28.7.07

varandinha


palavras? para quê?

28 de julho



noite de lua cheia.
homenagem à teresa b.

26.7.07

peça para um actor

diz-se, talvez para consolar os solitários, que a solidão é inerente à condição humana já que todos nascemos e morremos sós. o argumento pode ser bem intencionado mas comigo não pega. não me parece que esses dois fugazes momentos, de entrada e saída em cena, contem necessariamente mais ou melhor do que o tempo que entre eles medeia, o da própria representação da vida.

silly season

o mui falado casal paulo (bcp) & paula (psd) gosta de pintura, revela a última visão. ela prefere a 'arte sacra', ele aprecia 'almada, amadeu, antónio sena, falcão trigoso, miró e klee'. não é que eu tenha alguma coisa contra a pintura do ft mas francamente parece-me que ela destoa um pouco neste conjunto...

25.7.07

xu bing

o chinês antigo tinha uma palavra para designar as marcas deixadas na pele de uma pessoa fulminada por um raio: tianshu, isto é, 'documento do céu'. ou porque foi diminuindo o número de pessoas em cujo corpo o céu traça os seus sinais, ou porque os humanos foram deixando de os saber interpretar, o facto é que actualmente a palavra apenas quer dizer 'escrita abstrusa, incompreensível'.

auto-retrato

li, num texto, assim pró-comparativo, sobre duas fotógrafas norte-americanas (cuja conclusão parecia ser a de que, além de serem as duas do sexo feminino e de ambas se terem suicidado, nada mais havia de comum entre elas) que (e talvez fosse esse afinal um quadro comum de referência que permitisse ao autor, não me lembro quem, compará-las entre si) que tanto uma com a outra "padecia de um mal-estar anterior à realidade". um mal estar anterior à realidade? começou por me parecer uma frase estupenda e cheguei a pensar que, sendo mulher (embora não fotógrafa nem suicida), o meu mal-estar, sem nome nem origem, poderia ser, como o delas, anterior à realidade. mas, à medida que a fui repetindo, durante o resto do dia, foram-me surgindo várias dúvidas: o que é que existe antes da realidade? por este autor, o mal-estar pode existir... mas, se assim for, qual é a sua realidade? e haverá mal estares posteriores à realidade? qual é a ligação entre o mal-estar (ou o bem-estar, for that matter) e a realidade? até que, de frase inteligente ela se transformou em frase inconsistente. continuo sem saber qual era a natureza do mal-estar das duas fotógrafas mas passei a conhecer a natureza daquele de que eu padeço: não é nem anterior nem posterior à realidade, é a própria realidade.

extra-ordinário

não sou pessoa para gostar de estar em cima do acontecimento. não vou dizer que prefira estar por baixo dele (o que muitas vezes acontece); ao lado parece-me a posição ideal a adoptar face às erupções no, e perturbações do, ordinário que são todos os acontecimentos. começou por ser um estilo pessoal que se foi transformando em modo de vida alternativo.

tua


a rainha ia nua

23.7.07

leitura de férias

neste dia de qualidade diferente da esperada não espanta que me tenha "calhado" para ler um texto intitulado "a colonial anomaly: naming, definitions and theoretical questions". é o que chama, chamava, o pascal, vivre à propos , isto é, estar disponível para responder ao momento tal como ele se nos apresenta. posição teórica que defendo e atitude prática que tento seguir.

a cor dos prazeres

de manhâ é o espesso castanho muito escuro, quase preto, o morno do dourado, o verde oliva fluido e brilhante, a macia frescura do encarnado; de tarde é o mais lúcido de todos os azuis, numa textura de seda líquida sobre as sombras esverdeantes, e, naturalmente, a cegueira-bebedeira do amarelo. à noite, como se sabe, todos os prazeres são pardos.
(apetecia acrescentar, como na praga de alvor, "jardos, cenzentos)

no comments

numa pequena amostra do parque automóvel britânico (32 carros apanhados pelas cheias registadas em inglaterra numa foto hoje publicada pelo público) descubro, com a obsessão que me caracteriza, que 11 são brancos, 5 encarnados, 3 azuis e 2 verdes. dos restantes, 10 são pretos e (só) um é cinzento. é só fazer as contas e comparar...

22.7.07

dia às avessas

hoje, como o dia amanheceu cinzento e chuvoso, as pessoas ficaram na cidade e as gaivotas foram para a praia. às 11 da manhã não havia uma pessoa entre a multidão de aves, paradas e caladas, lá em baixo (o novo tm tem uma câmara tão bera que não posso provar com as imagens a veracidade da informação); e cá em cima não voava uma única gaivota por sobre o bando de humanos activos e ruidosos. mas no interior das duas chaminés da minha casa, situada no espaço da neutralidade entre a praia e a cidade, os gritos lancinantes e os gemidos doridos continuam como se nada se estivesse a passar lá fora.