numa casa com uma dúzia de divisões, das quais 5 são quartos de cama e em mais outras duas há sofás-cama, dormirmos quatro pessoas no mesmo quarto, das quais três, na mesma cama (apenas de casal, nem sequer king size) é absurdo demais mas é verdade. este estado de coisas resultou de vários factores, um dos quais - oriundo do facto de, das duas camas baixas (o perigo das quedas!) existentes, uma não contar por estar numa cave longe do meu quarto (não ouvir os choros ou outros pedidos nocturnos!) - tem solução: trazer a cama da cave para cima. no entanto, a preguiça e a falta de ajuda braçal têm-me vindo a adiar a resolução do problema.
hoje de manhã, ao acordar encharcada (sabe-se como as fraldas têm o comportamento imprevisível dos preservativos...), ganhei coragem para a implementar. como acontece por vezes quando estamos perante a perspectiva de uma vitória pessoal, senti forças para reunir o pessoal menor para uma reunião durante a qual dei algumas ordens para o dia: cada um tinha de arrumar a sua roupa, separando a suja da limpa, dobrando-a e metendo-a em sítios diferentes; todos tinham de deixar as tartarugas descansar, durante todo o dia, para lhes permitir recomporem-se dos cuidados intensivos (alimentação, higiene, exercício físico e convívio) que lhes têm oferecidos de há dois dias a esta parte); tinham de sair de casa e cansarem-se, pelo menos duas horas, no jardim do bairro (o que também me permitia separar a louça suja da limpa, lavar a primeira e arrumar a segunda); tinham de dormir em camas próprios num quarto a inventar (excepto o bebé que continuaria na sua própria cama no meu quarto); finalmente 'tinham' todos de comer pizza ao almoço, excepto, naturalmente a t., condenado à sua eterna sopa com um conduto qualquer migado lá para dentro (engano meu já depois de jantada se atirou-se às 'pis' como uma leoa). vieram as perguntas: mas em que quartos, em que camas? e a minha resposta: como hoje vem o sr. b. com um amigo, instalar uma nova mangueira para substituir a actual, já apenas usada como rega por aspersão ( a qual, por já não dar para encher o tanque das tutus, leva ao uso indiscriminado do regador - ora, tratando-se de um exemplar único, ele dá origem a graves desacatos no quintal, para além da criação de um estado permanente de humidade no corpo dos desordeiros) vamos fazer mudanças. ora, toda a gente com casa sabe como uma casa é, funciona como, um sistema: basta mudar um banco na cozinha para ser preciso inverter a posição do sofá da sala, o que, por sua vez, deixa de fora uma mesa, mesa essa que é preciso voltar a fazer inserir no sistema, o que, por sua vez cria novo desiquilíbrio a que se terá de atender, etc.). eu também sei mas sentindo-me capaz de mudar o mundo achei que tudo se resolveria .
faltava pouco para as cinco da tarde quando a c., o f. e a t. (na sua cadeirinha) partiram para o jardim com a m. passava pouco das cinco tarde quando chegaram o sr. b. com a mulher (em vez do amigo), uma senhora de 60 anos, adorável (a quem a t., talvez por isso, trata por 'menina'). embora contrariada por vir a menina em vez do senhor (com ela a trabalhar eu não me poderia baldar ao trabalho...), animou-me a perspectiva de ir mudar a vida familiar para melhor, dentro e fora de casa. a cama mais alta, onde dormia a m., foi desmanchada e montada no meu quarto mas, sem eu reparar, a mulher do sr. b. apressou-se a fazê-la com a mesma roupa que a tinha encontrado. o mesmo aconteceu com a minha cama, agora destinada à m., que, mal foi montada, apareceu logo feita com a minha roupa. não mandei desmanchar e refazer com o embaraço que me tolhe perante o trabalho dos outros. mas, a partir daqui tudo começou a correr para o torto. o sr. b. não trazia a tão desejada mangueira pos não tinha percebido que se tratava de uma questão urgente; o amigo não tinha podido vir com ele, pelo que só trouxera a menina, o que impedia o transporte da cama da cave para cima. só que, não tendo sido previamente avisada das alteraqções ao programa, eu tinha já a casa devidamente desmanchada para facilitar o trabalho. e foi nesse estado que eles a deixaram prometendo voltar na terça-feira.
