18.8.07

grande pcc

assim é que devia ser por cá. estou de acordo com os portugueses que se queixam de os media só noticiarem desgraças. o ps, aproveitando a sua actual maioria absoluta, bem poderia adoptar a mesma medida. não digo já, até porque o próximo congresso é do ps(d), mas logo a seguir, a pretexto da preparação do seu próprio congresso, o do ps propriamento dito.

lugar ao sul

para os interessados: o programa esta semana passa-se em LAGOS. relembro o horário
* antena 1 - próxima segunda à 1 da manhã
* antena 2 - HOJE sábado à 1 da tarde

17.8.07

paragem em fátima

ligo para o número de telefone da rede expressos que vem na página online da empresa. atende uma voz de máquina (feminina) que me pede para seleccionar 'o meu destino': "se vai para coimbra clique 1, se vai para o porto clique 2, se vai para leiria clique 3, se vai para viseu clique 4, se vai para fátima clique 5". e aqui parou. como nenhum destes topónimos correspondia ao "meu destino", pus-me à espera que viessem outros. não tive de esperar muito pois logo a mesma voz de feminina (de máquina) repetiu as mesmas instruções: "se vai para coimbra clique 1, se vai para o porto clique 2, se vai para leiria clique 3, se vai para viseu clique 4, se vai para fátima clique 5". e, novamente, parou em fátima onde pausou à espera dum clique meu. como voltei a não clicar ela voltou a repetir a lenga-lenga. que disciplinadamente ouvi, pela terceira vez, tentando perceber a lógica (geográfica, alfabética, religiosa?) subjacente à ordem por que eram apresentados os destinos. à quarta vez eu já sentia a situação como uma espécie de desafio: aquilo havia de ter algum desenlace,caraças, não era possível pausarmos sempre em fátima, sem voltar a subir, nem começar sequer a descer, pelo menos até setúbal (margens do deserto). mas a verdade é que foi isso que aconteceu. depois de ouvir, pela sexta vez, a mesma enumeração de destinos e números correspondentes, resignei-me à ideia de que a rede expresso, mesmo antes da construção do aeroporto da ota, já partiu o país ao meio não levando ninguém para a margem sul.

anunciação

acabo de descobrir, em vendo a minha mãe, um blog (temático) bem divertido.

16.8.07

@

para os que acham exagerados os resultados do meu trabalho sobre as práticas chinesas de nomeação pessoal, recomendo a leitura do caso hoje relatado pelo Guardian.

shala

uma bela salada de frutas para a qual contribuí com um pequeno caroço (de cereja naturalmente...)

15.8.07

assunção vs ascenção

um amigo com sólida formação católica explica-me que o feriado de hoje não celebra o corpo de deus, como eu imaginava (muito menos os anos dele embora fosse isso que efectivamente celebrávamos na altura) mas a 'assumpção' de nossa senhora. movimento que, tem o cuidado de acentuar, embora sendo, também ascendente, é qualitativamente diferente do da 'ascenção': esta, reservada à entidade divina, é da ordem do voar, uma livre e leve subida para os céus; na outra, a nossa senhora limitou-se a, passivamente, ser como que sugada pelas alturas. numa palavra (agora minha), o masculino, senhor de si (obrigada mva) sobe, eleva-se de cá de baixo enquanto que o feminino é subido/elevado, isto é, içado lá de cima.

heroína desconhecida

o corpo, dobrado para a frente, um pouco acima da cinntura, em verdadeiro ângulo recto, só vi a cara deste corpo quando, depois de lhe depositar os sacos à porta de casa, ele, com esforço evidente, endireitou as costas para me olhar/perguntar: "quantos anos é que a senhora me dá?" era uma cara redonda, de pele sem uma ruga, coradinha e sorridente mas de olhos muito tristes. uma cara linda. hesitei antes de arriscar completamente ao acaso: "sessenta e nove, setenta?" o sorriso esbateu-se um pouco ao responder-me, sem modéstia ou orgulho:"oitenta e oito minha rica senhora, oitenta e oito". quando desci do primeiro andar direito onde ela mora, e me voltei a cruzar com ela - que me esperava no hall do prédio, para fechar a porta - o corpo já se tinha voltado a dobrar ao meio. pelo que não lhe voltei a ver a cara. nem ela a minha. ao descer ligeira e rápida a rua onde mora a heroína desconhecida, sentia-me espantada por ela "só" lá ter caído 6 vezes.

