6.7.07

sanidade moral

tem o seu quê de romântico, admito. mas lembro-me do prazer que tinha em pensar em timor como um país democrático no qual uma população maioritariamente cristã era governada por um executivo chefiado por um muçulmano. isso quase me bastou para, sem grande nem fiável informação, tender desde sempre para me por ao lado de alkatiri contra os bispos católicos e o também mui católico par xanana-horta. escusado será dizer que exultei agora com os 30% que a fretilin, de alkatiri, ganhou as eleições. e que me indigna, para além das palavras, o golpe preparado por xanana (cujo partido apenas teve 20% dos votos) para voltar a afastar a fretilin do governo. mas, ao ouvi-lo hoje defender que a aliança, como ele chama ao saco de gatos a que preside, tem de formar governo por uma questão de respeito pela vontade da maioria da população, faz-me duvidar, também, da sua sanidade mental.

falta a lena

ao ouvir hoje uma apoiante do antónio costa a comentar ironicamente que a sua candidatura é que devia tomar como slogan "o tó faz falta", senti pena da helena roseta cuja estratégia eleitoral impede de fazer falta seja a quem for. numa campanha assente na "união municipal" (dos sete, não dos 12, suponho), parece desaconselhado o recurso ao slogan "a lena faz falta". por outro lado, também não a estou a ver a prescindir do seu nome e foto em prol dos nomes e das fotos dos sete, encimadas por frases como "fazem todos falta" ou "todos de mãos dadas".

espírito santo saúde

é o aliás do hospital da luz, já aqui alvo dum post a respeito da falta de qualidade dos serviços que lá me foram prestados: dez minutos, em plena sala de operações, com o olho preparado, isto é, anestiado e cortado, à espera da lente que nele havia de ser implantada, já que uma ajudante não a tinha ido buscar previamente; dez minutos animados pela enorme descompustura que, muito justamente, o cirurgião pregou à dita ajudante, e, sobretudo, pela histérica reacção desta (cujos gritos e até o que me pareciam pontapés em portas, se prolongaram pelo chamado período de recobro, diálogo entrecortado por ordens e contra-ordens "vá buscar imediatamente uma lente 15 ao armázem", " ela já foi", "vem daqui a dez minutos, "mas tem de vir já, neste mesmo momento", e, finalmente, a sentença final: "não há lentes 15 em armazém"; dez minutos que pela aflição e medo com que os vivi me pareceram dez horas e que culminaram na implantação da única lente que havia ali à mão, de 18, que resolvia o problema da catarata mas não o da visão - o que me fez ter de continuar a usar óculos ao contrário do que ficara combinado com o cirurgião.
passados três meses e meio desta simpática (co-)operação, pela qual paguei 2500 euros, logo à cabeça, recebo (finalmente) o recibo. a sua entrega, no adse, gera grande alarido entre os funcionários: eu estava a entregar uma fotocópia e não o original - espírito santa nos valha, desde quando é que o adse aceita documentos não originais, tem de trazer o original, a senhora não vê que isto é uma fotocópia? não tinha visto, por culpa dos 18 da lente, e lá telefono, resiliente, para o hospital da treva. peço para me ligarem para o serviço onde se trata de pagamentos, recibos e facturas: "esse serviço só funciona às quartas-feiras."/"devo ter explicado mal, queria falar com a secção das factura - pagamentos"/ "pois, mas como eu disse, essa secção só funciona à quarta-feira"/"a senhora deve estar a brincar comigo... então num hospital com a dimensão e prosápias do vosso só se pode tratar de pagamentos à quarta-feira? desculpe mas eu quero mesmo falar com alguém que me resolva uma questão relacionada com uma factura". para tornar mais curto um post muito longo, acabei por ser transferida para uma voz capaz, pelo que deduzo, de tratar à sexta dos assuntos da quarta: "mandaram-me uma uma fotocópia em vez do original e a adse não aceitou..."/"não pode ser, nós enviámos o original, aqui nos processos é que ficamos com as fotocópia"/"pois mas eu, que estou com o papel na mão, digo-lhe que é uma fotocópia...". a conversa termina com a promessa de que o nome assinado na fotocópia me há-de telefonar para resolvermos o problema. dentro de muito pouco tempo liga-me a terceira pessoa da santíssima trindade: "mandei a fotocópia porque o original não estava bonito."/"não estava bonito? mas o que é que isso quer dizer?"/"estava todo riscado e depois eu apaguei com corrector, ficou feio por isso pensei que era melhor mandar a fotocópia..."/ "olhe eu nem sei o que é que lhe hei-de dizer... então mas não sabia que o adse não aceita fotocópias de documentos?"/ "não, não sabia, foi com boa intenção, achei que fazia bem mas se não fiz peço desculpa. errar erramos todos." pois erramos. o meu foi ter recorrido ao hospital da luz saúde espírito santo.