foi portanto numa casa assistemática, para usar um eufemismo - os três quartos disponíveis, o meu, o da m. e um terceiro que tinha sido reservado às sobras (na esmagadora maioria carrinhos de bebé - singles e doubles, andarilhos - ocidentais e chineses, coloridas caixas, supostamente práticas por terem rodas, com bocados de brinquedos estragados e/ou desadequados às idades dos supostos utentes), uma cozinha em caos já que eu, para fingir que ajudava a menina nos transportes, acabei por não tratar da loiça, que as três desembarcaram vindos do jardim, cheios de fome para jantar. comecei por os por no tanque do quintal, enquanto tentava inventar um jantar, mas nada bateu certo com nada: a t., que deveria adormecer a seguir aos seus dois sucessivos jantares (o dela e o nosso) se calhar mal disposta do estômago por ter comido tanto não pregou olho senão já depois da meia-noite. o f., que tinha lanchado pouco, e que que portanto deveria jantar bem (e para o qual eu lhe fizera um gaspacho), tombou a dormir, de cuecas e meias, num sofá, do qual não voltou a sair senão em braços pouco antes da meia-noite.
pouco depois da meia-noite dei um banho quente de imersão à t., para ver se ela acalmava (e também para eu me poder lavar, coisa que não conseguia fazer há dois dias), o que resultou. trataou-se então de saber, entre os adultos, quem dormia em que cama, ou melhor em que lencóis - se a maria na minha nova cama com os lençóis dela, se eu, na dela, a aminha antiga, com os seus lençóis. optámos por tgrocar de quarto para náo termos de desmanchar e voltar a fazer as camas. já com tudo recolhido e a dormir, arrasto-me até à 'minha' casa de banho (que faz parte integrante do meu quarto onde dormia a m.). já com pasta de dentes na escova, debruço-me sobre o lavatório para começar a limpeza. lá dentro, tombados uns sobre os outros, nas suas vestimentas bizarras (um até tinha barbatanas nos pés), jaziam os cinco homúnculos do f. (com os quais ele encena quixotescas batalhas quando está a tomar banho mas que, quando ele joga no computador, a t., - que, mais uma vez veio sem sequer uma bonequita pequena para ter na mão - adopta como seus 'fis' aos quais dá de comer e passeia, no quintal na sua própria cadeirinha). completamente derrotada encetei a operação inclinada sobre o bidé. mas doeiam-me as costas e, sem saber como, senti de repente uma vontade imensa de não me deixar abater e de, pura e simplesmente, cuspir alarvamente para cima dos homúnculos que ocupavam o meu lavatório (de onde só sairam 24 horas depois). estava eu a bochechar, algo triunfante em cima das cinco criaturas, entra a c. em cena, na casa de banho implorando: 'oh avó, imploro-lhe que me deixe dormir consigo'. apesar de vir ensonada não pode ter deixado de ver os homúnculos esbranquiçados de parta de dentes e eu, ferozmente cuspinod-lhes para cima. mas foi como se nada se tivesse visto. a única coisa que a interessava era dormir comigo. sem capacidade para rir ou chorar, perguntei à m., que a escoltava, se se importava de voltarmos a trocar de quarto (e de cama, naturalmente pois aquela em que me ia deitar era a dela, alta e de pessoa só, sendo que aquela em que ela se tinha deitado era a minha, baixa e de casal). não se importava pelo fizemos a nova mudança. mudança que, de resto, teve a vantagem de nos pôr a dormir nos nossos próprios lençóis (embora eu tivesse preferido dormir nos dela pois me lembrava quão apressada tinha sido a lavagem feita aos meus logo pela manhã...
4 years ago