17.6.07

da praça de espanha à estrela

lisboa é por certo a única capital 'nacional', no mundo inteiro, na qual um nativo pode percorrer, durante 35 minutos, três das principais avenidas do centro da cidade e duas das suas praças mais centrais, num fim de tarde de domingo, sem chuva nem vento, o tempo nem quente nem frio (isto é, perfeito), cruzando-se com menos de uma dúzia de outros nativos: uma senhora, acabada de sair de um taxi, que metia a chave na porta de casa, e uma família de 3 membros a descarregar o que parecia ser bagagem de fim de semana, da mala de um automóvel para uma entrada de serviço, na antónio augusto de aguiar; um casal a passear um cão, na fontes pereira de melo; 3 adolescentes, na rua brancaamp; e dois senhores na álvares cabral, um, concentrado a varrer o seu bocado de passeio e outro, de aspecto desvairado, a descer o passeio numa velha bicicleta. o número de esplanadas, restaurantes, cafés, pastelarias, tascas, casas de pasto, cafetarias, tabernas ou bares, abertos, ao longo do percurso, era proporcional ao número dos transeuntes nativos: além do mcdonalds da rodrigo sampaio e da pizza hut da alvares cabral, apenas uma heróica pastelaria, a "estrela de ouro", tinha a porta entreaberta (já que o dono varria o seu bocadinho de passeio). não fosse a presença, um pouco por todo o percurso, dos novos lisboetas, oriundos de muitas e variadas partes do mundo, e, mais concentradamente, em volta do marquês, dos turistas, sobretudo espanhóis, e eu não voltaria a atrever-me a sair de casa a um domingo.
PS. não se trata, como fica claro, da baixa, a única zona da de lisboa oficialmente reconhecida como desertificada, mas de uma importante parte da alta, infelizmente representativa de toda a paisagem urbana da cidade. embora admita vir a mudar de opinião, hoje não tenho qualquer dúvida de que o problema fundamental de lisboa são os lisboetas.