17.10.10

rememorando

pouco ou nada ficou. apenas vejo a senhora dona maria amélia e, naturalmente, a prima do colar de pérolas.
nunca mais te venho visitar. vem uma pessoa de tão longe, para xabregas, ou chelas, passa viaduto e ponte por baixo e por cima, engana-se nas rotundas e depois nem te dignas a abrir os olhos ou a apertar a mão aí encerrada nesse mundinho donde não sais nem deixas entrar.
tocam os instrumentos à tua volta, a única telefonia por perto, e reassinas como se fosse de madrugada. apitam as campainhas dos teus companheiros à roda e mexes um pé. digo- te que estavas muito mais bonita que a estúpida da h. no casamento da r., que eras a maIs bonita no casamento da c. e chamo vaidosa, além de alluneuse.
falo-te no l. e no passeio nocturno de barco (sem saber que alguém iria falar no mesmo assunto e em público mas em segredo - abençoada) de que só eu já tenho a chave (afinal não era verdade) e nem mesmo isso te convence a sair para fora não da cama mas do coma em que te foste meter.
será este um capricho final? não sei como a c. neta ainda não carregou contigo para os comatosos anónimos. talvez no acanhado apartamento sub-urbano as rezas e as reuniões te projectassem para fora da irritação.
igualmente me lembro de me teres gozado por o meu amigo ser de muitos salalecos mas nem oito nem oitenta, uma ausência completa de salamaleque também não é próprio de uma senhora.

16.10.10

upgrade

- não, não é um falhado é apenas (um) infeliz! disse ela.
apesar de ser evidente o crescimento da ideia, tida e mantida pela psicologia pop, de que cada um de nós consegue construir a sua própria felicidade, ainda é possível, a muitos dos nossos infelizes, viverem em paz com a sua infelicidade, sem terem de se sentir responsáveis por ela.
a natural constatação de que não se tem, ou não se teve, sorte na vida - nos filhos que se gerou, nos empregos que se obteve, nos casamentos que se fizeram - ainda permite a qualquer infeliz gozar a sua infelicidade sem ter de pagar, por ela, a imensa e horrível dívida da culpa.
talvez não por muito mais tempo, though. já que a figura do falhado tende a substituir a figura do infeliz. e, subjacente à figura do falhado está a ideia de que cada qual é responsável, o único responsável, pelo seu próprio sucesso na vida -  seja lá isso o que for e seja isso aferido a que nível da vida o for (a profissão, a família, a sociedade). ao domínio, impiedoso, de essa tão almejada "agência" ninguém pode escapar: um falhado, qualquer falhado, falha sempre por falha própria, não há como dar-lhe a volta. o azar, a doença, o destino, até o mero acaso, podem justificar a infelicidade do infeliz mas nenhumas dessas atenuantes pode remir, aos olhos do falhado, o seu próprio falhanço.*
assusta-me, confesso, a facilidade com que, hoje em dia, os que dantes eram tidos e se (man)tinham a si próprios como uns meros infelizes, são agora tomados, e se tomam a eles próprios, como uns verdadeiros  falhados.

* embora e talvez, paradoxalmente, a sorte, ao contrário do azar, seja mais facilmente usada para justificar o sucesso do que a felicidade.   

9.10.10

como uma criança

j'aime regarder fixement les choses até elas se tornarem vagas e indeterminadas a ponto de se confundirem umas com as outras.

5.10.10

uma vez aprisionada,


a minha grande ave
parece ter-se transformado
num pequeno réptil
com penas de madeira
colorida

2.10.10

picnic

desapareceram os caminhos, sob a erva.

30.9.10

cumprimento

... tá tão engraçado isso, as calças de ganga com o casaco de vidrilhos... ça j' adore!

29.9.10

dúvida

não tenho muitas vezes a certeza sobre a verdadeira autoria dos "meus" desejos e ambições.

28.9.10

net happiness



  2 
BelgiumBrussels, Brussels Hoofdstedelij...1,084 
  3 
United StatesVirginia Beach, Virginia3,560 
  4 
Unknown
  5 
PortugalLisboa23*
  6 
Unknown
  7 
United States4,545 
  8 
AustraliaCringila, New South Wales11,305 
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 10 
PortugalLisboa23*
 11 
PortugalGondomar, Porto189 
 12 
United StatesMountain View, California5,662 
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Unknown
 18 
SwitzerlandZrich, Zurich1,093 
 19 
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PortugalLisboa23*
 21 
PortugalLisbon, Lisboa23*
 22 
FranceParis, Ile-de-France924 
 23 
PortugalLisboa


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chuva de coral


e não é que parece mesmo que sempre
chove coral no meu tão modesto jardim?

26.9.10

antes do inverno

há-de chegar cá a casa um grande pássaro cujas penas, de diferentes madeiras coloridas, imagino já a flutuar levemente sobre a minha cabeça. no exacto lugar da ventoinha.