o banho nupcial: na narrativa do real ela lava cuidadosamente os pés, a parte do corpo que ele vai abraçar (usar para fumar e adormecer abraçado a)/na narrativa musical ele lava o corpo todo que ela (não) vai abraçar.
a nuvem no céu: a mesma nuvem branca, pintada no azul do tecto, por sobre a cama onde dormem, em separado, os dois apaixonados marca o sono de ambos. só que o dela é regido por eros (sonho erótico) o dele por thanatos (o branco do tecido com que ele se cobre, antes de adormecer, é a cor do luto nesta parte do mundo).
o útero mental: os dois apaixonados engravidam-se um ao outro metendo coisas redondas debaixo das t-shirts respectivas: ela a melancia, ele a cabeça dela.
o parto: a rapariga taiwanesa consegue expelir a melancia, a rapariga japonesa não consegue expelir a tampa da garrafa.
a vida: a planta recupera com a água, a actriz porno morre pela água (regada sucessivamente pelo esperma, pela água suja que finge o suor do corpo, pela saliva da rapariga que em vão a tenta fazer voltar a si).
a voz: começa por entoar uma doce cantilena, no elevador, passa a gemer, na cena final, até acabar a gritar ficamos sem saber se de prazer ou de horror.
a política: mao zedong na narrativa do real, chiang kai-shek na do musical.
o sangue: filme marcado pelos diferentes fluidos que escorrem do corpo ou para o corpo, nota-se a ausência do sangue. ou melhor, sente-se a sua presença sob a forma da aguadilha vermelha que escorre das melancias.
a melancia: símbolo de liberdade e vida para uma que a lava e oferece a beber, é emblema da sujeição para a outra que assepticamente a transporta (fardada de enfermeira) para a cena na qual é forçada a comê-la.
4 years ago