28.4.07

dong doc

diferença(s)

num programa de rádio sobre a discriminação dos 'diferentes', um ouvinte indigna-se com o facto de no "próprio parlamento" existirem fenómenos de exclusão: "o óscar veja lá se há deputados pretos, ou ciganos, ou cegos ou paralíticos! onde é que estão, em são bento, os documentos em braille ou as rampas para as cadeiras de rodas!?".
fiquei a perguntar-me se a exclusão das mulheres do grupo dos "diferentes" resultou de um involuntário esquecimento do ouvinte ou de uma visão da mulher que, passando por cima das diferenças morfológicas, a vê "igual" ao "homem", o modelo de referência deste sistema classificatório (mas de pele mais ou menos clara, sedentarismo básico, olhos e pernas funcionando sem ajuda exterior).
se a exclusão das mulheres, neste comentário, resultar da segunda hipótese, como creio, fica-se com importantes questões práticas e teóricas para resolver. em que grupo inclui o ouvinte uma mulher cigana? e uma mulher de pele preta? no dos "diferentes" ou no dos "iguais"? enquanto 'mulheres', são "homens" e. como tal, pertencem ao grupo dos 'iguais'. mas a qualidade de menos sedentária, uma, e de menos branca a pele, da outra, classifica-as como "diferentes".
a dupla pertença pode facilmente ser tripla. caso em que a classificação: se torna ainda mais complexa: como proceder perante um especímen do sexo feminino, de pele preta e sem movimento da cintura para baixo? ou com um exemplar da raça humana, fêmea, cega e de cultura cigana?

27.4.07

ainda o indie

depois da visita à loja chinesa, à saída do consultório, paragem na grãfina (até custa a escrever) para, entre o chá e as torradas meditar na infância (convocada pelo espaço). apesar de, deliberadamente sentada, contra o fengshui (de modo a poder contemplar o número 64), pouco ou nada consegui, sentimentos do presente e, sobretudo, pressentimentos do futuro a calarem e a apagarem os que quer que ainda existissem em mim do passado. mesmo assim, ainda decidi ir pela rua de entre-campos em vez de subir os estados unidos. enorme e delicioso passeio a pé, entre o reconhecimento (casas de mortos-vivos, mostly mas também o talho ainda a mesma cortina encarnada) e a descoberta (inesperada escultura de homenagem aos mortos dos atentados em nova york e washington, simpática mini-manifestação da cdu da junta de frequesia de são joão de deus, e providencial sapataria geox onde comprei umas sandálias). já sentada no cinema, os pés começaram a doer-me. quando as luzes se apagaram ocorreu-me, não só que podia trocar os sapatos calçados pelas sandálias compradas como, sobretudo, que podia aproveitar a ocasião para me livrar, de uma vez por todas, duns sapatos que me torturavam os pés mas de cuja forma (sapatorra) e cor (encarnada)eu era escrava. assim fiz sem que o vizinho da direita, mesmo contíguo, se apercebesse da troca (nem das baldrocas - meter o saco com as coisas chinesas dentro do saco da geox, maior e com melhores pegas), muito menos a vizinha da esquerda, a uma cadeira de intervalo. já com os pés aliviados antevi a sala vazia e um par de sapatos encarnados brilhando debaixo de uma cadeira. entrei no filme, do qual saí com muita dificuldade (partilhada pela jovem realizadora LN encontrada na casa-de-banho)e fui à loja ver o catálogo dos DVDs. estava a lê-lo quando aparece uma voz risonha a dizer que estavam uns sapatos na sala. a notícia criou uma pequena agitação entre a gente nova que me rodeava: "é o evento mais incrivel deste festival..." ouvi mesmo ao meu lado, "é pá estamos há imenso tempo à espera e não voltou ninguém para os buscar", um rapaz um pouco mais longe. o que fazer? até porque, lembrei-me naquela altura, tinha um saco da geox na mão... ainda vim com o catálogo para a sala grande onde me sentei a uma mesa fingindo que o lia. mas o nome geox no saco gritava que os sapatos abandonados eram meus. desci de novo à casa de banho, tranquei a porta, meti o saco comprometedor no cesto dos papéis e voltei a subir, agora com o saco da loja chinesa na mão. a conversa dos sapatos tinha morrido. saí do cinema para uma noite bastante ventosa mas o caminho para casa, nas sandálias azuis, foi muito confortável.

tsai ming-liang 3

o colchão
actualização e magnificação da 'almofada' através de cuja abertura se podia entrar na realidade do mundo dos sonhos?

tsai ming-liang 2



a borboleta

tsai ming-liang 1


a água parada

le rouge et le noir

a diferença de cor está no oxigénio - que um tem e o outro não. quando o venoso aparece preto ou é porque foi contaminado, pelo arterial, ou porque não tem, ou tem pouco, oxigénio. "já posso aliviar a pressão?"/"não, não, só quando a máquina se desligar"

fengshui

começamos pela inevitável aproximação/afastamento à 'superstição'. prosseguimos com uma tentativa de aproximação à 'ciência'. terminamos com uma provisória identificação à 'filosofia'. um dia depois, na pastelaria em frente ao número 64, recordo a conversa: dum lado, a racionalização pelo relacionamento (a lógica do processo geral das coisas, a (re)construção intelectual do funcionamento do mundo como um todo)e, no plano individual/mental, a ideia de que há um fio a ligar tudo (mestre dixit); do outro, a racionalização pelo afastamento (a lógica da criação particular de cada coisa, a (des)construção empírica do mundo, nas suas diferentes partes, a busca do sentido de cada uma delas.
a conversa vira depois para a simetria na 'arte', presente (?) na 'arquitectura' e ausente na 'pintura' e, naturalmente, na 'caligrafia'. mas, serão as duas últimas 'artes' separáveis entre si? e será a arquitectura uma 'arte'? a qualidade 'arte' terá sido reservada aos produtos do pincel?
caraças, estou farta de palavras aspadas. não disporemos de palavras unívocas para podermos falar das mesmas coisas? sim, porque disso não tenho dúvida, as coisas são as mesmas... só os nomes diferem. a questão, dirás, é que não falamos com coisas mas com nomes.
eu sei...

