11.7.07

o sonho do 'eu'

'os meus sonhos nunca me traem' disse uma vez o j. uma frase decerto ainda na memória das 8 pessoas a quem foi dita. actualmente não sei se sim ou se não, acho mais que não pois parece que os sonhos também sáo censurados, mas não interessa para o caso, que aqui se trata de a retirar do contexto dele para a resignificar no meu. então, e voltando à vaca fria dos últimos dias, pergunto-te hoje se: já reparaste como em todos os nossos sonhos o sonhador é sempre a personagem principal mesmo, ou sobretudo, quando desempenha um papel secundário? se já notaste como apenas sonhamos com os nossos problemas mesmo, ou sobretudo quando, sonhamos com problemas dos outros? a dormir, um bad hair day é apenas isso, ou melhor, é tudo - o mundo torna-se inabitável só porque o meu cabelo está num mau dia. no estado de vigília posso fingir, ou, mais terrível ainda, acreditar eu própria, que o meu bad hair pesa menos no meu day, do que, say, a mutilação genital feminina. no sonho, ou no pesadelo que faço (para dizer à chinesa, língua que parece responsbiliza os falantes por aquilo que sonham) há-de sempre aparecer um indício revelador da maior significância do insignificante, do maior tamanho do que é mínimo, em suma, da primazia do individual sobre o social. isso mesmo aparece no sonho dos sonhos: seja o zhuangzi ou a borboleta a 'fazer' o sonho, o sonhador, ao sonhar que é um outro está apenas a sonhar-se a si próprio, a sonhar consigo próprio.