25.7.07

auto-retrato

li, num texto, assim pró-comparativo, sobre duas fotógrafas norte-americanas (cuja conclusão parecia ser a de que, além de serem as duas do sexo feminino e de ambas se terem suicidado, nada mais havia de comum entre elas) que (e talvez fosse esse afinal um quadro comum de referência que permitisse ao autor, não me lembro quem, compará-las entre si) que tanto uma com a outra "padecia de um mal-estar anterior à realidade". um mal estar anterior à realidade? começou por me parecer uma frase estupenda e cheguei a pensar que, sendo mulher (embora não fotógrafa nem suicida), o meu mal-estar, sem nome nem origem, poderia ser, como o delas, anterior à realidade. mas, à medida que a fui repetindo, durante o resto do dia, foram-me surgindo várias dúvidas: o que é que existe antes da realidade? por este autor, o mal-estar pode existir... mas, se assim for, qual é a sua realidade? e haverá mal estares posteriores à realidade? qual é a ligação entre o mal-estar (ou o bem-estar, for that matter) e a realidade? até que, de frase inteligente ela se transformou em frase inconsistente. continuo sem saber qual era a natureza do mal-estar das duas fotógrafas mas passei a conhecer a natureza daquele de que eu padeço: não é nem anterior nem posterior à realidade, é a própria realidade.