6.6.08

curto-circuito



há avós mais queridas que outras

- eu trato toda a gente por tu porque vivi em angola. tanto faz a idade ou o grau de parentesco. é claro que se acabo de conhecer uma pessoa não vou logo começar a tratá-la por tu. sabes que quando eu era pequena e vínhamos cá a portugal de férias, a minha avó era tudo "a menina isto, a menina aquilo". mas eu, que vinha de angola, onde todos nos tratávamos por tu, era logo "oh avó tu ... não sei o quê". mas ela sempre nos tratava por 'a menina'. eu uma vez até lhe perguntei como é que ela queria que nós a tratássemos, mas ela, como era muito querida, muito querida, respondeu logo: "as meninas tratam-me como as meninas quiserem".

5.6.08

as casas de bonecas sempre me seduziram tanto quanto me aterrorizaram

mas estas caraças...


r
achel whiteread construiu a sua "village" com as 250 casas de bonecas que acumulou ao longo de 20 anos.

os prédios desta cidade inquietantemente bela - as casas, festivamente iluminadas, estão todas desertas - foram dispostos em fila, como se tivessem sido construídos na encosta de uma colina.

whiteread (uk) pertence a um grupo de dez artistas (japão, alemanha, cuba, áustria, reino unido, brasil, eslovénia, argentina e coreia) cujas criações arquitectónicas podem ser vistas na exposição psycho buildings actualmente na hayward gallery, em londres.













se deus quiser

todas as terças e quintas me despeço, no final da aula de ginástica, (que se realiza num centro de reflexão cristã) dizendo ao grupo: "então até para a semana!". há sempre uma ou outra colega que tem o cuidado de me corrigir respondendo alto e firme "se deus quiser".
príncipe carlos quer salvar arquitectura dos hutong

4.6.08

william yang

não sei se o alkantara repete a dose. mas, se repetir, não vão ver: não é bailado que é o tema do festival. não é fotografia, são postais ilustrados e dos mais açucarados do mercado. não tem que ver com a china, é um enfadonho discurso orientalista em estado puro. não é sobre a homossexualidade (como circunstância individual), nem sobre a homofobia (como problema social), muito menos é sobre os direitos humanos na china, é a patética mas convencida performance de um mau artista visual australiano, que por acaso é gay e que por acaso (mas para infortúno de quem pagou o bilhete) é de ascendência chinesa.

não faz sentido

com excepção da minha pobre (neste caso no duplo sentido) pessoa, todos os residentes no meu prédio são pessoas de elevadas posses e posições sociais.
numa reunião adhoc de condóminos, ocorrida a 27 de maio, por acaso o dia internacional dos vizinhos, juntámo-nos, de emergência, em minha casa para discutir questões de segurança. a casa do porteiro, desabitada há alguns meses, tinha sido arrombada e okupada no dia anterior e muitos dos presentes tinham sido roubados nos últimos tempos: o escritório dos advogados seis vezes (sempre pouco dinheiro); eu duas (um imac de uma vez e todos os meus CDs da outra); e a "senhora lá de cima", tantas vezes que já lhe perdera a conta. só se lembrava que da última vez, tinha sido durante o dia, e que lhe tinham roubado um casaco de peles curto. uma escolha que ainda hoje a confunde: "é que não faz qualquer sentido... se eu tenho tantos casacos de pele, compridos, de vison, tantos, como é que ele, estúpido, logo foi levar aquele, muito curtinho e que até estava meio desmanchado, na gola e nas mangas porque era para mandar arranjar?!".

senhoras na ginástica

- então não viestes na semana passada?
- não pá, este tempo dá-me sono! não condigo andar na rua, tenho de estar em casa. a primavera faz as pessoas moles.

expedição



















com base no pensamento estratégico de sun zi e inspirada pela cultura popular portuguesa ("com vinagre não se apanham moscas") ajudei ontem a t. a vencer uma terrível batalha contra um exército de formigas.
apesar da sua intenção não ser militar mas científica - queria capturar alguns exemplares para investigar se estas criaturas sabem nadar - ela confrontava-se com a resistência das formigas que, ou lhe fugiam dos dedos, ou eram esmagadas por eles vindo já cadáver para dentro da garrafa de água do luso.
perante a sua óbvia frustração com a falta de resultados, propus-lhe que trocasse a força pela estratégia. foi assim que, munidas de uma caixinha com açúcar, voltámos ao campo de batalha. aí, cada uma lambeu um dedo, passou-o bem pelo açúcar e depois colocou-o, imóvel, à disposição do inimigo; quando o dedo passava do branco ao preto era só raspá-lo, delicadamente, na borda da caixa, fechando-a depois muito depressa.
a t. estava sem fala e com dificuldade em acreditar que uma mudança de sorte assim tão radical, imediata e fácil, não resultasse de um qualquer truque de magia. foi então que me lembrei de lhe falar na arte da guerra e e na máxima (negativa claro...) do vinagre e das moscas.

pequeno almoço

crime e castigo.
mas qual foi o crime?

2.6.08

a representação dos pronomes pessoais

pela minha neta m.



UAb: last in translation

afixado
住宿
请上一楼

afixar
注意
请关门!

hai keyi

it is over. oito anos. que a palavra 'conferência' pode medir - uma liangci do tipo das não estandartizadas. cong julho de 2000 dao junho de 2008. bucuo.

1.6.08

silent and slow transformation

é a do tempo que se torna habitável, que ganha as qualidade do espaço.

eis o homem

« For nomads, home is not an address, home is what they carry with them. » (John Berger. Hold everything dear.)
We are all travelers. We are all voyagers. Born into this world, embodied, we can only move forwards. But we are also all carriers. We are all bahok. We carry with us our genetic and cultural inheritance, our experiences, our dreams and aspirations.
All stories are about the journey of our body through life: its birth and origin, the search and quest for its identity, its transformation, its death. All stories are both unique and universal. Regardless of our cultural background our stories resemble each other and reveal the same underlying themes. « Home is where one starts from » (T.S. Eliot, The Four Quartets.)
Asked about memories of home, almost all of us return to the original home, ourchildhood home: its smells, its tissues, its ornaments, our parents’ clothes, its courtyards, its trees, its rains, its rivers... For some of us these memories of the original home got lost. For others they are violent. The childhood home being demolished. Childhood being demolished.
In ‘bahok’, the new company piece of Akram Khan, he brings together eight dancers from very diverse, cultural backgrounds: Chinese, Korean, Indian, Slovakian, South- African, and Spanish. In one of this globalised world’s transit zones they come together. They try to communicate, to exchange their stories, their memories of home. «The dancers are the writers of the show. They are the ones who bring the source material. We search for the little stories that they bring with them and exploring these short stories of each individual, we find a bigger story. That’s what fascinates me, to explore these personal stories of these individuals on stage, in order to discover and reveal a more universal one. » (Akram Khan)
In his exploration Akram Khan is accompanied by composer Nitin Sawhney who put music to the stories, these bodies on stage carry with them. The National Ballet of China and the Akram Khan Company invite you to join them on their journey.

Guy Cools, Dramaturge - London-Beijing: December-January 2007/2008

texto retirado daqui