14.8.07

chinese quizz (para férias)

a propósito da china, deixo esta imagem para ver se algum dos meus colegas-alunos (ou alunos-colegas) consegue decifrar o que se 'esconde' por detrás dos caracteres chineses. trata-se de um anúncio...

descoberto país onde não há lojas de chineses

pastelaria lisboeta. seis da tarde. ao balcão à espera de uma sopa de "feijáo com lombardo", avisto uma jovem amiga a lanchar com outras amigas. convidada para me juntar ao grupo começo por causar grande perturbação pois a empregada de mesa, muito profissional, se recusa a não me "pôr a mesa". para isso tem de reconfigurar a leve disposição das chávenas de chá e pequenos pratos de torrradas para entre eles impor todo o meu pesado aparelho de refeição (individual, talheres, guardanapo e copo, além, naturalmente, do prato da sopa). recomposto, tant bien que mal, o novo grupo, reparo que entre as agora cinco participantes, uma teria os seus 8 ou 9 anos, um ar inteligente e divertido. é ela que, quando alguém lhe diz (conversava-se sobre a origem dos tamagochis - chineses ou japoneses) que sobre a china fale comigo, me faz esta extra-ordinária pergunta: "na china também há lojas de chineses?"

amor-ódio

odeio com paixão os amigos que mal se acende a luz na sala de cinema começam logo a falar (seja do filme mal-acabado de ver ou de outra coisa qualquer). são geralmente estes que depois, no caminho para casa, se põem a elogiar/condenar as ideias, atitudes, gostos, opiniões e sentimentos das personagens como se de gente real se tratasse: "que ideia tão generosa a dele, dois anos depois ter escrito aquele livro"; "e que bem que ele se vestia..."; "ela no fundo não era má pessoa (ou boa...)". ontem a experiência foi particularmente traumatizante. vimos a 'fita', como dizia a amiga, no quarteto (tínhamos o carro parado à porta). pois na praça de londres já estávamos a ouvir contar, ao pormenor, a história de 'o criado'. isto porque, logo na avenida de roma, a amiga-inimiga tinha reparado numa parença física entre o 'escritor' e o 'dikbogár', o que fez aquele filme como é que se chama, então não te lembras, aquele...? ninguém se lembrava, ou queria lembrar mas ela logo se lembrou e, sem perder tempo começou a contar o enredo. o perigo de pessoas normais, como me julgo, de um momento para o outro, se filiarem numa força do mal como a pide ou a stasi é real...

estupor

em menos de duas horas aprendi dois nomes próprios novos (para mim). 'pertencem' a duas pessoas minhas conhecidas mas, calculo que desconhecidas entre si (do género à classe social tudo as separa): ela é 'peregrina', ele 'secundino'.

as cores do céu


13.8.07

a cor dos humanos

sobretudo o azul claro e profundo dos olhos do 'pide' da rda, na cena final do filme "a vida dos outros". personagem com a qual, a espectadora que eu fui, acabou totalmente "identificada" - por que outras palavras nomear o sentimento de absoluta empatia que (a estratégia narrativa e discursiva d)o filme consegue ir desenvolvendo, nos espectadores, até à sua rendição final, no espelho 'bom' dos olhos do 'mau'? a força da vida será suficiente para regenerar, ou, no caso, talvez 'acordar', o que está morto ou nunca nasceu? em não sei que diga, blog hoje descoberto quando procurava ajuda para repensar o filme de ontem, encontrei a expressão portuguesa "tudo e mais alguma coisa" aplicada à personagem do pide/stasi. escreve o seu autor: na ânsia de "saber tudo", ele depara-se, inesperadamente, com "mais alguma coisa", ficando de tal forma abalado interiormente que, a partir daí, já não é mais o mesmo, ainda que, formalmente, continue a realizar os mesmo actos, mas com um sentido diametralmente oposto.". sim, de acordo, mas talvez o "mais alguma coisa" seja ainda "mais alguma coisa", talvez faça outras personagens fazerem mais sentido, todo o filme e até os próprios espectadores. acho que posso agora nomear o sentimento com que ontem à noite saí do filme: sentia tudo e mais alguma coisa. coisa que por estar a mais (do tudo) eu, ao contrário do pide/stasi, não tenho habitualmente acesso directo.

mistura de cores

rematando um diálogo sobre a origem social de uma rapariga a quem alguém se tinha referido, depreciativamente, como "cabrita", a mulher mais velha pergunta retoricamente, à mais nova, num tom de indignação e desafio: "ora essa, então o sangue azul é só branco?"

às riscas para dar nas vistas


comecei por fazer uma madeixa encarnada no meu cabelo cinzento. gostei do resultado e na semana seguinte já fiz uma mão cheia delas. ontem fiz literalmente uma cabeça cheia.

estado de graça

a notícia do (meu) dia (os dias são sempre de alguém, não é, como os trabalhos e os caminhos)é a reentrada em órbita do pm. isto porque ele se anunciava apenas para setembro (eu é que, como lhe sinto terrivelmente a falta, não deixei de lá ir todos os dias, o que provou valer a pena). notícia também porque, indo à espera do seu 'estilo breve' (uma espécie de aforismos que, ao contrário ao 'género', têm o condão de particularizar maximamente em vez de generalizarem a máxima ao resto da humanidade), encontrei um texto longo. como seria a sua escrita quando escrita em duração e não em momento (jiu mais do que shi)? pergunta retórica ... basta-me apenas registar, para minha memória futura, que lá encontrei o mais interessante (que horrível palavra tão desinteressante) texto, inevitavelmente comparativo, sobre o par de cineastas mortos (bei-nan), as suas obras e circunstâncias.

ec: votos

por ti, que não me lês, torço para que encontres uma bomba à tua medida - o caminho para minha casa tendo provado inútil.

