17.5.07

風柜來的人

é mais uma vez a humanidade do 'humano', tanto no sentido de ren (人) como de ren (仁) - ainda que, como é o caso, ela apareça como algo difícil de expressar, em palavras e/ou gestos - que nos comove neste filme de hou. também nos comove a atenciosa ternura com que são 'filmadas' as relações entre as pessoas, a mesma com que são 'filmadas' as relações entre as coisas. uma coisa (东西), não sendo de resto, na cultura das línguas han, uma 'coisa' mas uma relação. as pessoas, identificadas no título do filme pela sua origem geográfica (风柜), são os seus protagonistas principais. no entanto, hou não se cansa de nos mostrar como eles, sobretudo na cidade, são também secundárias, exactamente como as pessoas 'reais' entre as quais se movimentam. com efeito, as pessoas do filme são-nos mostradas quase permanentemente atrás, ou misturadas, entre as pessoas do mundo. ou, escondidas atrás dos combóios, autocarros, motos que as transportam. as suas vozes individuais são frequentemente caladas pela voz colectiva da cidade (das pessoas e das coisas). pelo que é possível dizer que neste filme as personagens secundárias são igualmente personagens principais. a história do rapaz termina (quando começa a história do homem em que ele se está a tornar) com uma cena na qual ele se destaca, claramente, da multidão: visualmente, pela altura do corpo (de pé empoleirado num banco, (a)parece mais alto do que os outros); sonoramente, pela altura da voz (o seu repetido pregão sobrepõe-se ao ruído da cidade). mas é só um momento (ainda que simbólico de uma tomada de poder de si). todos sabemos que em breve e, exactamente para fazer a sua vida, ele terá de reentrar na indiferenciada corrente humana que não pára de correr em Kaoshiung como em qualquer outra cidade do mundo.