
um filme sobre o tempo. as duas personagens centrais viajam da província de shanxi (local do seu nascimento e do nascimento da 'velha' civilização chinesa) para sanxia (local do seu (re)nascimento e do (re)nascimento da 'nova' civilização chinesa). a sua viagem no espaço é, simultaneamente, uma viagem no tempo: ao passado (já perdido tanto para as pessoas como para a cultura) e ao futuro (ainda por conquistar pelo indivíduo e pela sociedade). como se para avançar fosse sempre preciso recuar. a vida não sendo senão um processo de continuação e transformação.
um filme sobre a realidade. as formas e a cor dos corpos masculinos (semi-despidos), a espessura e o peso dos prédios urbanos (semi-esventrados), a textura da névoa nas montanhas, a fluidez das águas do rio, são realidades físicas concretas que ocupam espaço(s). espaços separados mas interligados: de modo perene – a solidez da ponte de pedra que liga as duas margens do rio; de forma efémera – a fragilidade do arame através do qual o acrobata junta os telhados de dois prédios. a pintura conhecida por shanshui (montanha-água), omnipresente como cenário e invocada pontualmente, como objecto (na nota de 10 yuan), é usada subvertendo a tradição: parece ser usada para nos fazer ver a insignificância da natureza (as montanhas e as águas) perante o homem: a sua monumental capacidade de trabalhar e de sonhar, ou, noutras palavras, de transformar o mundo e de se transformar a si, num processo de interacção e recriação mútua a que chamamos vida.
um filme a não perder.