7.9.07

dia dois

1. embora as idades destes 3 anjinhos, somadas entre si, só perfaçam 15 anos (uma média portanto de 5 por boca), eles comem todos como se fossem adolescentes. o que implica uma produção diária de lixo já de tipo industrial. nada adequada, portanto, aos meus delicados saquinhos de lixo doméstico. um dos meus sacos de lixo, de tamanho 'normal', estreado às 8 da manhã, abarrota à hora do almoço. deste modo, acabaram-se hoje todos os sacos coloridos (cores do eco ponto) e perfumados, pelos quais tinha pago uma fortuna, no sr. rodrigues. fui forçada trazer para a cozinha o caixote das folhas do quintal reciclando-o para uso doméstico. as fraldas (de dois rabos) e as cascas das bananas (que a c. engole regularmente, durante o dia inteiro, a pretexto de estar, segundo ela, mal dos intestinos) constituem o grosso da produção. logo a seguir aparecem as embalagens dos iogurtes que, neste caso, correspondem ao consumo de 6 adolescentes já que, por cada iogurte comido há um iogurte entornado no chão, sobretudo em cima do tapete do cairo (em cuja textura tudo o que se entranha não volta a sair). com as embalagens do leite, o terceiro grande ingrediente da produção de lixo, a situação é parecida já que a cada biberon efectivamente bebido corresponde um efectivamente recusado (geralmente o da 1 da manhã). para além, naturalmente do leite entornado pelos mais velhos - ou porque enchem demais o copo ou porque o enchem de menos e ele desaparece por completo no micro-ondas.
2. neste segundo dia da viagem, a mais velha também quis vir trabalhar comigo (e com a mais piquenina que nunca quer ficar em casa). prudentemente dei-lhes o pequeno almoço em terra (bananas a uma e biberon à outra) e vim ainda munida de quatro iogurtes de modo a evitar novo banho de gordura, na alsaciana, aquando da minha bica da manhã. a sesta da t. decorreu hoje como ontem: estirada em duas cadeiras, colocadas junto à parede e à beira da janela para, enquanto dormia, ir respirando o perfume das flores do jardim e refrescando o corpo com a brisa filtrada pela folhagem das árvores. tão confortável o ninho que tive de a acordar, já passava da uma da tarde para a entregar à m. que tinha ficado com instruções para descer até ao rato (com o rato, pois está claro...). u
3. uma vez a sós fomos então almoçar o peixe cozido com arroz encomendado aquando da bica. para grande indignação da c. (a quem o mal intestinal em nada diminuiu o apetite), que repetia baixinho para mim 'mas eu como tudo avó', consegui que o sr. luís que fizesse dabao com uma das postas ("outra chega muito bem para as duas"). para além das perguntas sucessivas sobre a hora de chegada da comida e da eterna questão da água (para poupar dinheiro peço copos de água em vez de garrafas e, como se sabe, os empregados de mesa tendem a esquecer-se dos primeiros em prol da encomenda dos segundos), desta vez radical já que 'eles' não trouxeram nenhum copo de água pelo que a criança foi foi forçada a engolir metade de uma enorme posta de pargo, duas batatas, dois montes de arroz e metade de uma cenoura cozida completamente a seco) o almoço foi pacífico e como tal sem história.
3. voltei ao gabinete esperançada em poder trabalhar uma vez que a c. costuma gostar dos jogos da disney (ou pelo menos bulha com o irmão por causa dos jogos da disney). não foi desta vez assim. internet nem vê-la, queria dormir porque estava com sono. 'quantas cadeiras é que usou para fazer a cama da t.?'/'duas'/'então quantas é que acha que é preciso para mim?'/'talvez umas três'. depois de muito lidar com as cadeiras de cá para lá, chegam 3 não, preciso de mais uma, volta tudo à primitiva, lá se conseguiu anichar num corredor comprido e estreito criado entre a parede (a mesma a que a irmã se encostara de manhã) e os altos espaldares de três cadeiras em fila indiana. não sei se chegou a fechar os olhos, a verdade é que os soluços (que tinham começado logo a seguir ao almoço) eram tantos e tamanhos que acabou por se levantar para vir soluçar sentada mesmo ao meu lado. com a proximidade dos soluços, sempre mais ruidosos, o meu estrece começou a subir tendo aumentado substancialmente quando recebi uma chamada do f. , para o telemóvel (potencializado pelo comentário apropriado mas envenenado da c. 'com ele assim a telefonar tantas vezes para o telemóvel , a avó vai gastar imenso dinheiro' ) quer por ser, de facto do fixo de casa para o telemóvel, quer por ter de lhe dizer que ele não pode usar o carregador do meu mac, o que quer dizer que não pode jogar jogos da internet quando a irmã, com eles à disposição, os rejeita como se fosse de propósito.
4. depois de ter conseguido, finalmente, pôr a minha companheira a fazer qualquer coisa no computador, recomecei a tentar trabalhar. mas, a regularidade dos soluços (com cerca de 15 segundos de intervalo) e o seu volume crescente impediam-me de qualquer concentração. numa política de não falar no assunto para não chamar a atenção para ele, e assim ver se ela se esquecia de que estava com soluços, limitei-me a passar-lhe a garrafa da água dizendo-lhe para beber uns golos. 'mas porquê?/'para não nos desidratarmos com este calor de ananases'. não deu qualquer resultado, os soluços continuaram e pioraram. aumentando proporcionalmente o meu estrece já de si elevado. continuei, no entanto, a fingir que trabalhava e que por nada dava. até que a certa altura oiço uma voz clara e limpa, comentando num tom absolutamente neutro: 'oh avó estou com soluços.' não sei o que respondi, talvez nada, só sei que de repente vi o mundo todo encarnado, como se tivesse acabado de cometer um crime e o sangue da vítima tivesse esguichado para dentro dos meus olhos assassinos.