12.5.07

yi sheng er

para quem tanto defendeu (e felizmente constatou, ao parir) a inexistência das "dores" de parto, não deixa de ser surpreendente vir a sofrê-las, muitos anos depois. nada parece existir para aliviar a dor provocada por estes partos tardios e intermitentes, para os quais, aparentemente, não existe qualquer preparação prévia realmente eficaz. prolongados no tempo, eles não podem ser induzidos. de natureza emocional, nenhuma epidural lhes adormece o sofrimento. ao contrário dos primeiros, que produzem "objectos", os segundos "produzem" sujeitos. ou, dito de outra maneira, durante os últimos partos da nossa vida, transformamos ilusóros objectos em sujeitos reais. os quais depois teremos, necessariamente, de voltar a transformar em reais objectos interiores, voltando a metê-los dentro de nós. só aparentemente é que se trata de um movimento circular - com efeito, o objecto externalizado (no parto sem dor) não é o mesmo (a não ser no bilhete de identidade) que o sujeito interiozado(no parto com dor). do ponto de vista do que está a ser parido, trata-se de interiorizar (um)a mãe, isto é, de se ir transformando na sua própria mãe. do ponto de vista da parideira, trata-se de externalizar (um)a filha, isto é, de se ir transformando na sua própria filha. é neste sentido que me apetece agradecer o conselho telefonado do mv "não tenhas medo de ter pena de ti própria". capaz de me comover (comecei logo a chorar) e de me esclarecer (começo agora a (d)escrever).