4.7.07

linhagem

uma descobre bolor no pesto. outra descobre bolor na manteiga. a terceira (que caminha ao lado das outras duas) descobre pesto no bolor da manteiga.

obrigada at

tenho agora esperança de deixar de ter insónias. neste estudo prova-se que quem estiver com sono e não quiser adormecer não se deve coibir de bocejar. ora, se a melhor maneira para continuar acordada é bocejar, então travar os bocejos, que não páro de dar nas noites de insónia, há-de ser o remédio para me pôr a dormir.

3.7.07

novos referendinhos deprimentes

correio da manhã
Justifica-se (no emprego) apoiar mais os seniores do que os jovens?
jornal de notícias
O Aeroporto de Sá Carneiro deve ter, como reclama a Junta
Metropolitana do Porto,uma estação de TGV?
público
O orçamento de Estado deve deixar de financiar a ADSE?

público apelo

o pobre e mal agradecido, "pede" hoje que não o forcem a escolher entre os seus instintos europeístas e os seus instintos democráticos. para saber qual das alternativas é que ele escolherá, caso a isso seja obrigado, há que ler o seu texto (muito bom como sempre).

east meets west

no pavilhão "nuvem fragrante", a leste do lago "tranquilidade celestial", escrevo poemas, ao estilo do venerável lu bing, para celebrar
. os sabores de um gaspacho e de umas bochechas de porco com migas de espargos, saboreados na festa dos 123 anos de um casal amigo.
. a extraordinária capacidade de acordar para a vida (até os mortos) dos tocá rufar
. a fertilidade do silêncio demorado de uma casa vazia de pessoas e limpa de pó - a minha.
. os prazeres prometidos mas ainda desconhecidos pela "obrigação" de preparar o programa e o syllabus para uma nova cadeira.
. a fantasia de que posso vir a apaixonar-me por uma nova cidade situada numa nova região de um velho país.

ser-se picado ou trucidado?

por diferentes razões não gosto nada de abelhas. também não sou uma fã incondicional da ue. daí ter ficado horrorizada com a comparação da ue a um enxame de abelhas, feita recentemente por sócrates. ainda o abelhudo zumbido zunia nos meus ouvidos, já ouvia, esta madrugada, de um ouvinte (da rr, pois então) uma outra ameaçadora comparação: a ue é como um combóio, viajando veloz mas sem destino certo e que, por onde passa, atrela a si uma outra carruagem.

2.7.07

camisetas

de tempos a tempos recebo este comentário: "Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais." da primeira vez fiquei muito entusiasmada e anunciei logo a várias pessoas que havia uma pessoa, neste whole wide world, um fabricante de camisetas personalidas, que me lia e me gostava. logo uma delas, muito mais experiente do que eu, se apressou a desiludir-me "isso é um vírus de certeza, nem penses em entrar na página". como sou medrosa não entrei mas não fiquei nada convencida de que um vírus pudesse revestir a forma de uma camiseta personalizada. à chegada do segundo comentário, exactamente igual ao anterior, passei a ter eu própria algumas suspeitas. agora, em que já recebi mais de meia dúzia destas camisetas, nada personalizadas, já não me restam ilusões, este blog não fez um amigo apanhou uma virose.

