no domingo passado, a minha neta clarisca assegurou-me que um ovo imerso em vinagre durante 24 horas se transforma numa bola saltitona. como em minha casa há sempre alimentos fora do prazo de validade, aproveitámos logo uns ovos que apodreciam no frigorífico para fazer a sua experiência.
ontem à noite completavam-se as 48 horas. sem esperar pela jovem cientista, pois receava que um banho mais prolongado pudesse estragar a bola saltitona - que, eu não duvidava, estava pronta para saltar, dentro do velho tupperware verde - resolvi retirá-la cá para fora.
perante o olhar incrédulo e trocista de uma das minhas filhas, destapei a caixa de plástico. e rejubilei quando, ao meter a mão no vinagre, senti "borracha" e não "casca do ovo". orgulhosa, exibi a coisa que tinha na mão e depois atirei-ao ao chão preparada para a apanhar quando ela voltasse para cima. infelzmente a bola esparramou-se no chão, como se fosse um ovo, e de lá nunca mais se mexeu.
- se calhar foi este que esteve parte do tempo destapado. vamos ver os outros três nos quais afoi tudo feito a rigor.
- vamos ver, aquiesceu a minha jovem filha apressando-se a preparar o telemóvel. enquanto eu, cada vez mais desconsolada, esborrachava os ovos no chão, ela, cada vez mais entusiasma, tirava fotografias à cena, aos adereços e à protagonista.
não tivessem sido os martenots e theremins e pouco ou nada me teria restado da semana que passou. como poderia deixar de prestar homenagem ao que foram os instrumentos de salvação desta apocalíptica semana?
