16.6.07

exemplo a seguir

em hong kong, o charrua não seria processado pois os seus alegados palavrões não foram ditos nem num aeroporto nem numa estação de combóios. muito menos no interior de uma carruagem...

fala vs escrita

irrita-me a nossa envergonhada relação com a escrita dos chamados palavrões. porque é que não os escrevemos se os dizemos? como é que qualquer juiz irá julgar o grau de ofensividade das "palavras começadas por 'f', 'd' e 'p'" que o charrua teria proferido a respeito do sócrates? (também me irrita que isto me interesse mas isso é outra questão...). como é que ele, e nós, vamos perceber se se trata de palavrões, e não apenas de palavronas ou até de meras palavrinhas, se não temos a certeza de que palavras se trata. a uma primeira leitura, oiço no 'f', claramente, 'foda-se'. no entanto, em conjunto com o 'd' e o 'p', ocorre-me 'filho da puta'. o que me obriga a voltar atrás para rever a leitura do 'f'. ao mesmo tempo, sinto a fragilidade desta minha leitura crítica pois não tendo grande repertório no que toca a palavrões nada me garante que o 'd' e o 'p' não sejam abreviaturas de terríveis obscenidades. deresto, esta hipótese parece pouco consistente já que dificilmente alguém (mesmo que seja juiz) considerará a preposição 'de' e o substantivo 'filho' como palavrões. na minha opinião, a única vantagem do julgamento de charrua será a de, por um lado, aumentar o conhecimento léxico vernacular do português e, por outro, ajudar a diminuir o fosso que, nas sociedades conservadores, separa a escrita da fala.

o espirito dos lirios

que imensa neura, lá voltamos à questão da licenciatura do pm (sigla que neste post denota o sócrates e não o pedro mexia) ser ou não ser. porque raio é que não consigo não deixar de me perguntar (i.e., interessar) sobre quem estará na origem da queixa que transforma o homem do blog em 'arguido'? se for o próprio pm x, se for o dc não sei quantas y... e por aí fora... porra, tanto que queria continuar hoje a pensar nas ligações entre a ópera chinesa nuo e o teatro japonês noh - que tanto gozo me tem dado desde que, na quinta-feira passada, vi dançar o espírito dos lírios (aqui fotografado num teatro em tóquio). e logo a (ir)realidade se volta a impor fazendo a balança pender para o lado do princípio que não é o do prazer.

B.Leza

há muito pouco tempo dizia ao realizador do 'lisboetas' que quando queria dar um presente português a um estrangeiro lhe oferecia o seu filme. tal como quando, em lisboa, queria levar um estrangeiro a um sítio português o levava ao B.Leza. explicando que, nos dois casos, se tratava de 'coisas' (e são tão poucas) que, para mim, representam o que de melhor encontro em portugal. na certeza de que há mais pessoas que não se resignam a perder este espaço, tão mágico e tão real ao mesmo tempo, deixo o link para quem quiser assinar a petição a favor do B.Leza, "lugar de integração" onde a "lusofonia" (a real e não a institucional) "ampliou alma e alegria". e apelo a quem estiver ligado a qualquer das candidaturas - democráticas - à presidência da câmara de lisboa, que a pressione para incluir a preservação do B.Leza na agenda da campanha.

14.6.07

a norte olhando o sul

acaba de ser descoberto, na china, o pássaro de zhuangzi! falta agora provar que na sua origem está o peixe. por nostalgia do chinês clássico (e do sul) transcrevo, e traduzo, as primeiras linhas desta bela história da tradição daoista:
北冥有魚,其名為鯤。鯤之大,不知其幾千里也。化而為鳥,其名為鵬。鵬之背,不知其幾千里也;怒而飛,其翼若垂天之雲。是烏也,海運則將徙於南冥。南冥者,天池也。
"na escuridão do norte há um peixe, o seu nome é kun. o tamanho do kun é tão grande que não se sabe quantos milhares de li ele mede. transforma-se em pássaro, o seu nome é peng. o dorso do peng é tão grande que não se sabe quantos milhares de li ele mede. levanta voo e as suas asas parecem nuvens no céu. este pássaro, quando o oceano se movimenta, parte para a escuridão do sul. a escuridão do sul é o lago do céu."