tudo depende

tenho muita dificuldade em responder a perguntas de alternativa. é uma incapacidade pessoal que, segundo os meus filhos, lhes lixou a vida em crianças. frustrava-os que eu respondesse sempre “depende” quando me perguntavam se achava melhor ser-se assim ou assado, fazer isto ou aquilo, estar aqui ou ali, ter isto ou aquilo. com o seu progressivo acesso à maturidade, fui deixando de ser confrontada como este problema a ponto de ter chegado a acreditar que a obrigação de viver pela lógica do sim ou não era um pesadelo (do) passado. estava enganada. recentemente, as perguntas de alternativa voltaram a impor-se no meu dia a dia. e de forma mais perversa já que, sendo feitas por adultos, e visando a resolução prática de importantes questões sociais, políticas e morais, obrigam à escolha efectiva de uma alternativa em detrimento de outra. sem me deixar equacionar as 203 outras que, imagino, poderia imaginar. não me refiro tanto à estúpida moda dos referendos já que esses apenas nos caem em cime de forma pontual. são mais as “votações” de tipo referendário, que diariamente passaram a ser feitas aos leitores dos jornais locais sobre todos os grandes problemas nacionais. sei que não sou legalmente obrigada a votar nelas, nem sequer a responder-lhe, nem mesmo sequer a formar uma opinião própria. mas é como se fosse dada a devastadora conjugação entre a fúria dos media em recolher as opiniões da população e o entusiástico empenho desta em pronunciar-se sobre tudo o que lhe é perguntado. hoje, por exemplo, somos chamados a emitir opinião sobre nada menos do que seis importantes questões sociais. o diário digital quer a gente diga se apoia ou não “a OPA lançada por Berardo sobre o Benfica”; a visão referenda o referendo ao exigir-nos que digamos se “deve haver um referendo nacional para aprovar o próximo tratado europeu”; o público visa mais baixo forçando-nos a dizer se concordamos “com a exoneração da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho”; o diário de noticias, sobe um pouco e pretende que digamos “Onde deverá ser construído o Novo Aeroporto de Lisboa, na Ota se em Alcochete”; o jornal de notícias impõe-nos que ponderemos sobre se devemos ou não ser autorizados a recusar tratamentos que nos prolonguem a vida; o correio da manhã vai ao cúmulo de nos perguntar se “os juízes devem ser responsabilizados pelo atraso das sentenças”. cansado pelo esforço de pensar sobre matérias que o ultrapassam ou culpabilizado por ter respondido ao calhas, é decerto com alívio que o leitor, ao clicar no expresso, encontra no fatídico canto dos referendos, um inofensiva passatempo de "cultura geral". para responder à pergunta, de escolha múltipla (qual é destes nomes próprios - Franz, Christian, Soren e Helmut - o de kierkegaard) basta-lhe fazer, descontraidamente, uma espécie de educated guess ou, ir directamente procurar a resposta a uma qualquer enciclopédia. tudo depende da sua disposição no momento...

1.7.07

adição

via arrastão fui parar a um site onde, entre outros quizzes, encontrei um para medir o grau de dependência dos blogs por parte de quem lè e/ou escreve (n)os ditos. feito o teste fiquei a saber que a minha dependência é da ordem dos 72%. no entanto, como desconheço os valores gerais de referência, i.e., algo do género do par de números (máximo e mínimo), geralmente inscritos no lado direito dos resultados das análises, e cuja comparação, com os valores do lado esquerdo (as nossas medidas), nos permite decidir se voltamos ao médico ou não, continuo sem saber se estou doente, e, em caso afirmativo, qual a sua gravidade.

72%How Addicted to Blogging Are You?

Mingle2 - Online Dating

diálogo

duas mulheres desconhecidas, que o acaso sentou no mesmo banco, num autocarro de turismo a caminho de bangalore. uma mete conversa com a outra:
A. eu sou psiquiatra e você?
B. eu sou maníaco-depressiva.