30.6.07

a ideia de john

uma fez cerimónia e não disse que estava a falar ao telefone. a outra fez cerimónia e não disse que estava a pensar. mutuamente se interrogando, uma respondeu que falava com o john, a outra respondeu que pensava numa ideia. só que a ideia em que uma pensava não andava longe (aproximava-se) dos interesses profissionais daquele com que a outra falava. desligada a ligação que provisoriamente as ligara, a que falava com o john ficou a pensar na importância das ideias na vida da outra, e a que pensava em ideias ficou a pensar na importância do john na vida da outra.

a proximação

sábado a fazer-se, devagar e divertido, de tentativas de aproximação: entre a recém-descoberta fuzzy logic (esqueci a forma consagrada da tradução portuguesa mas lembro-me da 'lógica vaga' sugerida pelo hdr) e a lógica chinesa do processo, assente nos princípios da continuidade e transformação; entre os idiosyncrasy credits, em que ontem tropecei ao ler sobre a importância (no que passou a ser conhecido como confucionismo) da falta de importância (social) da personagem histórica de confúcio. e, como também eu sinto haver em mim a thread running through it all, talvez consiga ainda fazer uma aproximação entre os resultados das duas aproximações.

29.6.07

para ir pensando

aqui está o texto no qual se defende que o homem (deveria ter escrito com h maiúsculo para não deixar de fora a mulher mas como, "as a rule", não uso maiúsculas, não posso - e além disso assim fica mais a nu o sexismo da língua) moderno se transformou no curator do espaço onde habita. por outras palavras, e como acentua o autor, nenhum de nós escapa à necessidade de ir fazendo as suas próprias instalações.
espero que o autor do blog 'ainda não começámos a pensar' me desculpe por estar a usar este texto sem a sua autorização prévia.

28.6.07

mais ou menos sic

duas frases de medina carreira, cuja entrevista, na sic notícias, vi com uma masala de sentimentos. a primeira aparece sob a forma de uma pergunta retórica: "num país onde ninguém chega a horas, faz algum sentido gastar um dinheirão para fazer um comboio que permite chegar ao porto 15 minutos mais cedo?". a segunda consiste num palpite: "a única razão que consigo encontrar para o governo querer construir na ota é por ser o sítio onde pode gastar mais dinheiro e gastá-lo mais depressa".

houvesse mais joes

o aumento do número de grandes investidores (de capital) que se estão a transformar em grandes coleccionadores (de arte), no reino unido e nos eua , ao elevar absurdamente o preço das obras, ameaça a renovação das colecções dos principais museus públicos de arte contemporânea nestes países. em portugal, a tendência manifesta-se em sentido contrário: são os elevados preços pagos pelo museu público que garantem ao coleccionador (de capital) e investidor (em arte) a renovação da sua colecção privada de arte contemporânea.

blunt

não me tem sido fácil perceber a qualidade do dia. também ainda é cedo...

27.6.07

quote do dia

"a vida não é como nós queríamos que ela fosse e muito menos como ela deveria ser". certo?

26.6.07

shuifuilou

neste meu gosto pelo gosto de cada um pelo seu trabalho, sinto um gozo particular pelo gozo dos cabeleireiros sempre que lhes peço um corte de cabelo mais ousado ou uma cor mais disparatada. não tem nada a ver com ganharem mais ou menos, como defende uma amiga minha a este respeito, e tudo com o brio profissional - desejo de reinventar pessoas e de descobrir novas formas de fazer o que se faz. na semana passada, como tinha vestida uma camisa muito encarnada, pedi à d. amélia para me fazer uma madeixa encarnada do lado direito. esta semana, eu queria uma madeixa azul. a d. amélia começou por me informar, com voz desconsolada, que não havia espuma azul. mas depressa teve uma ideia que a entusiasmou - e se voltássemos (falam muitas vezes na 1ª pessoa do plural como se a aventura fosse comum) ao 'caju', "que lhe fica tão bem"? mas desta vez, e a cara dela brilhava de gozo, não apenas uma mas várias madeixas espalhadas pela cabeça? não tive coragem para dizer que não... depois de espalhar uma bola, do tamanho de um mozarella, da espuma 'caju', pela minha cabeça, chamou a assistente para vir ver como tinha ficado fantástico o trabalho. dela, naturalmente ainda que encarnado em/por mim. enquanto (me) elogiava, também eu o trabalho, em frente do espelho, via pela primeira vez no meu cabelo as cinzas em brasa denotadas pelo nome da pequena praça onde morei, no sul da china.

