11.7.11

a massa da vida

veio tudo ao mesmo. ou, é tudo feito da mesma massa. antes, trata-se de meter as mãos na massa.  

25.6.11

como as mais das vezes se encontra o que não se procura

consta que o padre luís fróis, ao chegar à china, no século XVI, terá exclamado, maravilhado com o que via à sua volta: eu vinha em busca do céu e afinal encontrei o paraíso!

24.6.11

the special one

esta minha amiga.
tem a mesma idade que eu mas só agora começou a comer com as mãos. o motivo por que teria encetado esta nova maneira de estar à mesa - comendo à mão e não com talheres nem com pauzinhos - prender-se-ia com o facto das suas frequentes indisposições estomacais a forçarem a comer quase sempre arroz.
eu, tendo-a visto ontem, à mesa do jantar, em sua casa, acredito que é mais uma questão estética do que dietética - desde o mês que passei na índia, há muitos anos, que não via modo tão delicado de comer,  maneira tão requintada de estar à mesa.

3.5.11

à la Zhuangzi

como durmo sempre com a telefonia acesa, tendo a confundir a realidade com o sonho. ou com o pesadelo, como hoje aconteceu: comecei o dia aliviada por apenas ter sonhado que as pensões de aposentação, superiores a 600 € mensais, iam ser reduzidas; acabo-o transtornada por já ter realizado que as pensões de aposentação, superiores a 600 euros mensais, vão ser reduzidas.

parlamento mental

na minha cabeça não existe apenas uma outra pessoa, como acontecia na cabeça do tipo que disse, uma vez, esta bela frase: there is someone in my head but it is not me. na minha cabeça existem muitas dezenas de pessoas, sujeitos que, por terem valores e personalidades muito diferentes entre si, e também por viverem confinados num espaço tão pequeno e fechado como é uma cabeça humana, estão sempre a discutir uns com os outros. situação que só não é alarmante porque  as pessoas que estão na minha cabeça souberam, em devido tempo, organizar-se em partidos políticos com eles formando um parlamento no qual ficaram representadas todas as tendências ideológicas, da extrema esquerda à extrema direita,* e a cujos debatos eu assisto, ora divertida ora comovida, raramente surpreendida pois os deputados eleitos pensam menos pela sua própria cabeça do que pela cabeça da sua formação partidária.

existe mesmo um deputado eleito por um partido de estrema direita, pró fascista, cujas propostas a favor da liquidação sumária dos inimigos, ou pelo encerramento dos órgãos de informação que o vilipendiam,  até a mim, que nada tenho a ver com ele, me fazem corar de vergonha. 

30.3.11

verei

o que me dizem as cartas.

sei, no entanto que o que as cartas dizem não diz nada se eu não disser o que lá está dito. o que só acontecerá se conseguir situar-me inteiramente no presente, impedindo a memória, sempre tão viva, de se intrometer.

este é um pequeno trabalho para o tempo de grande crise: dizer(-me agora) o que (então lhe-)disse. dizer o que disse. tarefa simultaneamente impossível e inevitável. assim é a língua que, ao dizermo-nos, nos diz.

parece

um teste ao meu agnosticismo.

ontem

cozinho. a cozinha.
velo. a vela.
gosto. o gosto.
40's, 50's, 60's e 70's.
e uma disse que se lá por se ser velho não se deixa de ser novo.
o que as outras três, talvez todas, sentiam ou pressentiam ser verdade. a verdade, o que é dizer os afectos, sendo, mesmo tempo, a raiz e a flor das suas conversas. jogo. o jogo.
só por acaso eram quatro. o número dado era o  três que, como se sabe é produzido pelo dois. o terceiro sexo como paisagem lembras-te?

28.3.11

a crise

era uma pessoa muito poupada. aproveitava todos os restos dos dias para cozinhar o seu dia a dia. aos dias, propriamente ditos, guardava-os ao abrigo da luz, para os usar em ocasiões especiais como o casamento de um neto ou o funeral de uma amiga.

o gargalo da garrafa

não é silêncio, é gaguez, não é preto e branco, é desbotado,  não é invisível, é sem dimensão, não é generosidade, é falta de vontade, não é contemplação, é cegueira, não é repouso, é paralisia, não é sabedoria, é sensaboria. é não é?