13.10.08

toysare (not what they used to be)

não me lembro se já em criança detestava brinquedos. a verdade é que não os tinha - o império do brinquedo (ou da criança) ainda estava longe - para além de umas três ou quatro bonecas que os meus pais me tinham trazido de sevilha. livros também eram poucos e jogos nenhuns. em contrapartida, a grande gaveta da cómodoa urbana, na sala da casa de são joão, estava cheia de recortes de revistas da minha mãe: homens, mulheres, crianças com os quais tinha recreado famílias, escolas, hospitais, tudo o que a imaginação me permitia.
lembro-me de dar alguns brinquedos aos meus filhos: um combóio comprado em ayamonte a um, uma boneca com sardas a outra, e nada à terceira por lhe ter comprado muita coisa. a grande maioria eram brinquedos comprados em "ferros velhos" (feira da ladra e saraiva de carvalho sobretudo). no entanto e apenas no caso dos mais velhos, tendo em atenção os presentes recebidos de amigos e parentes, a gaveta de uma cómoda já não chegava. daí que eu já tivesse alguma experiência do que é o monte de sucata em que se transformam os brinquedos quando colocados à toa, muitos desmontados, partidos ou mutilados, nos quartos das crianças. mas em minha casa houve sempre um quintal, onde havia uma nespereira - da qual todos cairam pelo menos uma vez - um cão, um gato, muitas rãs, cadáveres de pássaros que caiam dos ninhos, além, naturalmente dos paus e pedras de todos os tamanhos e feitios.
com os meus netos a situação tornou-se, aos meus olhos, verdadeiramente obscena: o quintal desapareceu, ou não é usado como tal, e às crianças foram impingidos brinquedos coloridos, higiénicos, seguros e apropriados às idades (!). na categoria dos brinquedos passou a entrar o livro infantil (não é por acaso que eles são arrumados nos quartos delas). os brinquedos já não se amontoam num um monte de tralha, agora são agora usados para "decorar" os quartos das crianças onde invadem todo o espaço útil (e indispensável para se respirar/pensar): enchem as prateleiras que cobrem as paredes e os sacos verticais que pendem tecto; atravancam o chão e as mesas; e tudo destila o ar tóxico do dinheiro e do consumo e das marcas - toysareus, imaginarium, etc., nomes das lojas onde mais detesto entrar.
hoje é o dia de anos de um dos meus netos, por acaso o único que facilmente se confunde com o meu filho (o pai dele) na mesma idade. filho a quem comprei, no dia em que ele fez os 3 anos que este faz, no mercado de faro, um boneco de madeira destes com rodas que mexem à medida que a criança o puxa ou empurra; e que o entusiasmou de tal maneira que ele foi do mercado até casa a pedir-me para olhar o que se passava atrás de nós repetindo "olhi! olhi!", palavra que até hoje ficou a designar esse tipo de brinquedos.
há semanas que busco em vão um brinquedo que eu gostasse de lhe dar e que ele gostasse de receber. teria adorado dar-lhe um olhi-olhi mas os únicos que conheço são dos brinquedos de madeira a imitar antigos que também me irritam. nos poucos ferros velhos que resistem, de novo a rua do salitre e ainda a saraiva de carvalho, nada encontrei.
assim, vou agora partir em demanda de um brinquedo (!) no toysareus (!!!) que acabo de saber fica situado no colombo (!!!!!).