7.4.07

tu cá tu lá

a minha amiga N. é um mundo por descobrir. acaba de me contar que além de ter conhecido o Zeca Ruço, tinha mesmo tomado a iniciativa, em pleno tribunal, de afirmar que até o tratava por 'tu'.
segundo me disse, tinha-lhe feito alguma confusão o facto do tipo ter umas sobrancelhas cor de cenoura debaixo de uma cabeleira muito preta. mas, deduzo a posteriori, discreta e delicada como é, nunca lhe terá feito perguntas a esse respeito...

bastante extra-ordinário

6.4.07

Faye Turner na imprensa

excelente artigo de Polly Toynbee (Guardian) a recordar o longo caminho que ainda falta percorrer para a verdadeira libertação dos sexos, como ela diz, dos seus "pink and blue fates"

5.4.07

Boila! a importância do nome

A company in Changsha, capital of Hunan Province, that helps couples name their newborn has sparked controversy over the exorbitant prices it charges.
The company charges 3,386 yuan ($437) for up to 14 name choices, which it says convey strong personalities suitable for the baby.
The naming fee is more than a monthly income of a local white-collar worker. The naming company, however, argued the expensive naming fee is worth paying because a good name will benefit a person for a lifetime.

Changsha Evening News

em segunda mão

o "outro" cartaz, ou antes, O CARTAZ.

identidade nacional

os sons da missa, transmitida pela rádio, enchem o táxi apanhado num domingo morto, na praça de londres. peço para baixar o som pois um dos buracos por onde ele sai está mesmo atrás dos meus ouvidos. o motorista acede mas continuo a perceber o que o padre diz na sua prédica. fala sobre a misericórida. no saldanha, vazio, pergunto-lhe se é católico e ainda o oiço dizer que sim. entrados na deserta fontes pereira de melo, vejo à frente de nós, duas pessoas fardadas de ciclistas (em encarnado), pedalando alegre mas cuidadosamente, lado a lado, pelo corredor do bus. sorriem-nos quando os ultrapassamos e percebo serem dois homens e de ar 'estrangeiro'. sorrio back e nisto a indignação do motorista ("estas bestas ainda têm lata para se rir de nós!") cala a compaixão do padre. mexendo-se agitadamente no assento faz-lhe sinais de que nada têm de circular por ali. os estrangeiros olham-nos verdadeiramente espantados.
olhe que eu acho que eles estavam apenas a cumprimentar-nos, desta vez é a minha voz que cala a do padre embora para, tal como ele, a defender a misercórida. além disso, lá fora (adoro esta expressão sem correspondência lógica, não dizemos 'cá dentro' para nos referir a este país), a maioria das cidades tem corredores para se andar de bicicleta por isso eles devem achar que estão a descer a rua pelo sítio certo.
sinal vermelho por alturas de uma zara ou loja de grávidas, ou zara para grávidas. o carro pára fora do corredor do bus, coladinho às bicicletas, ainda lado a lado. a indignação do motorista atinge o paroxismo. os impropérios calam de vez a voz da misercórida. o repetido gesto de juntar e separar os dedos indicadores violentamente espetados para a frente, sem a audição do comentário que o acompanhava ("e continuam lado a lado os filhos da puta!) devia parecer uma obscenidade aos ciclitas que, de resto, começavam a mostrar os primeiros sinais de medo.
descansei na passagem do encarnado para o verde. a prédica continuava a girar em torno da misericórida. por momentos, tive a esperança de que ela tivesse algum efeito no crente que me conduzia. sol de pouca dura, no entanto. sem nada que os impedisse de avançar, no corredor do bus, os ciclistas, talvez até pelo susto, aumentaram a velocidade (de passeio) a que seguiam e, sem saber que punham em risco as suas próprias vidas, ultrapassaram, lado a lado (pela esquerda, claro) o taxi forçado a marcha lenta atrás de um autocarro.
a prédica continuava mas a palavra era agora repetida em latim. ora, se em português não tinha funcionado... pouco havia já a esperar. com efeito, uma vez ultrapassado o autocarro, com grande barulho de mudanças e tubos de escape, o motorista do taxi, literalmente a espumar de uma raiva que me pareceu nacional e masculina, passou um tremendo e alarve bigode ao ciclista que vinha do lado de fora (que, juro, quase foi derrubado), assim conquistando, finalmente, o seu legítimo lugar no corredor do bus.
entre o marquês e o rato pensei nas várias coisas que me apetecia fazer e dizer. ao começar a subir a alvares cabral percebi que não já tinha tempo. nem pachorra.
ainda hoje sinto o estúpido desejo de pedir desculpa aos ciclistas. em nome provavelmente de uma identidade nacional que há tanto tempo carrego como uma cruz.