berardo mais um

foi em 1969, quando comprava a mobília para a sua casa, na véspera do casamento, que o jb comprou o seu "primeiro quadro". segundo o ouvi contar hoje, na telefonia, havia na loja de móveis uma grande parede cheia de quadros. ele viu, gostou de um e comprou-o. só ao chegar a casa percebeu que se tratava de um "print": "o primeiro quadro que eu comprei e logo havia de ser enganado!" foi o comentário que fez para a mulher. ao que esta respondeu, bastante pragmatica, que se ele quisesse o original teria de ir comprá-lo ao louvre "pois lá é que se encontra a mona lisa".

25.6.07

contra a discriminação

"os bebés, unidos, jamais serão vencidos!" gritam os meus netos mais novos (ano e meio um e quase dois o outro), em uníssono e de braço no ar, quando os irmãos e primos co-irmãos mais velhos os afastam das suas brincadeiras.

apelido: posse ou usufruto

começou por me fazer confusão que uma mulher, depois de casada, trocasse o 'seu' apelido pelo apelido do marido. depois, percebendo que o 'meu' apelido era apenas o 'apelido' do meu pai, a questão tornou-se menos relevante. finalmente, ao constatar que o 'meu' apelido não seria o apelido de nenhum dos meus filhos, ela deixou mesmo de ser uma questão. num caso como no outro, para uma mulher, o apelido é sempre uma questão de tempo: o do pai dura-lhe o tempo que durar a sua vida, o do marido dura-lhe o tempo que durar o seu casamento. ao contrário dos homens, que têm apelidos teoricamente eternos, as mulheres têm apelidos que, na prática, são meramente provisórios. não creio que sem passar o 'seu' apelido ao(s) filho(s) uma mulher se possa apropriar, efectivamente, do apelido que herdou à nascença. até que isso aconteça podemos dizer, sem escândalo, que as mulheres não têm, verdadeiramente, apelidos.

24.6.07

apelo


de novo comunicável por tm.
o mesmo número.
por favor liguem ou mensagem
para eu ir recompondo a agenda!

de barrete a lembrete

one of the great distinctions between the left and the right in the intellectual world (…) is that left-wing people find it very hard to get on with right-wing people, because they believe that they are evil. whereas i have no problem getting on with left-wing people, because i simply believe that they are mistaken. palavras de roger scruton, numa entrevista ao independent on sunday, 2005, tiradas do estado civil, o único blog português cuja leitura realmente me importa numa busca pessoal de forma(s)
este post é comentado, num post posterior: "uma das coisas que mais aprecio na declaração de scruton é esta formulação « (...) i simply believe that they are mistaken». gosto que scruton fale em «engano» e não em «erro», e que diga que «acha» que os seus oponentes estão «enganados». é uma atitude honesta e saudável num debate: achar que o outro está enganado e em vez de ter a certeza que o outro está errado".
é ironico que sendo a forma o que realmente me atrai neste blog, é pelo conteúdo que guardo estes dois posts: a sua forma parece feita à medida da minha cabeça.

dizer ou ouvir?

audição dominical: colega que prepara ida a conferência internacional começa por se lamentar do preço da inscrição comentando que "tem algo de absurdo isto de termos de pagar tanto dinheiro para irmos dizer o que pensamos. ainda mais porque que eles depois publicam, em acta, o que dissemos e ainda voltam a fazer dinheiro com isso". e acaba acentuando que se a sua universidade não lhe pagasse esta ida, ele continuaria bem, como até aqui, pois não tem "verdadeira necessidade de ir lá fora dizer o que pensa".

a busca da forma

odeio com paixão com paixão a palavra 'conteúdos'. sou mesmo inflexível: pessoa que a use fica automaticamente proscrita para mim. é que as palavras são mundos e o mundo de 'conteúdos' é um mundo sem formas. quando muito encontramos 'formatos' (móveis, digitais, etc), mais nada.