13.6.07

trocas


o perigo de ser 'josé' (3)

desacordo entre entre casal a quem proponho o tema 'o zé faz falta":
ELE hesita: acho que é aquele que é contra a imigração, o zé pinto coelho. tem todo o ar de ser de direita, o cartaz...
ELA tem a certeza: que ideia, é o sócrates, é o josé sócrates, propaganda do governo agora para as eleições.

muitos parabéns

a mão da providência

casamento mais divertido da minha vida:
1. noivo talvez, não, de certeza, é o sobrinho mais querido do (meu) mundo
2. noiva (que não conhecia) tem uma cara gira e inteligente, pessoa muito pessoa, me pareceu.
3. noivos, em frente do altar, não pararam de conversar e rir baixinho um com, um para, o outro, até beijinhos deram, um doce namoro que durou todo o tempo da missa.
4. casamento já tem dois filhos crescidotes, crianças amorosas no sentido duplo de muito amadas e muito amáveis (facto a que a igreja, nas palavras do sr. padre, e sempre bastante atrasada em relação à vida, não fez, no entanto, vista grossa, pedindo aos pais para os receberem com muito amor...)
5. o noivo e a mãe, que fazia anos nesse dia, a dançarema valsa inaugural, abraçados um ao outro, também com beijinhos à mistura, o que mostrou, a quem quis ver, como é possível ter dois amores.
6. copo d'água SEM lugares sentados o que permitiu a toda a gente (menos a mim...ver último ponto) andar a saltar de primo para sobrinha ou de amigo para prima, fugindo aos chatos e procurando os animados, sem passar pelo suplício de ter o rabo preso ao laço de uma cadeira.
7. montes de crianças, velhos em número razoável (agora todos da minha geração...) e algumas grávidas
8. comes extraordinários, de sabor e cor, entre os quais ninguém mais vai esquecer as sopas frias: cinco cores (amarelo, encarnado, verde, azuil e preto) servidas em pequenos copos altos muito esguios do qual se elevava um palito, como obelisco encimado por delicada iguaria de gosto diferente (queijo, biscoito, etc) de forma diferente (quadrado, redondo, triangular, etc), de textura diferente (macio, áspero, etc).
9. laxt mas não lixt, enquanto pousava, com uma prima, para uma fotografia, bem colocadas no meio da sala, a minha saia, como que por milagre, desceu rápida e levemente pelas minhas pernas abaixo e ficou no chão, círculo negro em roda dos meus sapatos de mahjong ...

12.6.07

toilette de casamento

sobre a pochette: "ena, côco!"
sobre os sapatos: mas eles dão para andar na rua, eles (os chineses) fazem-nos para andar na rua?
sobre a saia: essa é que é a da tia isabel?
sobre o desejo de sapatos-encarnados: por amor de deus não leve os sapatos do homem aranha...
sobre o top: mas isso é um fato de banho!?
sobre a maquillage: a m. pinta-se é muito bem!

10.6.07

o perigo de ser 'josé' (2)


okay. por esta é que eu não esperava. o arquitecto manuel vicente também não sabe quem é o ‘zé’. ou melhor, não sabia até hoje. segundo me contou, viu um cartaz do zé no qual leu que ele fazia falta. depois, reparando na assinatura por baixo da frase, “josé fonseca e costa”, pensou tratar-se do anúncio a um novo filme português. a partir dali não voltou a pensar no assunto. até hoje ter descoberto, através de um motorista de taxi, que o filme era do josé sá fernandes.

grandes portugueses

durante o telejornal das 8 da rtp 1, numa reportagem sobre a escola de fim de semana onde muitas crianças filhas de pais chineses, aprendem, ou aperfeiçoam o mandarim, dois rapazinhos (entre os 6 e os 7 anos), explicam à repórter algumas das diferenças entre o português e o chinês. um, situado no plano da oralidade, salienta o que seria a maior dificuldade do chinês devido à existência de tons, a que ele chama ‘sons’; outro situa-se no plano da escrita, e exemplica o que, em seu entender, distinguiria os dois códigos: “então... em chinês, um caractere é assim como uma palavra, só que na nossa língua, as palavras se escrevem com muitas letras - cinco ou seis ou sete - mas na lingua deles se escrevem só com um caractere”. ouvir, nesta última frase, o uso certeiro dos pronomes possessivos (que aqui sublinho), redimiu para mim este sempre terrível dia da "raça" ...

mutilação filial



vida animal

este domingo, no meu quintal, viveu-se o que poderia ser um episódio do national geographic: um velho peixe saltou do tanque para uma cadeira na qual acabou por morrer sentado; um pássaro, recém nascido, caíu do ninho, no topo da palmeira, e foi devorado pelas tartarugas.