obrigada guida

acabo de saber que estou agora (res)guardada no armário do quarto da AP. tens ideia do que é que isto potencia nesta retoma de trabalho interior?
para começar voltei a dormir no quarto dos meus pais. para acabar voltei
a ver a porta a fechar-se-me na cara (aqui dentro está escuro e silencioso, o que ajuda a imaginação a funcionar e por isso não consigo dormir).

hospital da luz

curiosidade satisfeita: a lente foi de 18. sei agora que a pedida, de 15, só apareceu uma hora depois. efectivamente teria sido difícil esperar, com a incisão feita, 60 minutos, pela lente indicada.é colocada portanto a única que está à mão. do cirurgião. e assim não ganhei 3 pontos (como cheguei a imaginar, no meu eterno optimismo) mas perdi 4.
F...-SE!
e no entanto, era previsível. bastava ver os acabamentos escandalosos da construção, os espaços totalmente desqualificados, o mau gosto da cor dominante (popopaca) que das paredes salta para os lenços e mocassins das enfermeiras, a brutalidade e soturnidade do ambiente. em suma, a arquitectura de pato bravo - entre o palácio de justiça e a universidade privada.* gostava de saber quem foi o autor.
acrescento, ao comentário do taxista de hoje: "o que é que a senhora quer, nós nunca tivemos empresários, só temos merceeiros - é o continente, o jumbo, e mais os não sei quantos."
além de 'merceeiros' começamos agora a ter também 'enfermeiros': isto é, financeiros que investem na 'saúde', ou, vistos por outra lente (15 ou 18?), usurários a fazer negócio com a doença.

* para quem achar que a descrição é feita out of ressentimento, devo dizer que tenho testemunhas de que a apreciação (arquitectonica) foi feita antes da intervenção (cirúrgica)

grafitis

num programa de rádio no qual se perguntava aos ouvinte se consideravam os grafitis como 'arte' ou como 'vandalismo', uma sábia sentença :
"... não é que a arte tenha de ser bonita. a arte até pode ser feia. como o picasso, por exemplo. só que a arte a gente não temos que ir ver. é diferente os grafitis."

teste desta semana

3.4.07

belleville

só hoje consegui perceber como funcionavam as linkagens. por isso é que só hoje vai a bela, mas nada doce, vida. quanto à tua pergunta: claro que a expressão era 'pessoas sem documentos'. só neste país é que se usa os 'ilegais' para aqui e os 'ilegais' para ali. em todos os orgãos de informação, rtp 1 e 2 incluídas. a pontos de os próprios estrangeiros sem papéis a terem já adoptado no seu discurso. ainda ontem me insurgia com uma jovem brasileira que me dizia ser 'ilegal'. nem sequer era 'estar'...

KM

tanto podia ter sido a 3 como a 5. a verdade é que (não) foram.
acaba por ser hoje a camisola KM (mesmo sem decote em v)

2.4.07

resistência 4

vítor hugo seixas gomes quer carrinha em portimão assinado vítor hugo seixas gomes

resistência 3

- oh mãe porque é que o pai me trata por 'pá'? conta a mãe do menino-bebé de 5 anos ressentido pelo 'pá' que não ouve na relação do pai com as irmãs.
- e você não lhe disse que era apenas por ele ter uma pilinha?
tinha dito.

1.4.07

resistência 2

- quem diz que os homens choram às escondidas nunca adormeceu um filho ou um neto: viram para nós a cara, da qual escorrem, públicamente, as lágrimas e o ranho, para que vejamos a sua tristeza. gemem alto e gritam de boca aberta para que oiçamos o seu desgosto.
- os bébes do sexo masculino ainda não são homens...
- anjinhos - como se nascessem sem sexo?
- não. nascem com sexo mas sem género. nós é que lhes construímos o género.
cumprido o sacramento do baptismo, adormeceste finalmente ao meu colo a fazer festas no meu pescoço. só pelo teu corte de cabelo percebia que não eras a tua irmã (nem o teu pai, for that matter)

resistência 1

"quem pode resistir a uma criança?"
não será possível fazer um texto, um conto, um romance, uma vida, apenas com frases alheias? o prazer de escutar.