4 years ago
6.3.10
auto-retrato
não sou o género de pessoa que acha que a sua vida daria um romance mas não me custa muito imaginar que o meu blog pudesse dar uma vida.
fez-se tarde
foram de água salgada as fontes fundadoras e povoadoras
da minha infância longe do rio. só
descobri a água doce quando a sua virtude emoliente já nada podia contra a
aspereza dos cristais de sal entretanto entrados e entranhados na minha pele – uma crosta espessa protectora.
5.3.10
segunda ode ao iphone
o iphone cumpre a função do cigarro
e, em certos casos, da própria pastilha elástica.
à noite, serve de biberon,
de boneco de peluche, ou de fralda madurinha;
faz as vezes de valium
ou de mãe.
o seu uso substitui o anel no dedo,
as chaves no bolso,
e o caracol na testa ou atrás da orelha.
os portadores de iphone perdem todos os tiques
- o iphone é O tic.
e, em certos casos, da própria pastilha elástica.
à noite, serve de biberon,
de boneco de peluche, ou de fralda madurinha;
faz as vezes de valium
ou de mãe.
o seu uso substitui o anel no dedo,
as chaves no bolso,
e o caracol na testa ou atrás da orelha.
os portadores de iphone perdem todos os tiques
- o iphone é O tic.
serões na província
- queres brincar aos pais e às mães?
- pode ser...
- então eu sou a minha avó e tu és a tua mãe.
- isso é brincar aos primos...
4.3.10
para mostrar à teresa sff
passei esta tarde pela fábrica de pneus, onde o pai do pipo trabalha como operário, e tirei esta fotografia para mostrar aos amigos do rapazinho (que vive numa quinta, com os pais e com um burro, chamado cravinho, e uma velha carripana, chamada joana...)
3.3.10
queer theory
não ando nada mal comigo própria. durante o dia conversamos por tudo e por nada; há momentos em que nos rimos uma com a outra e uma da outra; por vezes até nos trocamos: eu faço de "outra" e outra faz de "eu". no grande silêncio da noite, o fogo aceso na sala, sento-me calada no sofá azul-desbotado a fazer companhia a mim própria.
recordações da casa da vela
só se revive o que se vive, o que (se) viv-eu. embora haja de haver mais do que uma razão para de tantas vidas vividas não viver eu mais do que duas ou três.
quando sou a avó algarvia, deixo o pão endurecer na caixa de madeira e faço uma açorda para comer com uma xícara de café. ou serão papas de milho?
vol-ao-vento era para a praia. grandes alcofas, forradas a guardanapos de linho, todos os dias, depois do meio dia, desciam até nós nos braços de duas criadas, uma sempre maria benta, outra de nome mais incerto.
cá de cima, assentada no meu trono de palha - cujo forro de lona às riscas coloridas me protege o inchaço das pernas - desinteressa-me a refeição lá em baixo. só vejo o azul que me cega, a única consciência é a do ruído dos ralos.
serei desejada, princesa solteira ou rainha viúva, na meia laranja, os trambolhos dos meus pés - que agora revives como pés em chinesa de tempo antigo e de alta condição? ou será a real conta da farmácia o que realmente conta? asnos como eu havia de ter de-terminado.
porque não sobe a maribenta para me trazer o meu polícia? aborrecem-me as pernas deformadas mais do que a inutilidade do coração...
- a madrinha deve ter-se esquecido do seu rosário no oratório...
- deixa estar filha, deixa estar que agora não tenho onde o guardar... então não vês que a maribenta não há meio de voltar da praia para me trazer o policia?!
- mas a madrinha quer que eu meta o rosário lá dentro?
- não filha, deixa estar...
- mas basta a madrinha dizer onde está o polícia...
- oh filha não me aborreças agora com isso que mais do que as contas do rosário são as da farmácia que eu não dou conta...
- a madrinha desculpe então a minha insistência.
impertinência, filha, impertinência.
quando sou a avó algarvia, deixo o pão endurecer na caixa de madeira e faço uma açorda para comer com uma xícara de café. ou serão papas de milho?
vol-ao-vento era para a praia. grandes alcofas, forradas a guardanapos de linho, todos os dias, depois do meio dia, desciam até nós nos braços de duas criadas, uma sempre maria benta, outra de nome mais incerto.
cá de cima, assentada no meu trono de palha - cujo forro de lona às riscas coloridas me protege o inchaço das pernas - desinteressa-me a refeição lá em baixo. só vejo o azul que me cega, a única consciência é a do ruído dos ralos.
serei desejada, princesa solteira ou rainha viúva, na meia laranja, os trambolhos dos meus pés - que agora revives como pés em chinesa de tempo antigo e de alta condição? ou será a real conta da farmácia o que realmente conta? asnos como eu havia de ter de-terminado.
porque não sobe a maribenta para me trazer o meu polícia? aborrecem-me as pernas deformadas mais do que a inutilidade do coração...
- a madrinha deve ter-se esquecido do seu rosário no oratório...
- deixa estar filha, deixa estar que agora não tenho onde o guardar... então não vês que a maribenta não há meio de voltar da praia para me trazer o policia?!
- mas a madrinha quer que eu meta o rosário lá dentro?
- não filha, deixa estar...
- mas basta a madrinha dizer onde está o polícia...
- oh filha não me aborreças agora com isso que mais do que as contas do rosário são as da farmácia que eu não dou conta...
- a madrinha desculpe então a minha insistência.
impertinência, filha, impertinência.
três do três
- visita do carpinteiro de limpos
- lendo sobre o que distingue a third wave do pós feminismo
- aplicando silicone nas caixas das persianas para proibir o vento
- pecado original como "intuição antiga" (espécie de defeito genético?)
- sinestias: saborear a luz, observar o som, escutar a cor . o cinzento
- soar em eco
2.3.10
sincronia
eis o que está a ser dito à minha amiga ucraniana: não és inquilina em portugal, olga, és co-proprietária.
acronia
não espanta ouvir dizer que a música é a mais sensual de todas as artes, aquela que mais directamente engaja as nossas emoções. o eros da música fluindo e evoluindo, movendo-se, evolvendo-se, devolvendo-se, envolve-se connosco numa relação física, imediata e directa. diferentemente das outras artes, a música não é um objecto - como a aguarela ou o edifício; a música não é um sequer um som ou uma configuração de sons; a música é-me sempre uma experiência no corpo, venha ela por deliberação ou por acaso.
a visita do superego
queria agradecer, publicamente, ao superego pelo vagar da sua visitação, ali na casa de seu pae, onde a ocupação tanto a desacompanha no atravancamento da memória: todos os dias do verão flechas certeiras a pique no terraço, as noites perfumadas, arco de veludo muito tenso - poemas de arco em flecha, ou seria poesia? os mosquitos, o altifalante das touradas - "hoje há carne de porco, ou seja porca", até a joy se lembra mais do que eu, e de que parte do cérebro vem o sr. henriques afinal adamado com uma dama naturalmente... eu tinha essa noção sabes mas era então tão miúda, os sentimentos não passavam de cheiros e pressentimentos. só agora tenho a certeza tanto quanto. mas desculpa o desvio associativo, SE, que o que eu te venho dizer, por intermédio deste poste, afinal desviado menos do que era devido, depois mando fotografia, era do seu prazer quotidiano na tua submissão, era no fundoassiná-la como quem se reconhece, e apetece tua amante e tua escrava.
28.2.10
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