26.4.07

masculin-féminin

almoçar fora de casa, durante os dias de semana, constitui mais uma prova irrefutável (para quem ainda precisar delas) da desigualdade entre homens casados e mulheres casadas: enquanto que os humanos do sexo masculino se instalam em restaurantes, sentados em cadeiras, à volta de mesas, saboreando diferentes pratos do dia acompanhados, geralmente, por vinho tinto e rematados por doce ou fruta, os seres humanos do sexo feminino passam por pastelarias/padarias/leitarias, onde, de pé, acostadas aos balcões, sorvem tigelas de sopa ao mesmo tempo que deglutem sanduiches ou fritos variados (rissóis, diferentes pastéis, panados e folhados). as raras mulheres presentes nestes grupos de homens são geralmente solteiras (as casadas, leia-se, as 'suas', estão na pastelaria do lado ou no local de trabalho de volta com as marmitas que levaram de casa). nos grupos de mulheres não há homens (só crianças, durante as férias escolares).
no sítio onde trabalho há inúmeros casais, a maioria dos quais (fica mal mas estou com pressa) segue a rotina do almoço acima descrita. o que me perturba, diariamente, à hora do almoço, não é eles não almoçarem juntos mas o facto de, oficial e publicamente, o que come 'bem' ser sempre male e o que come 'mal' ser sempre female.
entre eles há um particularmente significativo. o marido, trabalhando por turnos, só almoça fora duas vezes por semana. a mulher, que tem horário de escritório, 'almoça' todos os dias fora. ao contrário dos outros fazem-no ambos no mesmo local. só que, quando ele almoça, almoçam os dois, isto é, sentam-se ambos a uma mesa e saboream os pratos do dia numa pausa de cerca de hora e meia. quando ele não está, não almoça nenhum, isto é, em menos de um quarto de hora ela sorve a sopa e o café, de pé, encostada ao balcão sem sequer tirar a gabardine.
dr. jmv, como explica esta auto inflicted punição por parte das mulheres casadas?

shangxia

com ele aprendi, há tantos anos, que havia escadas para subir e escadas para descer. foi no bom jesus, em braga e vínhamos a descer (ou seria a subir?). mais tarde cheguei a ensinar a outros, nesta matéria tão ignorantes como eu, a grande divisão entre as escadas deste mundo. o que ele não me ensinou, nem, for that matter, mais homem nenhum entre os que construiram a minha vida, foi por que é que eu tenho tanto medo de descer escadas. quaisquer escadas, tenham elas sido pensadas para serem subidas ou para serem descidas. quando não há corrimão a situação agrava-se dramaticamente (nos sentido inglês e português da palavra. mesmo que sejam apenas alguns degraus à minha frente, o sentimento de que vou cair por ali abaixo é tão forte que só tenho vontade de chorar.

telemóvel

- fala o alves...
- ...
- é pá não sei se me podes ajudar...
- ...
- tenho uma colega que tem um primo que foi autopsiado em maio do ano passado e o relatório nunca mais chegou
- ...
- não se sabia se tinha sido suicídio ou se tinha sido homicido e continuam sem saber...

A 523


BOA VIAGEM!

o inconformismo do PR

reflexão sobre a resignação, produzida por um jovem 'de direita' aqui citado por uma não-jovem 'de esquerda'

25.4.07

a casa

é ainda para ti que (d)escrevo a liberdade com que esta noite entrei, sem sobressaltos de maior, na parte vedada da casa. era ampla e luminosa. entre as suas duas divisões uns dois ou três degraus. a casa de banho era muito rudimentar mas existia. nada de assustador portanto. pelo contrário, o aspecto usado das paredes, a sua pintura semi-desaparecida, os poucos móveis velhos (porque usaste apenas a cabeceira da cama preta de casal?)condizia com o resto da casa - a parte conhecida e habitada. cheguei a pensar mudar-me para lá. ou então juntar as duas partes (sempre houve comunicação entre elas eu é que não abria a porta) e assim fazer uma casa grande, quero dizer, completa porque sem divisões interditas. esta parte da casa agora recuperada tem uma saída directa para a rua. enfim, dá para o grande pátio de um café cujos donos (uma associação?) não paga as renda há muito tempo. comecei logo a tratar do assunto com as pessoas que lá estavam na altura e penso receber em breve algum dinheiro extra. o resto se verá.

24.4.07

ultrapassagem


sempre subi a avenida da liberdade a arrastar um olho atrás de mim. ontem ele ia à minha frente a abrir caminho até ao topo do parque eduardo vii.

23.4.07

a prática do sexo

depois de classificado como 'partido sexy' (termo que voltou recentemente a ser retomado/reelaborado como 'sensível'), o cds é agora também, e nas palavras da sua nova(mente) liderança um 'partido prático'. espero divertida pelos próximos desenvolvimentos teóricos...

bom dia

a maresia hoje no campo. um puro deleite.

22.4.07

aleluia

o le pen não chega aos 12!
...
eu bem sei que o sarkozy...
mas também a segolène...
ouve lá...por amor de deus!
vamos a ver...
a ver vamos.