4.5.07

lista em aberto

a pedido de uma 'família', aqui ficam os mais correntes nominhos dos netos (ordenados por ordem de nascimento)
1. clarisca, lala, clarimunda, kainha, rabudinha, lavradora, pastelinha, pastelona, refilona, minha-kainha, etc
2. mimas, yimi, mimo, desdentada, miminha, macaca, miscas-lariscas, yiminha, emilinha, emiliana, mimó, ika, mim-possible, etc.
3. juca-laruca, larantuca, jucalina, juliana, juco, gritona, juja, lamentuja, tuja-muja, princesa, barbie, etc.
4. fanfan, fanico, fanfas, fisco, fiscas, fiscarreta, piscarreta, lavradorzinho, macaquinho, neto preferido, fanfarrão, super-rapaz, etc.
5. maomao, maoinho, maoyi, mocas, moquinhas, batatinha, filho-do-guicho, batatinha doce, guicho-guichinho, etc.
6. gunças, gugu, teja, teco, teco-teco, teca, teresca, gégé, bébé da avó, minha neta filha-da-catina, etc.

nominhos

sou muitas vezes 'acusada', pelas minhas netas, de lhes 'inventar' (muitos) nomes. é verdade, cada uma dispõe de, pelo menos, uma meia dúzia de 'nominhos' em circulação mais ou menos permanente. eles reflectem, acima de tudo, a minha relação com a nomeada. são portanto textos que variam com os contextos: idades, estados de espírito, personalidades, aspirações, humores e amores. por vezes criam sistemas entre si (as 'raparigas', os 'rapazes', os 'filhos da filha', os filhos do filho', os 'mais pequenos', os 'mais crescidos', os 'do meio', os 'bebés', 'os que ainda não falam' ou os 'que já andam'. há netos com nominhos que são nomes chineses e há os que ainda não têm esse tipo de nominho.
nomear é, admito, um acto de poder sobre o nomeado. não será por acaso que os nominhos dos filhos constituem actualmente listas fechadas ao passo que a nomeação dos netos é cada vez mais produtiva, um processo verdadeiramente em aberto. neste caso, acto de afirmação da posse amorosa do 'objecto' do amor, ou, noutra formulação, de apropriação amorosa do 'outro'. assim, a interrupção do uso de nominhos, inventados e/ou legitimados, individual ou socialmente, traduz um desinvestimento amoroso, uma desistência da fantasia sobre a posse amorosa do outro.
é assim que interpreto o facto de um ex-marido, que nunca, durante a nossa relação, me tratou pelo nominho por que sou socialmente conhecida e tratada, mas sempre e apenas pelos 'seus' nomes 'meus', i.e., todos inventados por ele (num processo nada criativo, no entanto, pois se tratava do mesmo repertório usado com as suas ex mulheres-enquanto-namoradas e, é de notar, com a sua descendência do sexo feminino) ter passado a tratar-me pelo meu 'verdadeiro' nominho afectivo/social - aquele em cuja origem ele não meteu prego nem estopa. entendo a sua nova forma de tratamento menos como uma rejeição do passado e mais como uma aceitação do presente. como a força da realidade do real ou a tranquila neutralidade das coisas serem como são.
o mesmo se passou com uma ex-sogra(sem relação de parentesco com o ex-marido acima mencionado): divorciada do filho deixei de ter direito à versão deturpada do meu nominho afectivo-social através da qual ela se afirmava e afirmava a intimidade da nossa relação. uma estratégia afectiva que de resto ela também usava (usa?) com uma das suas filhas.
por coincidência ou não, o nominho por que essa ex-sogra me baptizou, enquanto- nora, era idêntico àquele com que o meu pai me tinha nomeado, muitos anos antes, decerto em afirmação própria e por oposição ao nominho inventado pela minha mãe (o que pegou socialmente). nome pelo qual ele sempre me tratou e que morreu quando ele morreu.

macau é microcosmos da china

defende o autor deste texto sobre as manifestações do 1º de maio na cidade do santo nome de deus

3.5.07

o passado e o presente

este comentário é de mau gosto
elaine sciolino, no herald tribune, compara o tom do debate entre segolene royal e nicholas sarkozy ao de um casal "bickering at the breakfast table, with the husband barely restraining his sense of superiority and the wife attacking him for not listening to her".
mas deste o que dizer?
iñaki gil, no el mundo, distingue os candidatos deste modo: "un hombre de acción contra una madre coraje"; ela é "la Francia del corazón, la que promete consuelo para todos los afligidos", ele é "la Francia de la razón, la que le dice al enfermo que está grave, que va salvar el pellejo pero que hay que operar". natural portanto a conclusão: "los franceses decidirán si quieren un médico o una enfermera"
olha, por exemplo, isto: aos 15 anos tive um namorado de olhos verdes que queria ser médico oftalmologista (o que acabou por acontecer) e que, em momentos de maior paixão, me fantasiava a mim como (sua) enfermeira.

2.5.07

women (e tamen)

a leitura deste artigo faz-me pensar se aquilo que os humanos têm dentro e fora da cabeça não depende mais da morfologia sexual do que da constituição cerebral. a denúncia que é aqui feita interessa-me sobretudo pelo que dela se pode extrapolar para situações nas quais a discriminação das mulheres, por ser menos exterior, menos explícita, pode ser-lhes, talvez, mais gravosa, pelo menos a longo prazo. não será mais fácil lutar contra a proibição, explícita, de sair à rua sem nada FORA da cabeça do que contra a visão-do-mundo, implícita na acusação de não se ter nada DENTRO da cabeça, apesar de se ter uma carreira política atrás de si e uma difícil vitória contra o preconceito masculino 'socialista'? não são as armas, literais ou figuradas, tangíveis num caso e intangíveis no outro? não é verdade que a discriminação das mulheres aparece, num caso (como resultado do que seria uma tradição obscurantista e uma cultura essencialmente fundamentalista) e (des)aparece no outro (sob o que seria um iluminismo libertador e uma cultura moderna historicamente relativa e plural?

prazeres nocturnos

era uma casa sem corredor(es) nem portas: tudo dava para tudo. era, mais uma vez, uma casa com restos anteriores, moradores. nunca são casas novas sem memória(s). no quarto da filha, simultaneamente neta (das cores preferia o cor de rosa), deixaria o grande tapete de cores um pouco fade, lindíssimo.
no teatro, onde a mulher ia sozinha pela primeira vez (perguntando-se porque é que as idas ao cinema têm regras diferentes no que toca à companhia?) tudo era inventivo. e agradou-lhe.

1.5.07

1º maio

HINO DOS TRABALHADORES

De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Duma Terra sem amos }bis
A Internacional.

Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!
Sejamos nós quem conquistemos
A Terra-Mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Duma Terra sem amos }bis
A Internacional.

troca

manhã do dia 1 de maio. no quiosque do rato, em vez da habitual senhora de carrapito branco e saia comprida, lindo rapaz, de pele castanho escuro e olhar muito brilhante.
- bom dia, era o público se faz favor.
- só tenho o de ontem. quer?