12.1.11

à dúzia

é ainda o ciclo dos doze: ramos terrestres, animais, tribos de israel, meses do ano, discípulos, horas am e pm, etc. o doze é a completude, a dúzia.
não admira portanto que o número 'doze' aponte para o entendimento maior e para a grande sabedoria - ele é o número do conhecimento adquirido através da experiência da vida, aquele que nos permite a calma no seio da turbulência.
é o 'doze' que marca o fim da infância, logo, como diria la palisse, o começo da fase de maioridade. já chegou a altura, já se está à altura.
negativamente, o doze pode ligar-se à depressão provocada pelo sentimento de resignação com o curso dos acontecimentos.

perdidos e achados

não tenho sido capaz, nos últimos tempos, de encontrar, no vulgar, a glória. dia após dia, cada dia por viver me tem aparecido como se fosse um dia já vivido - a manhã cedo a saber a fim de tarde, a tarde cansada e gasta como uma noite mal dormida, as noites cegas por um branco de néon (felizmente as lâmpadas económicas lançaram já uma nova gama, redentora, de luz amarela), que ao quotidiano remove todo mistério e sedução.
até hoje.

31.12.10

anos e anos

vivo o último dia do ano que está para partir como gostaria de viver os dias do ano que está para chegar. tão importante quanto o celebrado dia de ano novo é, para mim, o (meu) dia de ano velho. neste dia da anual transição, gosto de pensar nas pessoas nas quais quero continuar a pensar para o ano; gosto de ver os amigos que quero continuar a ver, de fazer as pequenas coisas com que gosto de fazer a grande coisa que é vida de cada qual; gosto de ler, ou de ouvir, ou de vestir,  aquilo que quero continuar a ler, ouvir e vestir no ano seguinte.
não sou dos entusiasmados que à meia noite batem panelas para correr com o ano velho assim festejando a chegada do ano novo; pertenço ao grupo dos melancólicos que se despedem, com lágrimas e suspiros, do ano que termina. independentemente do que nele se passou, eu envolvo-me, e muito, com o ano que estou a viver - não quero, de um dia para o outro, ficar inteiramente sem ele.
é por isso tudo que gosto de olhar para a passagem de ano mais como uma lenta transformação - de um ano noutro - do que como uma súbita mudança - de um ano velho por um ano novo.

29.12.10

o anjo da história



A Klee painting named Angelus Novus shows an angel looking as though he is about to move away from something he is fixedly contemplating. His eyes are staring, his mouth is open, his wings are spread. This is how one pictures the angel of history. His face is turned toward the past. Where we perceive a chain of events, he sees one single catastrophe which keeps piling wreckage upon wreckage and hurls it in front of his feet. The angel would like to stay, awaken the dead, and make whole what has been smashed. But a storm is blowing from Paradise; it has got caught in his wings with such violence that the angel can no longer close them. The storm irresistibly propels him into the future to which his back is turned, while the pile of debris before him grows skyward. This storm is what we call progress.

Walter Benjamin



27.12.10

cosmopolita

é toda a pessoa cuja lealdade primeira vai para o mundo inteiro (e não para a região, ou para o país, onde por mero acaso lhe aconteceu nascer)

23.12.10

do olhar o mundo

abro os olhos abro-os muito largos. os olhos cada vez mais largos lagos largo-os húmidos e frescos como de uma chuva que sabe a orvalho. são já os olhos que se abrem só por si alastrando líquidos pela cara que me molham os cabelos. transbordam para o mundo sempre mais abertos o mundo lhes transbordando para dentro - olhos ao verem e mundo por serem vistos.

17.12.10

sunless


L 'éloignement des pays répare en quelque sorte la trop grande proximité des temps.
Jean Racine, Bajazet


Because I know that time is always time
And place is always and only place
And what is actual is actual only for one time
And only for one place.
T. S. Eliot, "Ash-Wednesday"

11.12.10

neste fim de semana que,

por razões invulgares, começou na sexta-feira, leio os diários íntimos do Baudelaire. de onde agora copio, aqui, letra a letra, algumas frases (textos sem os contextos, escolhidos por muitas e desvairadas razões)
le visage humain, que ’Ovide croyait façonné pour refléter les astres
(le) sommeil, aventure sinistre de tous les soirs
Sa poésie représente les heures heureuses.
je ne conçois guère (...) un type de Beauté où il n’y ait pas du Malheur
Je laisserai ces pages, parce que je veux dater ma colère. Tristesse
La femme est naturelle, c'est-à-dire abominable
Aussi est-elle toujours vulgaire, c'est-à-dire le contraire du Dandy
la création ne serait-elle pas la chute de Dieu?
Étude de la grande Maladie de l'horreur du Domicile
C'est par le loisir que j'ai, en partie, grandi

facebook

is softly killing glória do vulgar.
the truth is that fb is so much more gloriously vulgar than gloria itself.