1.1.08

comentário a um comentário não comentado

foram muitos os mal-entendidos provocados pelo post 'asas' no qual pretendi fazer uma graça, aliás bastante imbecil, misturando os imaginários das expressões "água pelas barbas" e "asas para voar" com a palavra "rebarbativa" aplicada ao comportamento de uma das minhas filhas.
co-movida pelo comentário da 'manhã clara', enviei-o por email às minhas duas filhas perguntando-lhes qual delas se identificava com a miúda mínima e descalça com os pés no riacho. ambas me responderam completamente ao lado como se não tivessem percebido a minha pergunta. o que me levou a insistir, obtendo como resposta da filha propriamente referida, uma recusa liminar do incidente (da memória de tempos felizes?). não houve datas nem factos que a co-movessem a ver-se representada naquela imagem de felicidade.
depois foi a comentadora que protestou por eu não lhe ter comentado o comentário e me confessou o medo qe tinha sentido pela eventualidade de eu o ter achado piegas a mais ou sofisticado a menos, e outras 'simpatias' do género, para a gloriosa vulgaridade do meu blog. ao que eu respondi, muito genuinamente, que não tinha visto comentário algum a esse post mas que iria investigar.
agora sou eu que me pergunto a mim própria, sem conseguir encontrar resposta que não me pareça vir ao lado da pergunta, como é que consegui apagar tão radicalmente da minha memória um comentário que tanto me tinha feito pensar e recordar. sim porque quando respondi à mc que não tinha visto nada não tinha de facto visto nada. como é que se perde o rasto ao que se viu ou reviviu? se não for exactamente pelas mesmas razões daquela minha filha que não se conseguiu ver reflectida nas águas do ribeiro do penedo a rir ao lado da sua mãe?

p.s. sem saber muito bem porquê esta conversa fez-me lembrar um antigo poeminha chinês muito do meu agrado que diz assim (tanto com tão pouco):
quando
a água do canglang vai limpa posso lavar (as fitas d)o chapéu,
quando
a água do canglang vai suja posso lavar os pés.
para os oficiais do mesmo ofício, eis o original:
滄浪之水清兮,可以濯我纓,
滄浪之水濁兮,可以濯我足。