9.6.07

when the saints go marching in...

fico sempre sem saber o que fazer quando alguém espirra ao meu lado. sobretudo com aqueles que nunca deixam de saudar qualquer espirro meu com um sonoro "santinho". sinto-me patética quando me forço a responder "santinho", pedante sempre que tento inglesar com um "god bless you", mal-educada se não digo nada. geralmente tento ser criativa saudando o espirro alheio com um "está constipada?", ou "quer que feche a janela?", por vezes "isso está mau..." ou ainda "então com alergias?". uma vez experimentei um "deus te abençoe" que me fez corar a mim e empalidecer o meu interlocutor.
acontece que paredes meias com o meu gabinete de trabalho trabalha há algum tempo um jovem fundamentalista dos "santos". como tenho rinite alérgica comecei por ser a vítima priveligiada para a sua militância. no entanto, com a passagem dos dias desenvolvi uma capacidade (que, modéstia à parte, reputo de extraordinária) que é a de não espirrar por mais doida que seja a comichão no nariz.
ontem, o tipo de meia-idade que trabalha no mesmo gabinete do miúdo, e a quem ele trata por "chefe", estava constipado. o seu espirro inaugural foi saudado por um vigoroso "santinho" (que atravessou a porta como se ela estivesse aberta). seguiu-se-lhe um segundo espirro e um segundo santinho, um terceiro e um quarto e um quinto e um sexto, todos imediatamednte seguidos pelos santos respectivos. a certa altura como aquilo não parava, comecei a ficar muito ansiosa. por um lado não conseguia fazer mais nada senão permanecer masoquisticamente à espera do próximo espirro e da respectiva saudação. por outro, sabendo que em crises de alergia se podem espirrar dezenas senão de centenas de vezes, temia pela vida do miúdo, magricelas, alto e desengonçado, que já via desfeito sob a raiva cega do sujeito de meia idade, tipo corpulento e na chamada força da idade. até que não aguentei mais a tensão e saí do gabinete para ir tomar um café. voltei cerca de vinte minutos depois, com o coração agitado pela perspectiva do que poderia ir encontrar e pelo remorso de preferir a eliminição do extremista rather do que o prosseguimento da sessão de tortura. afinal estava tudo silencioso e ordenado. não havia manchas de sangue e o tipo de meia idade já não espirrava. mas o miúdo tinha desaparecido da sua secretária. fui almoçar e quandovoltei a situação era a mesma. o miúdo ausente, o "chefe" presente. nunca mais espirrou até às 7 da tarde. mas o miúdo também não voltou a aparecer.
ainda não sei o que vou fazer na segunda-feira de manhã se, por acaso, o miúdo continuar desaparecido. mas só tenho duas alternativas: ou confrontar o "chefe" bem de caras ou telefonar à sucapa para a polícia.