12.8.07

um belo par de chávenas

numa ida à letónia, com passagem pelo reino unido, transportei, com grande sofrimento físico e psíquico, numa grande caixa de papelão, primorosamente embrulhada, duas coloridas chávenas de café, de design modernaço por pintor português de que desgosto. um presente português para uma família letã, o par de chávenas tinha sobrado de um conjunto de quatro que me tinha sido oferecido uns anos atrás. já em riga, apresso-me a levar o embrulho para a sala pronta para o oferecer à dona da casa. qual não é a minha consternação quando, já sentada no sofá, descubro as chávenas que tenho nas mãos dentro do armário-vitrine mesmo ao meu lado esquerdo. passado o sobressalto inicial, acabei a respirar de alivio por não ter entregue o presente antes de me sentar. nessa noite resolveu-se o mistério quando a r. se lembrou de que há muitos anos atrás, já tínhamos oferecido, à mesma família letã, o mesmo par de chávenas portuguesas. o que não se resolveu, nem nessa noite nem nas noites posteriores da nossa estadia em riga, foi o destino a dar às chávenas. por um lado tinha pena de as deitar fora, por outro não me atrevia a fazê-lo com medo que algum membro da família as encontrasse no lixo. acabei por partir para o aeroporto carregada com o presente mas disposta a oferecê-lo a alguém. comecei por tentar a pessoa do check-in que as recusou alegando ser-lhe proibido receber presentes. abordei depois a senhora que me revistou que, ou mal entendeu o meu intento ou estava mal-disposta nesse dia. quando já estava mesmo a embarcar para o avião, avistei, por trás do balcão de uma agência de viagens, umas raparigas simpáticas. a medo inquiri se falavam inglês, depois atrevi-me a perguntar se gostariam de ter uma recordação de portugal e, finalmente, já mais afoita, disse que tinha muito prazer em lhes oferecer umas chávenas de café coloridas e modernas, que, por motivos alheios à minha vontade, não tinha podido entregar ao destinatário. isto enquanto abria o embrulho e as fazia espreitar para dentro da caixa. como por milagre, elas aceitaram, espantadas mas encantadas, o que nos permitiu a nós embarcar apressadas mas aliviadas.