere falar de "actor", "sujeito" ou "agente".
eu sou uma pessoa que gosta de "pessoa" (e de pessoas mas isso é outra história ou se calhar não porque o que me agrada em "pessoa" é o que nela ressoa de todas as outras pessoas) e a quem desgosta que nas chamadas línguas ocidentais, as línguas que lhe são maternas, todas as palavras que denotam ideias como "humano", "humanismo", "humanidade" tenham raiz em "homem". como desgostaria, for that matter, se derivassem de "mulher".
nada como as línguas chinesas nas quais esses conceitos se dizem por palavras em cuja composição não entra um sexo (nem, for that matter, um género) mas a pessoa, 人 rén; e daí a existência de termos como 人類 rénlèi, à letra categoria-pessoa, isto é “humanidade”; ou 人文主義, doutrina da cultura da pessoa, ou seja "humanismo".
estreitamente ligada a esta questão, que muitos acharão, se calhar com razão, perfeitamente bizantina, está a natureza da relação existente entre as duas identidades: igual ou diferencial? é o género que subsume a pessoa ou é a pessoa que subsume o género? e a resposta, não dependerá do género da pessoa que a dá? e, ainda mais: no par parental, qual dos membros nos ensina a ser pessoas? e esse que nos ensina a ser pessoas é a mesma pessoa que nos ensina a ser mulheres, ou, for that matter, homens?

19.9.10

a propósito de uma inesquecível experiência de circo *

Ciganos. E mais uma vez a minha raiz humana estremeceu. São eles que me dão sempre a medida absoluta da liberdade que não tenho e por que suspiro. Anarquistas em espírito e corpo, lembram-me príncipes do nada, milionários do desinteresse, sacerdotes da preguiça, ampulhetas obstinadas onde o tempo não se escoa. Comem a podridão, vestem-se de absurdo, são marcianos na terra. E ao vê-los caminhar na poeira do transitório, é a imagem do homem ideal que vejo passar, lírica e desdenhosa.
Miguel Torga, Diário VII, 1954, citado por rui herbon, in jugular

* num espectáculo do cirques romanes, dirigido por alexandre romanès e constituído pela sua família que veio a lisboa para o Festival Todos “Caminhada de Culturas 2010”