13.9.07

"cama" como medida de tempo

duas camas marcam a minha vida: uma de casal e outra de pessoa e meia. a de casal foi a cama dos meus pais (!). a de pessoa e meia foi a cama da minha avó (divorciada poucos anos depois de casada)tendo sido dela que a herdei. foi a cama da minha infância, adolescência e, até, depois de casada, durante alguns anos.
com a morte da minha mãe, o meu pai passou a ser uma pessoa só enquanto que eu, com o casamento me tinha "transformado" em duas. optámos naturalmente pela troca. o meu pai permaneceu o resto da vida na que tinha sido a cama da mãe dele e que em minha casa é a 'cama do avô'.
eu, ao trocar de marido, também troquei de cama. e desse modo, a cama do casal dos meus pais ficou primeiro desmanchada na cave e depois montada no único quarto sem dono da casa.
com a morte do meu pai herdei pela segunda vez a cama de pessoa e meia que, como a cama de casal, passou a estar ora montada ora desmontada sem eu jamais ter o desejo, ou a coragem, para habitar qualquer uma delas.
até que, em parte por razões exteriores mas, noutra parte (maior), por razões interiores, me apeteceu recuperar para a minha vida as camas da minha vida. escolhi a de pessoa e meia porque: não fazendo agora parte de nenhum casal, não preciso de uma cama larga; estando a minha filha em idade de acasalamento, não lhe dá jeito uma cama estreita; gosto da ideia da 'pessoa e meia' que acho adequada à minha pessoa - não 'casal' mas também não 'pessoa só'. a cama de embutidos renasceu no meu quarto e a cama preta no quarto da r.
tenho dormido muito bem desde que, através da cama, encontrei e ocupei o meu lugar no tempo. o que é dizer, na ordem das gerações.