3.5.08

chegar ou não chegar is not the question

reencaminhei a um amigo o link de um post, aqui publicado, porque a história que nele contava tinha a ver com a profissão dele. no assunto escrevi: "não resisto a mandar-te conversa", em vez de "não resisto a mandar-te esta conversa", como era minha intenção. o que, mesmo sem pontuação, fez do substantivo um verbo e ainda por cima no modo imperativo.
ontem recebi um email no qual ele me pedia desculpa pela demora (na 'conversa'), referia uma nabice natural que o impede de colocar comentários no blog, elogiava umas fotografias aqui publicadas (raramente oiço elogios sem achar que estou a ser gozada), dizia duas ou três coisas doces e simpáticas (mais provas que por aqui andou), e terminava com o seguinte voto: "espero que te chegue".
como quero sempre "mais" de algumas pessoas da minha vida, ri-me com o desabafo (que achei divertido porque adequado a essa minha insaciabilidade selectiva) e apressei-me a responder-lhe dizendo, a brincar mas muito a sério, que era claro que não chegava, que se nunca tinha chegado antes porque havia de chegar agora, que nunca chega, etc. e tal.
hoje novo email do meu amigo vociferando contra a língua portuguesa que me permite ler 'que te chegue' como 'que te baste' quando ele tinha escrito 'que te chegue' na acepção de 'que recebas'; e comentando que sabe de mim o suficiente para saber que eu "não me contentaria com tão pouco" (deduzo que seja ao email que ele se refere).
fui então reler a nossa troca de emails e percebi que (1) num deles deixei de fora uma palavra que devia estar lá dentro (o que forçou o pobre a ler-me para não ser indelicado); (2) no outro meti lá dentro um sentimento que estava de fora (o que o obrigou a justificar-se de um "pecado" não cometido). ESTOU ENVERGONHADA.

2.5.08

sms

qual é a diferença entre o sonhar acordada ou a dormir? (algum) controle?

1.5.08

!viva o primeiro de maio!



dia do trabalhador comemorado
a trabalhar, privada e individualmente, nos meus aposentos (de trabalho).

na minha frente, esta reprodução de "operários", uma pintura da chamada 'fase social' da artista brasileira, tarsila do amaral (1886-1973).

grande 25 de abril

que só aqui neste bloguinho fez acordar dois links há muito adormecidos:
- o BUBA, que não postava desde o dia dos namorados (o que só prova o acerto do autor na escolha das melhores datas do ano)
- o ABREMARTA, fechado desde janeiro, depois de a autora o ter aberto para um filtro solar.
isto quer dizer que o 25 de abril conseguiu re-animar nada menos do que 2/5 do total de blogs linkados neste blog! nada mau...

30.4.08

aposentada

agora quase depois de, na 5 de outubro, ter assinado um papel a dizer que aceito aposentar-me nos termos da lei não sei quantas de não sei quantos de fevereiro.
como não li a dita lei não faço ideia dos termos por que se irá fazer a minha aposentação. só sei, e isso me basta por ora, que dentro de dias me retiro para os meus aposentos.

pilates

tenho dificuldade em dizer, a quem me pergunta o que é que lá faço, o que realmente faço lá. já ouvi falar em 'ginástica', em 'alongamentos' , e também em 'exercícios' ou 'treino muscular'. mas 'pilates', seja lá o que realmente for, é para mim, o supremo prazer da redução ao essencial. uma espécie de back to basics no sentido de retorno a uma vitalidade inicial que julgava perdida.
durante uma hora e meia, todas as semanas, sem dor nem esforço (a não ser financeiros) torno-me na minha própria respiração. fico literalmente reduzida ao levíssimo movimento do corpo a inspirar e expirar ritmadamente. a repetida alternância entre a expansão e a contração cala o eu-mental e assim amplifica, faz ressoar, a voz do eu-vital. que não é senão a música silenciosa do abrir-se e do fechar-se, do abrir-se e do fechar-se, do abrir-se e do fechar-se.

night session

ye che (夜车 ) isto é, "comboio da noite", é o segundo filme de diao yi'nan (刁亦男), um realizador chinês que diz ser mais cinéfilo do que cineasta (ver entrevista aqui). ele esteve hoje na apresentação do filme, no indie, onde volta a estar na próxima sexta-feira

(tongxuemen nimen yinggai qu kankan, tingting).
como pessoa parece ter a reserva e a modéstia do jia zhangke e como cineasta parece fazer parte da mesma "linhagem" , ou, como dizem os chineses, da mesma geração de cineastas (a 6ª).
se, como tendo a acreditar, os nomes dos filmes fazem parte integrante deles, o título deste é outro indício de que o filme não é um acto de militância política contra a pena de morte (como alguns o quiseram catalogar) mas uma história sobre a importância das relações humanas, sobretudo da relação homem-mulher: é no comboio da noite que a protagonista se desloca repetidamente à cidade onde tenta encontrar um homem com quem possa encetar uma nova relação amorosa. ao dizer isto não estou a negar a importância, para a história do filme, de o trabalho (a vida?) da protagonista consistir na execução de mulheres condenadas à morte; nem a importância, para a história da humanidade, de o bom cinema, mesmo de ficção, ser sempre documental. ora, e se como o mestre nos ensinou, a documentação da história serve para louvar ou para censurar, não admira que, tal como os príncipes do seu tempo tremeram quando ele escreveu o chunqiu, as autoridades do nosso tempo se assustem com os juízos morais explícitos ou implícitos na escrita do cinema. diao yi'nan contou que o filme ainda não foi apresentado à comissão de censura pelo que ainda não sabe se ele vai poder ser visto na china ou não. no entanto, acrescentou, é opinião dos seus amigos que viram o filme, que ele vai fazer tremer os congéneres actuais dos príncipes do tempo de confúcio.