9.1.08

netos e flores

hoje ofereci três vasos, com três flores, de três cores diferentes, a três dos meus netos. a ideia era dar-lhes alguma coisa viva e de cuja vida eles se pudessem encarregar pessoamente (excluído à partida qualquer exemplar do reino animal vetado pelos pais). apesar de ter fantasiado alguma interacção entre as crianças e as flores - as cores destas a realçar as cores dos olhos das outras, ou, porque não, a vegetal passividade moderando a actividade animal, jamais poderia imaginar um tal processo de antropoformização. os meus netos começaram por lhes "despir as gabardines" (celofone transparente em que cada vaso vinha enrolado); depois escolheram "os nomes que lhes vamos dar" (uma optou por chamar 'rosa' à sua, apesar de ela, tal como as irmãs, não terem relações de parentesco com a família das rosas); finalmente, quiseram saber os dias em que elas faziam anos (como a observação empírica só provou que uma era mais alta do que outra, cada neta escolheu uma data para a sua flor - 28 de maio e 10 de março. estabelecida a identidade civil de cada exemplar (características físicas, nome pessoal e data de nascimento), passaram à adopção afectiva - muito engagé do lado das 'mães', um pouco blasé do lado 'do pai': as primeiras embalando-as enquanto as cheiravam e acariciavam; o segundo arrastando-a pelos cabelos, entre o quarto - onde a punha a dormir, e a sala - onde queria que ela brincasse com as irmãs.
quando nos despedimos, aquela com a qual tinha combinado um lanchinho, em tête à tête, no final da semana, gritou-me do alto da escada: "eu vou avó mas levo a minha flor!".