lindíssimo este filme sobre o verão passado pelo dongdong (冬冬) e pela sua irmã tingting (婷婷) em casa dos avós. depois de termos visto o crescimento a fazer-se à beira-mar, vêmo-lo agora a ocorrer, ainda que numa idade menor, no espaço campestre. concordo que se pode (e até talvez se deva) ver este filme como uma (efémera) passagem pelo paraíso. MAS, poria todas as cautelas no uso do termo 'paraíso'. primeiro, porque nele está presente, em doses semelhantes, o bem e o mal, ou se se preferir, a maior e a menor decência humanas. depois porque a positividade do sentido 'rural' não se opõe a um qualquer sentido negativo do 'urbano'; como nos filmes anteriores de hou, os transportes públicos, que
ligam entre si os espaços, dominam a paisagem: os carris do caminho de ferro (a par, naturalmente, da omnipresente circulação do combóio); ecoados, acima, pelos fios da linha eléctrica, também rectos e paralelos (outro modo de ligação); as estradas secundárias, unindo as diferentes partes da aldeia (pessoas)e, sobretudo, a estrada principal, outra linha de ligação, pela qual as crianças regressam, de carro, à casa dos pais, na cidade. linha diferente das outras porque marcada pelas curvas e porque marcadora do fim da história e do (re)começo da vida, ultrapassada que foi, para as crianças, a inocência infantil (com que tinham chegado). finalmente, porque porque não se trata de qualquer paraíso perdido: do ponto de vista interior, ele vai com eles, dentro deles, e do ponto de vista exterior é um espaço real onde eles podem sempre voltar. para fazer filmes, por exemplo. se em
feigkuei laide ren se abordava o crescimento a partir da relação filho/pai, em
dondongde xia qi, é muito, também, a relação filha/mãe que é pensada. lindíssismo. lindíssimo. humaníssimo. humaníssimo.