16.12.08

"sou aquele rapaz madeirense"

trabalhou a maior parte da vida no continente. sempre com a pedra. mármore.
esteve um ano nos estados unidos e quando voltou a lisboa tudo tinha mudado. a mulher, a quem tinha passado uma procuração, tinha-lhe roubado tudo. uma vida inteira de de trabalho, doze horas por dia, com a pedra. tinha-lhe levado os filhos e começado a viver com outro homem. era o seu dinheiro, ganho durante anos e ano, sempre com a pedra, mármores, que agora os sustentava a todos. a ele tinha mandado para a rua, como um cão. viveu na rua e debaixo de uma ponte. mas o pior foi a decisão de os matar aos dois, ele cujo irmão tinha sido morto pela cunhada e pelo amante.
durante meses não teve dúvidas de que os ia matar. uma vez, no seguimento de uma coisa que lhe passou pelos olhos quando ela lhe chamou "cão" e o pôs na rua da sua própria casa, com uma mão agarrou-a pelos cabelos e com a outra agarrou na porta pronto a fechá-la com força de modo a separar a cabeça do corpo.
de regresso à madeira, e com ajuda dos pais, conseguiu recomeçar a vida. desta vez como pintor. a seu tempo, novamente em lisboa, arranjou outra mulher com a qual já vive há mais de um ano. é com ela que vai agora regularmente a fátima buscar a água benta que ela lhe prepara e dá a beber como terapia para os males que lhe ficaram do que foi "uma vida atribulada".