2.12.12

com

o "meu" cão não é uma companhia, é uma companheira.

atenção


presto atenção à atenção que a canita me presta a mim e à minha atenção. 
a canita, quando me observa, observa também aquilo que eu observo.

10.3.12

hoje

fiz o meu própria dia. como há tempos não acontecia.
disse que não conhecia rima semanticamente mais rica que dia/acontecia.
e todos ficámos contentes.

25.2.12

por vezes abraço a casa com a mesma emoção e entusiasmo com que abraçaria outra mulher.

rio

angela: o mesmo riso recuado da luisinha. passei por cima de uma geração. mas não poderia passar sem dizer ao carlos do(s) parentesco(s).

19.2.12

garage palace

repleto de primos, cheio(s) de memórias, cheiro a café, gargalhadas de velhos e sussurros de miúdos. ou como fazer (uma) casa.

31.1.12

perder o pé

ele sempre me disse que a loucura era o deixar se levar por ela, e para ela, sem lhe opor resistência. para ele, a loucura era o seu desejo. fácil.

26.1.12

escultura no picadeiro



umas têm bastante graça, outras têm uma história atrás, outras  exibem o nome à frente; várias são engenhosas, algumas ruidosas, tantas  aparatosas. em absoluto contraste com esta simpática vulgaridade plebeia, destaca-se a aristocrática peça do rui abreu - silenciosamente bela, elegantemente discreta, ela fala-nos sem palavras, comove-nos sem gestos. a força suave da madeira, a leveza da curva imperceptível, o ímpeto ascencional, a peça lembra o arquétipo de uma alma que se eleva a caminho da sua própria dissolução.

gracias a la vida

uma caldeirada de chocos (de onde viriam as parcas ervilhas que boiavam no molho?) muito boa, honesta seria a palavra que melhor a descreveria, numa tasca, quente de gente (conhecida entre si e acolhedora dos estranhos como eu) da trafaria.
costuma dizer-se que a vida dá voltas e a volta que eu ontem dei - ao partir da rua da junqueira, às 7 e pouco, para só chegar a casa depois 1 da manhã - aí está a provar a verdade do volteo.
não fora ter tido de abandonar o meu adorado carrinho na trafaria, ainda que sob a protecção dos bombeiros, e a volta teria valido a pena: a delícia macia dos chocos e das conversas com os outros comensais (alheados do meu mini drama interior excepto o bombeiro casadoiro que minutos depois nele havia de arbitrar), o brilho escuríssimo da água (partilhado apenas por uma outra mulher, alta e doce, cujo rosto de despedia comovida me acompanha ainda hoje), até a outra tasca já do lado de cá cheia de homens de várias línguas  diferentes a verem o mesmo jogo de futebol, foram voltas que, se a vida não me tivesse feito dar, eu não teria dado. o que me teria deixado mais cinzenta e tristonha, o dia de ontem igual ao de amanhã. há uma canção da mercedes sosa, lindissima, cujo refrão tem que ver com este sentimento - gracias a la vida, talvez.

23.1.12

o que me ensinou a viver sem medo foi a vida. é verdade, foi a vida que me obrigou a viver bem. não foi outra coisa nem de outra maneira. os sonhos, esses nunca me ensinaram nada - a não ser o meu medo horrível de viver.

só agora

te descubro como foste antes de mim - sensual. as fotografias velhas, no entanto, apenas me falam do teu "erotismo inteligente", elas não me contam as razões do teu progressivo apagamento interior. não posso ter sido eu... até porque, nos nossos primeiros anos juntas, está ainda presente - na cara, nos olhos, na cintura - a mesma nota radiante. foi  a doença? o exílio familiar? a morte da tua mãe? não posso ter sido eu.

14.1.12

zézinha

it's me.

12.1.12

desde manhã

assim te mãtenho.
sr. brito, d. teresa.
e tantos outros.

5.1.12

a vida como experiência

implica a mesma abertura, igual curiosidade e idêntica ausência de expectativas - como qualquer trabalho de investigação.

estar em Lagos

é como brincar às casinhas.