26.6.08

sem título













mistura altamente implosiva
de culpa, tristeza e vergonha.

24.6.08

por "vossa excelência" ou por "tu" vamos todos digitando as nossas vidas dígito a dígito

quem ligar para o número 217897897 tem a oportunidade de viver por algum tempo numa sociedade que já acabou e noutra que ainda não começou. isto é, em pleno presente onde, como se sabe, coexiste sempre o que já foi e o que há-de ser.
é-se atendido por uma voz feminina, gravada, que depois de nos dar as boas vindas à caixa geral das aposentações nos fornece um primeiro rol de instruções do género "se pretende isto digite aquilo". neste serviço, digite o digitalizador o dígito que digitalizar (de 1 a 9 + "0 para voltar ao menu principal"), vai sempre parar a outro menu, numa espécie de sistema de chavetas dentro de chavetas. por exemplo, depois de digitar o 1, opção dos pagamentos, o digitalizador volta a ter de escolher entre digitar 1 ou o
o 2 ou o 3 ou 0 4 consoante "deseje" saber a data do pagamento da pensão de julho ou da de agosto, se é pensão de reforma ou de aposentação, etc. na maioria dos casos, andando de chaveta em chaveta, consegue-se a informação de que se necessita (muito mais do que deseja) sem nunca ter qualquer contacto físico com uma voz humana mas apenas com imagens de vozes cuja função, no entanto, não fica atrás da dos seus referentes.
está o consumidor-digitalizador já à vontade entre os simulacra, quando, de repente, se dá um verdadeiro curto-circuito: "se vossa excelência pretende falar com o operador terá de fazer o favor de aguardar em linha; lamentos no entanto informar vossa excelência que, devido ao elevado número de pedidos, a sua chamada só será atendida dentro de aproximadamente 1 minuto" diz-nos o simulacro de voz feminina.
isto, na melhor das hipóteses, pois a mesma imagem de voz também já me despachou no mesmo elevado estilo camiliano: "informamos vossa excelência que devido a um número invulgarmente elevado de pedidos não nós é possível atender neste momento pelo que a chamada de vossa excelência vai ser desligada." e pimba desligou-se mesmo o cabrão do telefone.

portuguese podcast: import/export

1. importa-se de falar um pouco mais devagar que eu não perebi o que disse?
2. a senhora não se importa que eu lhe tire algumas fotografias?
3. se não se importassem eu abria a janela para não fazer tanto calor aqui dentro...
4. tu importas-te que eu leve um amigo? / não me importo mesmo nada.
5. alguém se importa que eu fume? / desculpe mas eu importo-me.
6. pouco me importa que ganhe a suécia ou portugal.
7. não te importes comigo que eu que eu já estou bem.
8. o meu namorado é tão querido, importa-se tanto comigo!
9. o que importa é a gente gozar a vida porque tristezas não pagam dívidas.
10. para qualquer economia importa mais exportar do que importar.

23.6.08

em directo

- carrega lá elias!
- carrega...
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- vai!
- mais...
- dá-lhe!
- espera aí...
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe uma vez e pára!
- vá dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- espera aí um bocadinho...
- vá - dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- mais um pouco...
- dá-lhe!
- dá-lhe!
- dá-lhe!
...
a cada ordem que o mestre electricista grita do fundo do corredor vai sempre respondendo a velha campainha da minha porta, roufenha as mais das vezes, mas nunca deixando de reagir, paciente e obediente, à pressão nela feita pelo dedo do jovem aprendiz elias.