30.8.07

memória restaurativa: a festa de despedida

os convidados regressaram na manhã seguinte, uns mais cedo, outros nas chamadas horas decentes. a maioria chegou receosa, cara séria e voz grave, mostrando perplexidade, senão mesmo medo, pelo (inevitável) ambiente festivo de qualquer casa aberta a uma manhã de sol e mar, ao vinho e à música. aberta à amizade. alguns poucos, que já vinham à espera do que iam encontrar, entraram natural e tranquilamente na sala e no quarto. aceitaram e ofereceram vinho, ouviram e puseram música, aproximaram-se e tocaram, com gestos diferentes, as duas almas residentes. entre os outros, houve os que permaneceram sempre defendidos da força das almas residentes, escondendo-se entre si; e houve os que aceitaram e se abriram e partilharam a sua alma. o que, ao reforçar a alma da casa, pode explicar o facto de, nove anos depois, a sua força continuar inalterada. mais para o fim da manhã, como previsto, apareceu o oficiante contratado a quem tinha sido pedido para dar o mote à reunião geral, antes da saída de casa. tarefa que ele cumpriu honestamente sem suspeitar que o segredo, isto é, a religação promovida pela sua presença, era da ordem do pensamento mágico tendo a ver apenas com o nome da sua paróquia. cá fora, no largo poeirento, quando o cortejo automóvel iniciou a sua marcha - era o dia 30 de agosto, passava do meio dia e o sol, a pique, fazia o mar faiscar - não havia um traço da feira que todos os dias o polui: todas as barracas de venda, quiosques de jornais, cafés de águas e gelados, estavam fechados, os produtos recolhidos, os alti-falantes desligados.