4 years ago
21.2.09
invenção da paisagem
os olhos da j. são como um riacho de água escura e brilhante que canta entre o ruído das pedras e o silêncio dos musgos. os do b. são como um lago de águas ensombradas em cuja superfície parada nos podemos ver tal como somos vistos. os da m., com a sua imponderável qualidade atmosférica, são apenas a ilusão do céu a projectar-se na terra.
19.2.09
eclesiastes 4.9-12
não percebi como foi possível levar a sério o mui católico e prudentíssimo conselho que um simpático homem de meia idade, verdadeiro solteirão sem experiência conjugal, se lembrou de dar, numa noite de casino, às mulheres da sua denominação religiosa.
mais me custa agora a entender que se perca tempo a rebater, e energia a indignar, com a opinião de outro solteirão, este menos simpático mas da mesma idade e denominação, sobre o que seria "normal" na vida sexual de cada qual. parece-me francamente mais apropriado, e sobretudo neste último caso, encolhermos os ombros com a despreocupação e displicência da sabedoria popular para a qual, já se sabe há muito, vozes de burro não chegam ao céu. mesmo quando ditas, como aconteceu desta vez, quase às portas do céu e por interlocutores especialmente privilegiados no seu comércio com a terra.
things that matter
o olhar contente, de manhã, e o andar ligeiro, à tarde, de uma neta que cresce entusiasmada e perfeita.
a notícia de que a farmácia de que sou cliente fiel desde que me mudei (de algés) para aqui, se vai mudar, já no mês que vem (para algés).
a aluna a quem felicitei pelo trabalho do semestre e resultado do exame final ter-me escrito "isto": estou a adorar as suas aulas e isso faz com que também adore trabalhar e prepará-las cada semana.
a conjugação quase perfeita que hoje consegui entre as cores com que os meus calendários aparacem no iphone.
a semana já se ter desdobrado até quinta-feira sem ter passado uma noite vazia dos sonhos aos quais posso, uma vez acordada, ir buscar orientações para o dia.
a recuperação, ao pequeno-almoço, da qualidade do pão sempre medida pelo tempo que aguenta na torradeira sem se queimar.
a notícia de que a farmácia de que sou cliente fiel desde que me mudei (de algés) para aqui, se vai mudar, já no mês que vem (para algés).
a aluna a quem felicitei pelo trabalho do semestre e resultado do exame final ter-me escrito "isto": estou a adorar as suas aulas e isso faz com que também adore trabalhar e prepará-las cada semana.
a conjugação quase perfeita que hoje consegui entre as cores com que os meus calendários aparacem no iphone.
a semana já se ter desdobrado até quinta-feira sem ter passado uma noite vazia dos sonhos aos quais posso, uma vez acordada, ir buscar orientações para o dia.
a recuperação, ao pequeno-almoço, da qualidade do pão sempre medida pelo tempo que aguenta na torradeira sem se queimar.
18.2.09
os ausentes
e eis que a casa se transforma num barco a cuja leve amurada me encosto deixando o vento atravessar-me o corpo e o mar encher-me os olhos de água. o que é a prova, digo aos presentes, que para navegarmos basta pintar um barco e metermo-nos lá dentro. a água e o vento acederão quase de imediato à nossa convocação.
16.2.09
por apenas um euro
15.2.09
o número dos dias
"bons-dias" dizia sempre o meu pai independentemente de se estar a dirigir a uma pessoa ou a mais do que uma. por vezes antepunha a esta fórmula base um 'ora então' e noutras acrescentava-lhe um 'meus senhores' (ou 'minhas senhoras'). mais raramente (quando estava bem-disposto, creio) lançava sonoro o cumprimento todo por inteiro: "ora então muito bons dias meus senhores!", caso no qual o adjectivo, sempre no plural, aparecia intensificado pelo advérbio de grau.
o mesmo se passava com as 'tardes' e com as "noites" cuja qualidade ele também desejava e declinava no plural.
nunca mais ouvi a ninguém esta forma de cumprimento, até hoje de manhã me ouvir com uma familiariade estranha, a saudar a senhora da tabacaria: "então muito bons dias!"
o mesmo se passava com as 'tardes' e com as "noites" cuja qualidade ele também desejava e declinava no plural.
nunca mais ouvi a ninguém esta forma de cumprimento, até hoje de manhã me ouvir com uma familiariade estranha, a saudar a senhora da tabacaria: "então muito bons dias!"
à volta de steve reich
three tales
do aparecimento de quatro camélias, do começo da floração da amendoeira e da promessa crescente das túlipas.
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