26.2.08

contraste

du fu (712–770 ) e bai juyi (772–846) discordam sobre o que permanece e aquilo que desaparece. para o primeiro, é o natural que prevalece sobre o cultural enquanto que para o segundo é o cultural que tem a primazia sobre o natural.
杜甫 começa o seu curto poema 春望 com esta impessoal e lacónica sentença: "国破山河在"; 白居易 acaba a sua longa canção 长恨歌 com uma frase mais longa e pessoal "天 地久有时尽, 此恨绵绵无绝期".
admito que a acepção de 'cultura' não seja a mesma nos dois poemas chineses: aquilo que ameaça desaparecer, em du fu, é de ordem social (a sociedade politicamente organizada); já em bai juyi, o que ameaça permanecer, é da ordem individual (o sofrimento humanamente inescapável).
é claro que em du fu quem fala somos nós todos, o povo sem voz (os populares como nos costuma chamar a tv portuguesa) enquanto que em bai juyi a voz que fala é, nada mais nada menos, do que a da pessoa do imperador.
como não é por acaso que 杜甫 nos aparece ligado ao confucionismo e 白居易 à teoria e prática budistas.