mr: agradecimento

bem hajas pela deglutição comum da genial sapateira, não desfazendo nas ameijoas, assim como pela doce partilha das diferentes cervejas. bem hajas também por fazeres anos, tantos anos, todos os anos, sempre no mesmo dia do ano (ainda que este ano ...).

ltm: protesto

depois de cem buscas por 'aldeia grande', pelo teu nome, pelo nome do post, e sei lá mais por quê, nada encontrei. também fui ao meu 'nominhos' e confirmei que não tinha lá qualquer comentário teu.

artdéco

mal entrei na exposição de arte déco, no palácio olga cadaval, em sintra, caí sem apelo nem agravo no 2º andar esquerdo, do prédio número 25 da rua quirino da fonseca (ex alves torgo), 'ao chile' em lisboa: o mesmo vago enjoo, a mesma pequena aflição, uma mistura de culpa, vergonha e embaraço, o mal-estar indefinido mas generalizado que sempre senti naquela casa. a infância é para os adultos uma espécie de doença crónica. nunca se veem verdadeiramente livres dela. permanece latente, dentro de nós e, embora a possamos ter mais ou menos controlada, estamos sempre sujeitos a recaídas súbitas. como a que hoje sofri ao confrontar-me com as peças de mobiliário: a geometria, o polimento, o brilho, os diferentes castanhos, os redondos e os oblíquos; mas também o ferro forjado e o vidro colorido e trabalhado, iluminado. numa palavra o 'déco' de tudo o que na infância não imaginava vir a suportar, em adulta, como 'arte'.

12.8.07

comunicação

durante a sua prédica dominical, o jmv referiu como certos casais desavindos não se reconhecem nos insultos mutuamente trocados quando confrontados com o vídeo da sessão de terapia conjugal. o que me remeteu de imediato para uns amigos que, pelo menos durante um período da sua vida, todos os dias gravavam o seu dia a dia de modo a poderem, à noite, ouvir e ver o dia. mal se levantavam punham o gravador a funcionar em local estratégico da sua mini casa. passado pouco tempo já nem se lembravam da sua existência aí começando o que achavam ser o acesso à realidade. à noite, deitada a criança, deleitavam-se a ouvir a gravação. entre as razões apresentadas para a prática deste exercício, recordo o facto de se sentirem sós no local ‘remoto’ onde vivem. dos seus efeitos práticos e teóricos, lembro-me do seu espanto pela futilidade das brigas e pela irrelevância das conversas. isto é, pela descoberta da humana característica de falar sem (ser para) dizer nada.

parabéns

amanhã faz anos a minha manamat. comprei-lhe de presente um grande frasco do meu perfume favorito, cujo (belo) nome evoca essências da índia e fragrâncias indecentes. começamos a festejar hoje à tarde, com uma prometedora excursão cultural e gastronómica, com paragens em sintra e na praia das maçãs.

viçó-versa

dantes escrevia para viver, agora vivo para escrever. a diferença é imensa.

um belo par de chávenas

numa ida à letónia, com passagem pelo reino unido, transportei, com grande sofrimento físico e psíquico, numa grande caixa de papelão, primorosamente embrulhada, duas coloridas chávenas de café, de design modernaço por pintor português de que desgosto. um presente português para uma família letã, o par de chávenas tinha sobrado de um conjunto de quatro que me tinha sido oferecido uns anos atrás. já em riga, apresso-me a levar o embrulho para a sala pronta para o oferecer à dona da casa. qual não é a minha consternação quando, já sentada no sofá, descubro as chávenas que tenho nas mãos dentro do armário-vitrine mesmo ao meu lado esquerdo. passado o sobressalto inicial, acabei a respirar de alivio por não ter entregue o presente antes de me sentar. nessa noite resolveu-se o mistério quando a r. se lembrou de que há muitos anos atrás, já tínhamos oferecido, à mesma família letã, o mesmo par de chávenas portuguesas. o que não se resolveu, nem nessa noite nem nas noites posteriores da nossa estadia em riga, foi o destino a dar às chávenas. por um lado tinha pena de as deitar fora, por outro não me atrevia a fazê-lo com medo que algum membro da família as encontrasse no lixo. acabei por partir para o aeroporto carregada com o presente mas disposta a oferecê-lo a alguém. comecei por tentar a pessoa do check-in que as recusou alegando ser-lhe proibido receber presentes. abordei depois a senhora que me revistou que, ou mal entendeu o meu intento ou estava mal-disposta nesse dia. quando já estava mesmo a embarcar para o avião, avistei, por trás do balcão de uma agência de viagens, umas raparigas simpáticas. a medo inquiri se falavam inglês, depois atrevi-me a perguntar se gostariam de ter uma recordação de portugal e, finalmente, já mais afoita, disse que tinha muito prazer em lhes oferecer umas chávenas de café coloridas e modernas, que, por motivos alheios à minha vontade, não tinha podido entregar ao destinatário. isto enquanto abria o embrulho e as fazia espreitar para dentro da caixa. como por milagre, elas aceitaram, espantadas mas encantadas, o que nos permitiu a nós embarcar apressadas mas aliviadas.