19.6.10

altares do solo

perdi o meu para tu encontrares o teu. não terá sido em vão.

16.6.10

o valioso tempo dos maduros*

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial! 

Mário de Andrade
(1893-1945)
enviado pela patrícia v.


* sempre me divertiu o facto da palavra "maduro" significar tanto "com idade" como "sem juízo".

13.6.10

jeannes (sem arco nem flecha)

imersas em intermináveis conversas que ora (nos) versam (n)o individual reverso ora (n)o incontroverso dual comum - por vezes adverso, nem sempre controverso. muitas vezes dispersas em nossas vidas tão inversas. nunca introversas.