3.8.09

(vi)ver

nos dias em que faço a cama sinto uma tal satisfação por ver o quarto arrumado que à noite, sem coragem para desfazer o arranjo, fico a dormir no sofá da sala.
a mesma filosofia na horta: deixei secar o único morango que nasceu este ano no único morangueiro do quintal para não estragar o que me parecia ser uma imagem da mais delicada perfeição vegetal.
também me acontece fazer comida, distribui-la por caixas de plástico, arrumá-las criteriosamente no frigorífico e depois ficar tão fascinada com a imagem das suas prateleiras impecavelmente arrumadas e coloridas, que acabo a comer sanduíches para não destruir o equilíbrio alcançado.
a mesma atitude museológica me atacou quando depois de arrumar os sapatos nas caixas de design limpo e rigoroso compradas na ikea, passei a andar quase sempre de chinelos.
ou hoje, dia em que comecei a comer com as colheres, garfos e facas desirmanadas (da cozinha) depois de ter procedido à separação, organização e classificação dos talheres "melhores" consoante o seu "faqueiro" de origem e a função a que se destinam.