13.5.07

er sheng san

o que une os milhares de pessoas hoje reunidas em fátima é (um)a mãe. por essa figura maternal fizeram mais ou menos longas viagens, percorreram mais ou menos penosos caminhos. é à mãe que pedem, ou agradecem, algo importante nas suas vidas. não é, claramente, o pai. Pai cuja natureza divina torna susceptível de ser presentificado. desde que, naturalmente, personifiado por representante e em local apropriados. poder-se-á argumentar que em fátima se trata tanto da mãe como do pai já que ela só é 'nossa' mãe por ter sido mãe 'dele'. mas isso leva a um beco sem saída: como pode a nossa mãe ser também a mãe do nosso pai? mais, sendo a (nossa) mãe também filha do (nosso) pai, como pode tê-lo concebido e parido? poder-se-ia ainda recorrer ao argumento que ela é mãe de Cristo (que é filho e não pai) e não de deus (que é só pai). só que cristo é deus, logo pai dos humanos, entre os quais da virgem maria. por perpassa o fascínio do cristianismo, a religião que se cruza com a história ao fazer homem o deus. ora, e regressando a fátima, exactamente, a virgem-mãe não é deus(a). a sua virgindade, ainda que dogma de fé, não lhe confere qualquer natureza divina. ela masceu do coito entre humanos, com um corpo preparado para conceber e parir outros humanos: equipado com ovários e útero, menstruava todos os meses e, no pós parto, fabricava o leite necessário à vida do seu humano filho. só assim, de resto, tem sentido a ideia do deus que pertence simultanemamente ao tempo da eternidade e ao tempo da história. a questão que hoje coloco (o dois produz o três) só aparentemente vem no seguimento da do post de ontem (o um produz o dois). aqui trata-se de saber qual das duas identidades da virgem-mãe(co)move os peregrinos em fátima. a mim parece-me claro que é o seu lado maternal e não o virginal. é por a virgem-mãe ser mãe que se lhe reconhecem os dotes de doçura, piedade, intuição e astúcia, tidos como eficazes para intervir, a favor dos filhos, junto (da autoridade d)o pai. não é por ela ser virgem que é sentida como estando mais perto dos humanos, mais acessível aos seus pedidos, é por ser mãe. a concordar-se com o que acima se diz, importa então pensar, a respeito do 13 de Maio, em fátima, sobre a necessidade de haver um intermediário na relação pai/filho; e também, sobre o facto da intermediação se fazer sobretudo, neste como noutros planos, através da figura da mãe. teremos um deficit ou um superavit? e de qual dos progenitores?