21.9.10

for that matter(s)

não sei se se aprende a ser pessoa antes, depois, ou ao mesmo tempo que se aprende a ser mulher. ou homem, for that matter.
não sei sequer se "pessoa" é uma noção relevante. como também não sei o que é que dela releva no ser "mulher". ou no "homem", for that matter. nem se releva: será "pessoa" uma abstracção, algo de natureza virtual condenada a realizar-se, sempre, ou como do género "mulher" ou como do género "homem"? a ser assim ainda menos saberia como pensar no terceiro género reconhecido na índia.
mas sei que há pessoas que rejeitam o conceito de "pessoa" pelo que seria a sua estreita ligação ao cristianismo; como sei que nas ciências sociais se prefere falar de "actor", "sujeito" ou "agente".
eu sou uma pessoa que gosta de "pessoa" (e de pessoas mas isso é outra história ou se calhar não porque o que me agrada em "pessoa" é o que nela ressoa de todas as outras pessoas) e a quem desgosta que nas chamadas línguas ocidentais, as línguas que lhe são maternas, todas as palavras que denotam ideias como "humano", "humanismo", "humanidade" tenham raiz em "homem". como desgostaria, for that matter, se derivassem de "mulher".
nada como as línguas chinesas nas quais esses conceitos se dizem por palavras em cuja composição não entra um sexo (nem, for that matter, um género) mas a pessoa, 人 rén; e daí a existência de termos como 人類 rénlèi, à letra categoria-pessoa, isto é “humanidade”; ou 人文主義, doutrina da cultura da pessoa, ou seja "humanismo".
estreitamente ligada a esta questão, que muitos acharão, se calhar com razão, perfeitamente bizantina, está a natureza da relação existente entre as duas identidades: igual ou diferencial? é o género que subsume a pessoa ou é a pessoa que subsume o género? e a resposta, não dependerá do género da pessoa que a dá? e, ainda mais: no par parental, qual dos membros nos ensina a ser pessoas? e esse que nos ensina a ser pessoas é a mesma pessoa que nos ensina a ser mulheres, ou, for that matter, homens?